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A vida, meu caro é ilegível. Acontece
e desaparece. Não há inteligência
que a descodifique: vem em linguagem-nada,
surge no corpo como surge o dia, e como
se dia e vida individual fossem materiais paralelos.
A vida não surge em prosa
nem em poesia — e a existência não fala
inglês, apesar de tudo. A natureza dos acontecimentos
resiste às invasões matreiras da publicidade e
dos filmes. Já não é mau.
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Episódios fatigantes, depois de concluídos,
atraem ao organismo a mansidão prolongada.
Dormem, pois, Anish e Bloom há horas,
e os homens, quando dormem, parecem mais antigos,
como se vindos de outros séculos.
O sono, de resto, é uma tradição clássica:
foi oferecido pela Natureza para que os deuses descansem
das tropelias intelectuais e físicas dos
bípedes privilegiados. Dormem os humanos
para o céu relaxar.
Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem à Índia, Caminho.