O NOME REAL
Sob a sonâmbula eloquência da lua
poderia escrever um nome que começasse a ser real.
E as palavras seriam como um álcool ardente mas suave
através da luz lancinante e da cor da sombra.
Com as antenas de sangue penetrariam no branco
até que o mundo se tornasse um perfume de parque.
E ao murmúrio das águas juntar-se-iam os passos
na imóvel espessura, os longínquos uivos,
os pulsos azuis através das nuvens,
os risos ébrios entre as vinhas, o deslizar dos peixes
na fugidia veemência das imagens.
As palavras perderiam as plumas
e navegariam entre os ciprestes como barcos,
amadurecidas e recentes
como membranas ou como ilhas ou como lâmpadas.
António Ramos Rosa