domingo, 6 de julho de 2008

Sem rumo, sem coerência, ao sabor das conveniências

Excerto de uma entrevista da ministra da Educação ao semanário Expresso (5/7/08):

«Pergunta: Como vai apresentar os resultados dos exames, se eles forem melhores?
Resposta: E se houver mais notas negativas? O objectivo dos exames não é comparar.»
Comentário: Em pouco mais de uma semana (já o tinha afirmado a um outro jornal), a ministra da Educação afirma que os resultados dos exames não devem ser comparados entre anos lectivos diferentes. Contudo, esta é a mesma ministra que defende que os resultados dos alunos na escola devem ser comparados entre anos lectivos diferentes e que essa comparação deve servir como elemento de avaliação do desempenho dos professores.
Sem rumo, sem coerência, a ministra da Educação sustenta posições opostas, segundo o sabor das conveniências.

«Pergunta: Mas comparou os resultados do 4.º e do 6.º ano em que a taxa de negativas passou para metade a matemática...
Resposta: Nós acreditamos que com mais trabalho os alunos recuperam. E não podemos desvalorizar o que as escolas fizeram nestes dois anos sob o risco de desacreditar o próprio processo de aprendizagem. Eu acredito que trabalhando se aprende e que o trabalho das escola dê resultados.»
Comentário: Confrontada com a objectiva e confrangedora contradição, a ministra da Educação faz de conta que essa contradição não existe, isto é, perguntada sobre alhos, responde sobre bugalhos. Isto tem um nome feio: desonestidade intelectual.
Quando não se tem rumo (para além de governar para o facilitismo e para a estatística), não se pode ter coerência, e passam a ser, apenas, as conveniências a ditar os comportamentos.

Nota: O Expresso decidiu fazer uma sessão fotográfica com a ministra da Educação. E no meio da sessão fotográfica fez umas perguntas para enfeitar as fotografias (o espaço da entrevista ocupa menos de metade do espaço das fotos!!!).
Uma das perguntas que o Expresso fez à ministra foi esta: «Como podemos ter confiança num sistema de ensino onde a quase totalidade dos professores não quer ser avaliada?». Esta pergunta revela o nível do jornalismo que é feito em Portugal, desta vez, por um jornal dito de referência. Jornalistas (neste caso, três, entre os quais o próprio director do jornal) que elaboram perguntas deste género, perguntas com pressupostos inverificáveis e insultuosos, mas que, com total irresponsabilidade, são assumidos como verdadeiros, constituem um bom exemplo da qualidade jornalística que temos. Lamentável.