sexta-feira, 15 de março de 2013

Mais pobres, mais doentes, mais ignorantes.

O governo anunciou hoje o que já se sabia: nenhum problema do país está resolvido e a situação ainda vai piorar muito: mais desemprego, mais défice, mais dívida, mais recessão, mais empobrecimento, mais miséria. Como sempre, o porta-voz foi o ministro das Finanças. Como sempre, fez este anúncio com o mesmo à-vontade com que os criminosos profissionais publicitam os seus actos: tranquilamente e sem remorso. Com o mesmo à-vontade desmentiu o primeiro-ministro, ao afirmar que a recessão é «séria e grave», apesar do seu chefe ter afirmado há dois meses que «não havia qualquer sinal de espiral recessiva». Apesar da admitida gravidade da recessão, o ministro das Finanças auto-isenta-se de responsabilidades e, inimputável e alegremente, segue o seu caminho. Nada do que se passa parece ter que ver com ele.

Entretanto, os privilegiados deste país — os funcionários públicos (em particular, os professores) — vão suportar mais 20 mil despedimentos, metade dos quais professores, que se somam aos cerca de 15 mil que este ano perderam o emprego (precisamente aqueles que detinham o privilégio de nunca poderem perder o emprego...). A destruição do Estado Social é brutal. Se somarmos estes 20 mil despedimentos anunciados aos 15 mil que ficaram sem emprego, aos 59 mil funcionários que nos últimos três anos se reformaram (a maioria empurrada para essa situação) e aos 34 mil que já meteram os papéis para se reformarem em 2013, temos um corte total de mais de 100 mil funcionários públicos, atendendo ao insignificante número de admissões. Isto quer dizer que há menos 100 mil profissionais a prestar serviço público, ou seja, a degradação da qualidade e da quantidade dos serviços públicos é objectiva e está em acelerado processo de desenvolvimento. A esta irresponsável redução do número de trabalhadores do Estado acrescenta-se a brutal redução dos seus salários (para muitos, as perdas são superiores a 25%). 
Com funcionários mal pagos e em reduzido número, o Estado Social definhará até se tornar residual e insignificante, e milhões de portugueses ficarão progressivamente mais pobres, mais doentes, mais ignorantes.
Este é o programa comum do governo e da troika. Este é o programa que nenhum deles tem legitimidade democrática para realizar.
Este governo não foi mandatado pelos portugueses para o fazer. A exigência de que a Assembleia da República tem de ser dissolvida e de que têm de ser convocadas novas eleições não pode parar de ser feita.