«O sistema político parece fracassar tanto quanto o sistema económico. Dado o alto nível de desemprego entre os jovens em todos o mundo — quase 45% em Espanha e 18% nos Estados Unidos —, foi talvez mais surpreendente que os movimentos de protesto tenham demorado tanto tempo a começar e não que tenham de facto começado. Os desempregados, incluindo os jovens que estudaram muito e fizeram tudo o que era suposto fazerem ("cumpriram as regras do jogo", como alguns políticos costumam dizer), enfrentavam uma escolha difícil: continuarem desempregados ou aceitarem um emprego muito abaixo das suas qualificações. Em muitos casos, nem sequer tinham escolha: simplesmente não havia trabalho, e não havia há anos.
Uma das interpretações para o longo prazo na chegada dos protestos em massa foi a de que, como consequência da crise, havia esperança na democracia, fé de que o sistema político funcionaria e de que responsabilizaria os que provocaram a crise, consertando a tempo o sistema económico. Todavia, alguns anos depois de a bolha rebentar, ficou claro que o sistema político falhara, tal como falhara em prevenir a crise, em verificar a crescente desigualdade, em proteger os mais pobres, em prevenir os abusos dos poderes económicos. [...]
O que os manifestantes querem saber é se esta democracia é uma democracia verdadeira. A verdadeira democracia é mais do que o direito ao voto a cada dois ou quatro anos. As escolhas dos cidadãos devem ter significância. Os políticos têm de ouvir as vozes dos eleitores. Mas parece que, cada vez mais [...] o sistema político é mais adepto do "um dólar [/um euro], um voto" do que do "uma pessoa, um voto". Em vez de corrigir as falhas do mercado, o sistema político reforça-as.»
Joseph E. Stiglitz, O Preço da Desigualdade, Bertrand Editora.