Olho, já sem surpresa, para a 1ª página do Público de Sábado passado e a manchete, em letras garrafais, proclama o "milagre": média de 14 valores nos exames de Matemática A, a mais alta de todas as disciplinas. E...
- Ocorre-me a expressão que um dia o poeta José Gomes Ferreira escreveu num dos seus livros: «a mim, foi um professor de Matemática que me estragou a infância» (já passaram mais de trinta anos desde que anotei a frase, mal a li, com o seguinte comentário: "e a mim foi uma professora de Matemática que me estragou a adolescência"). Não sei mesmo se tão singela revelação não contribuiu para o meu fascínio pela poesia de José Gomes Ferreira;
- Ocorre-me, a propósito da política económica do país no período expansão marítima, que já em pleno século XVII a Casa da Indía ainda fazia a contabilidade do Império em numeração romana e por extenso, daí resultando que as contas "públicas" tinham décadas de atraso, como convinha ao alto e corrupto funcionalismo de então (nessa altura, já as companhias comerciais holandesas faziam, há muito, a contabilidade em algarismos);
- Ocorre-me que, ainda há poucos anos, se verificava uma crónica falta de professores de Matemática, situação que se ia resolvendo com o recurso a bacharéis em engenharia (na minha geração é neste nível de formação científica que se enquadra uma boa parte dos professores de Matemática dos quadros das escolas);
- Ocorre-me a expressão que um dia o poeta José Gomes Ferreira escreveu num dos seus livros: «a mim, foi um professor de Matemática que me estragou a infância» (já passaram mais de trinta anos desde que anotei a frase, mal a li, com o seguinte comentário: "e a mim foi uma professora de Matemática que me estragou a adolescência"). Não sei mesmo se tão singela revelação não contribuiu para o meu fascínio pela poesia de José Gomes Ferreira;
- Ocorre-me, a propósito da política económica do país no período expansão marítima, que já em pleno século XVII a Casa da Indía ainda fazia a contabilidade do Império em numeração romana e por extenso, daí resultando que as contas "públicas" tinham décadas de atraso, como convinha ao alto e corrupto funcionalismo de então (nessa altura, já as companhias comerciais holandesas faziam, há muito, a contabilidade em algarismos);
- Ocorre-me que, ainda há poucos anos, se verificava uma crónica falta de professores de Matemática, situação que se ia resolvendo com o recurso a bacharéis em engenharia (na minha geração é neste nível de formação científica que se enquadra uma boa parte dos professores de Matemática dos quadros das escolas);
E decido-me, antes que me ocorram lembranças piores, a imaginar um futuro risonho onde:
- Não haverá mais crianças e adolescentes em conflito com a Matemática e com alguns dos que a ensinam;
- Não haverá mais adolescentes a fazer escolhas vocacionais que garantam a "fuga à Matemática";
- As contas públicas serão um exemplo de rigor e transparência, um sério obstáculo a qualquer tipo de corrupção;
- A Sociedade Portuguesa de Matemática retrata-se publicamente, reconhece o mérito do Ministério da Educação e propõe para membros honorários a Ministra e os Secretários de Estado Pedreira e Lemos.
- As aulas de substituição(?!) passarão a ser "aulas de Matemática"... para que se junte o útil ao agradável.