«Os cidadãos não podem mais deixar-se enganar por estas sucessivas mentiras. Basta!
Mentem-nos sobre as contas, sobre as causas da crise, mentem, mentem, mentem. As campanhas eleitorais, então, pervertem a própria democracia. A democracia deve ser, tem de ser, um sistema segundo o qual os candidatos expõem as suas soluções, o povo escolhe e o vencedor implementa o que havia preconizado. Um regime em que se contrapõem ideias e se espera que se apliquem as propsotas dos que vencem nas urnas. A democracia não devia ser este sistema, vigente em Portugal, em que sai premiado quem melhor consegue enganar os eleitores. Aqui, os processos eleitorais têm sido, ao longo destes últimos anos, concursos para a escolha do melhor mentiroso.
Os últimos primeiros-ministros eleitos foram empossados na sequência de campanhas em que prometeram não aumentar impostos. Mas não tardaram em fazê-lo, assim que se instalaram no poder. A começar por Durão Barroso, que tinha anunciado um choque fiscal e uma brutal redução de impostos, até chegar a Passos Coelho. [...] Todos nos vieram ao bolso. Com o discurso da «tanga» de Barroso, do «défice descontrolado» de Sócrates ou do «buraco colossal» de Passos Coelho. Assim, prometendo em campanha uma política fiscal mas fazendo exactamente o seu contrário, os políticos desacreditaram a democracia.»
Paulo Morais, Da Corrupção à Crise — Que Fazer?, Gradiva.