A vida tem ironias terríveis. No próximo mês vamos viver uma dessas ironias.
Os 40 anos do 25 de Abril vão ter à cabeça da sua celebração oficial precisamente quem nada tem ou teve que ver com esse momento histórico. As celebrações oficiais vão ser dirigidas por quem tudo tem feito e fará para destruir o que de mais relevante foi alcançado com o movimento social e político gerado pelo golpe de Estado que pôs fim a quase meio século de ditadura e de estupidez ideológica.
Os actuais detentores do poder político e os actuais protagonistas do poder económico nada têm que os ligue ou aproxime das ideias e dos objectivos que estiveram na base da revolução operada na sociedade portuguesa após o 25 de Abril. Toda a acção das elites que actualmente dominam o país está orientada para uma finalidade prioritária: fazer retroceder até limite do possível — isto é, até onde o jogo de forças sociais e políticas o permitir — as benfeitorias económicas e sociais que a maioria da população alcançou com o derrube da ditadura.
Mas para que o grau de concretização deste objectivo seja elevado e duradoiro, as nossas elites sabem que é necessário, ao mesmo tempo, operar uma radical inversão dos valores ideológicos, políticos e éticos que têm prevalecido na nossa sociedade desde 1974. A valorização da equidade, da solidariedade, da igualdade; a valorização do Estado, enquanto expressão organizada de uma vontade colectiva; a valorização das funções públicas, enquanto serviço comprometido com o bem comum; todas estas valorizações precisam de ser vilipendiadas e diabolizadas para que em lugar delas surjam novas/velhas valorizações:
i) a valorização da desigualdade, enquanto pretensa inevitabilidade decorrente das diferenças individuais e enquanto alegada forma de premiação do mérito e de punição dos «incapazes»;
ii) a aceitação da injustiça social, enquanto pretensa inevitabilidade decorrente da vida em sociedade;
iii) a valorização do individualismo, enquanto suposta expressão suprema da liberdade;
iv) a valorização da designada «iniciativa privada», enquanto arquétipo de vida;
v) a valorização do enriquecimento, enquanto sinal de sucesso pessoal;
vi) a valorização da tecnicidade, em detrimento das artes e das humanidades;
vii) a valorização da caridade, em detrimento da co-responsabilização social.
As nossas actuais elites sabem que é necessário realizar esta inversão de valores — tarefa a que têm dedicado o seu máximo esforço — para que a política de violento retrocesso social que estão a levar a cabo possa manter-se.
E são precisamente estas elites que, com uma ironia que indigna, vão presidir às comemorações oficias dos 40 anos do 25 de Abril.
Os 40 anos do 25 de Abril vão ter à cabeça da sua celebração oficial precisamente quem nada tem ou teve que ver com esse momento histórico. As celebrações oficiais vão ser dirigidas por quem tudo tem feito e fará para destruir o que de mais relevante foi alcançado com o movimento social e político gerado pelo golpe de Estado que pôs fim a quase meio século de ditadura e de estupidez ideológica.
Os actuais detentores do poder político e os actuais protagonistas do poder económico nada têm que os ligue ou aproxime das ideias e dos objectivos que estiveram na base da revolução operada na sociedade portuguesa após o 25 de Abril. Toda a acção das elites que actualmente dominam o país está orientada para uma finalidade prioritária: fazer retroceder até limite do possível — isto é, até onde o jogo de forças sociais e políticas o permitir — as benfeitorias económicas e sociais que a maioria da população alcançou com o derrube da ditadura.
Mas para que o grau de concretização deste objectivo seja elevado e duradoiro, as nossas elites sabem que é necessário, ao mesmo tempo, operar uma radical inversão dos valores ideológicos, políticos e éticos que têm prevalecido na nossa sociedade desde 1974. A valorização da equidade, da solidariedade, da igualdade; a valorização do Estado, enquanto expressão organizada de uma vontade colectiva; a valorização das funções públicas, enquanto serviço comprometido com o bem comum; todas estas valorizações precisam de ser vilipendiadas e diabolizadas para que em lugar delas surjam novas/velhas valorizações:
i) a valorização da desigualdade, enquanto pretensa inevitabilidade decorrente das diferenças individuais e enquanto alegada forma de premiação do mérito e de punição dos «incapazes»;
ii) a aceitação da injustiça social, enquanto pretensa inevitabilidade decorrente da vida em sociedade;
iii) a valorização do individualismo, enquanto suposta expressão suprema da liberdade;
iv) a valorização da designada «iniciativa privada», enquanto arquétipo de vida;
v) a valorização do enriquecimento, enquanto sinal de sucesso pessoal;
vi) a valorização da tecnicidade, em detrimento das artes e das humanidades;
vii) a valorização da caridade, em detrimento da co-responsabilização social.
As nossas actuais elites sabem que é necessário realizar esta inversão de valores — tarefa a que têm dedicado o seu máximo esforço — para que a política de violento retrocesso social que estão a levar a cabo possa manter-se.
E são precisamente estas elites que, com uma ironia que indigna, vão presidir às comemorações oficias dos 40 anos do 25 de Abril.