1. Desde 1974, não há certamente memória de um início de ano lectivo marcado por um ambiente tão sombrio, triste e desanimador. Nuno Crato e Passos Coelho conseguiram transformar o actual ambiente escolar num ambiente ainda mais pesado do que o já pesado ambiente criado por Rodrigues, no governo de Sócrates.
A verdade é que já podemos contar oito anos de chumbo na educação, oito anos de consecutivas investidas contra a escola pública, enquanto instituição fundamental de qualquer Estado democrático, e contra as condições de trabalho dos seus principais protagonistas: alunos e professores. Chegamos a Setembro de 2013 com três sentimentos dominantes: de frustração, por parte dos alunos, que vêem as turmas a crescer e a condições de estudo a diminuir; de desânimo, por parte dos professores, que vêem a sua carreira profissional proletarizada e precarizada; e de indignação, por parte daqueles docentes que foram expulsos das escolas e empurrados para as filas dos centros de (des)emprego.
Um cenário tão lúgubre e deprimente nunca existiu na nossa Escola, desde que somos uma democracia.
2. As críticas aos recentes chumbos do Tribunal Constitucional a diplomas do governo reeditam até à náusea a discursividade politicamente desonesta e o cinismo de muitos dos seus protagonistas. Deliberadamente omitem que foi o Presidente da República quem encontrou, nesses diplomas, fundadas razões para suspeitar da sua inconstitucionalidade; despudoradamente revelam que, para eles, o Estado de Direito é um valor perene em circunstâncias convenientes mas descartável em ocasiões inconvenientes; e insolitamente confirmam-se como campeões da incompetência legislativa.
Ter como perspectiva mais dois anos deste governo é uma incongruência lógica e uma desgraça psicológica.
3. O mundo anda outra vez às voltas com a ameaça de mais uma intervenção americana num país estrangeiro, sem a cobertura de uma deliberação do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A causa imediata é a criminosa utilização de armas químicas ocorrida na Síria.
Não podemos ter a mínima confiança naquilo que os serviços secretos americanos, ingleses e de outros países nos dizem acerca da responsabilidade da utilização dessas armas, depois do que nos disseram acerca da existência de armas de destruição maciça no Iraque; como não podemos ter a mínima confiança na bondade das intenções dos governos da Síria, da Rússia, da China, dos Estados Unidos e dos governos de vários países ocidentais. Há, na realidade, uma incomensurável e bem justificada desconfiança dos povos do mundo relativamente às elites que os governam.
O ser humano tem mesmo de encontrar outras formas de governança que assegurem a liberdade mas também a equidade, a transparência e o escrutínio exercido por todos.