sábado, 4 de janeiro de 2014

Poemas

ÉS ÉS

Quando, abrindo a porta do quarto
vi o meu assassino,
conversando, sentado na cadeira conchiforme,
deslizando, em mudo alarme,
pelas paredes inundadas de luz eléctrica —
como tive piedade dele! lembrava-se, ainda,
ele, de quem matou? e, aceitando-lhe a mão,
sentei-me à mesa e

               quetalohvamosindo
               hávinteanosissoprecisamente
               quantascoisasjámasestamosemforma
               apesardosanosemisériasnãopoucos
               apesardaanginadopeitoedaprótese

e e
conversa
e, no disco, riscar de água,
e café e sanduíche e bebida
e cigarros e alguns charutos
e sofá e catre e enxergão
e turbilhão de neve e macieiras dobradas
e fogo florestal e rio transbordando
e meia-noite passada e a palavra já se extingue
e a companhia deixa cair o copo
encostando-se aos restos dos muros da noite —
para que o mundo sobre eles se não despenhe!

Zelk Zoltán
(Trad.: Ernesto Rodrigues)