1. De um momento para o outro, passámos da iminência de um segundo resgate para a certeza de que em Maio a chamada Tróica vai embora. De repente, a escuridão transformou-se em claridade, mas ninguém consegue discernir a causa da repentina alteração.
Na verdade, até há poucos dias, o alarme era total e as ameaças que punham em perigo o chamado «sucesso» do programa de «assistência» assinado por Sócrates, PSD e CDS eram mais do que muitas, e à cabeça de todas as ameaças estavam os eventuais «chumbos» do Tribunal Constitucional. Segundo o discurso mil vezes repetido das nossas «elites», tudo dependeria das decisões deste tribunal. Ora o Tribunal Constitucional já enviou para trás a chamada «convergência» das reformas entre o sistema público e o sistema privado e ainda não foi chamado a pronunciar-se sobre o corte nos vencimentos dos funcionários públicos. Das duas principais medidas consideradas pelo governo como irreprováveis, uma já ficou pelo caminho e a outra ainda não sabemos o que lhe acontecerá. Pergunta-se, por conseguinte: com que fundamento se operou tão lesta e radical ruptura com o discurso da desgraça e do risco do segundo resgate?
O que se passa é que o pano da grotesca encenação desabou, ainda que os seus autores e actores se mantenham imperturbáveis, quer na fácies quer na palavra, pois a política do engano está no ADN destes protagonistas. O pudor, a responsabilidade e a seriedade não são, infelizmente, qualidades conhecidas dos actuais responsáveis políticos. Na sua linguagem e nos seus actos, tudo vale.
2. As garrafas de espumante e o fogo de artifício já foram encomendados. A «festa» está a ser devidamente preparada para o dia 17 de Maio, dia da suposta «partida» da Tróica. Nesse dia não haverá lugar nem para o decoro político nem para o decoro ético. Com uma desfaçatez pornográfica Passos Coelho e Paulo Portas irão celebrar o «fim» do dito «protectorado» e o sucesso do «programa». O caudal do auto-elogio será incontrolável e o do cinismo também.
Nesse dia, muitos portugueses ouvirão, incrédulos, esses discursos. E entre eles estarão as crianças e os jovens que passaram a comer nas cantinas escolares a sua única refeição diária; estarão os milhares de desempregados oficiais mais os milhares de desempregados oficiosos; estarão os pensionistas, vítimas de extorsão violenta e continuada; estarão os funcionários públicos, vítimas de usurpação recorrente; estarão os trabalhadores que viram os seus salários diminuir e as horas de trabalho aumentar; estarão os que procuram o primeiro emprego há anos; estarão os que tiveram de emigrar para sobreviver; e estarão todos os que foram despojados dos seus bens e passaram a conhecer o que é a fome e a miséria.
Cinicamente, Coelho e Portas também tecerão elogios aos portugueses, precisamente as vítimas do seu massacre ideológico.
3. Há dias, Pires de Lima, ministro da Economia deste governo, disse que Paulo Portas seria um bom candidato a Presidente da República. Depois de termos tido Santana Lopes como primeiro-ministro, falta, de facto, termos Portas como primeira figura da República. Para Pires de Lima, o modelar seria certamente termos ambos, em simultâneo.
Quando olhamos para a política que nos domina, lamentavelmente não vemos nem réstia de competência nem réstia de decência.
Cinicamente, Coelho e Portas também tecerão elogios aos portugueses, precisamente as vítimas do seu massacre ideológico.
3. Há dias, Pires de Lima, ministro da Economia deste governo, disse que Paulo Portas seria um bom candidato a Presidente da República. Depois de termos tido Santana Lopes como primeiro-ministro, falta, de facto, termos Portas como primeira figura da República. Para Pires de Lima, o modelar seria certamente termos ambos, em simultâneo.
Quando olhamos para a política que nos domina, lamentavelmente não vemos nem réstia de competência nem réstia de decência.