segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Medrosos e crédulos

É terrível quando se tem a consciência de que quem exerce a função de líder (no sentido de coordenador, mobilizador, organizador) não tem capacidades para o exercício dessa função. Seja qual for o âmbito em que a constatação dessa incapacidade ocorre, as consequências são sempre más: seja num grupo pequeno, seja num grupo grande, seja numa pequena empresa, seja numa multinacional, seja num pequeno ou num grande país, seja em contexto profissional, religioso, político ou qualquer outro, a verificação de que aquele a quem foi atribuída a responsabilidade de liderar não possui as qualidades necessárias para o fazer é indutora da degradação do grupo, da empresa ou do país onde isso sucede.
Actualmente estamos a viver essa desgraça de modo particularmente claro. Hoje são certamente muitíssimo poucos aqueles que vêem em Passos Coelho um líder — mesmo de entre aqueles que concordam com os seus desastrados pensamentos. Desorientado, imaturo, mentiroso, impreparado, subserviente (junto dos poderosos) são algumas das principais características que a maioria dos portugueses atribui ao perfil político daquele a quem foi entregue a incumbência de liderar o país. 
Tomar consciência desta realidade é terrível, mas tão ou mais terrível é não saber o que fazer a partir desta consciência. E é esta situação que os portugueses vivem no momento. 
Medrosos e crédulos, por tradição, nós, portugueses, estamos à espera que o milagre surja, que o problema se resolva por si ou que venha alguém resolvê-lo por nós. Temos uma enorme dificuldades em compreender que não haverá nenhuma figura salvífica interna ou externa que queira ou possa fazer um trabalho que é o trabalho de uma comunidade, de um povo, de uma país. Vivemos num mundo mágico, em que predomina a ilusão de que há efeitos sem causas. Desejamos um efeito, mas dispensamo-nos de promover a causa que o origine.
Temos todos a plena consciência de que estamos a seguir o caminho errado, mas pouco ou nada fazemos para o interromper. Queremos abandonar o trilho do empobrecimento e da miserabilização, mas não nos comportamos de modo consentâneo com esse querer. Sabemos que é urgente mudar de liderança e de política, mas ingenuamente aguardamos pela sua auto-degradação.
Enquanto não estivermos disponíveis para agir sobre a realidade de modo a alterá-la, ela não nos fará o favor de se alterar.