quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O problema de não haver pudor na política

É impressionante a desfaçatez que o comportamento de alguns dos nossos políticos revela. 
A página electrónica do Expresso refere hoje que Silva Pereira, antigo braço direito de Sócrates, afirmou, numa entrevista dada à Rádio Renascença: «Acho que o Partido Socialista precisa de fazer mais para se apresentar como uma alternativa credível e creio que a missão de qualquer partido, sobretudo do maior partido da oposição, é estar preparado para oferecer uma alternativa». A afirmação, em si mesma, não tem nada de particular, o que tem de particular é ela ter sido dita por quem foi e é ela confirmar-nos um certo desgraçado modo de fazer política.
Silva Pereira é um dos principais responsáveis pela situação a que Portugal chegou. Esteve pessoal e directamente envolvido em todas as principais decisões políticas dos dois últimos governos do PS — da educação à saúde, das obras públicas às finanças. Foi co-responsável ou cúmplice empenhado nas políticas mentirosas, irresponsáveis, incompetentes e arrogantes com que fomos governados durante seis anos. Conduziu, com Sócrates, o país à bancarrota. Foi co-responsável pelo pedido de resgate e pela assinatura do memorando com a troika. Desde 1974, o país nunca tinha passado por uma situação tão grave como aquela a que se chegou em Abril de 2011, e ele, Silva Pereira, foi co-autor da catástrofe financeira e económica que estava em pleno desenvolvimento naquela data.
Se, para alguns, a política não fosse somente uma actividade diletante ou, no outro extremo, uma obsessão pessoal que tudo justifica, os factos acima enumerados deveriam sobrar para que um político, que tivesse sido co-responsável pelos mesmos, se sentisse na obrigação de, no mínimo, proceder a um longo período de nojo ou de decidir, em definitivo, retirar-se da política — por decoro e pelo respeito que deveria ter por aqueles a quem tão gravemente prejudicou. Se Silva Pereira fosse um político sério, era isso que deveria ter feito. Mas não fez. Pelo contrário, tem o atrevimento de opinar acerca do que deve ser uma alternativa ao actual governo. 
Independentemente da evidente incapacidade política de Seguro, a verdade é que Silva Pereira, Santos Silva, Vieira da Silva e todos os outros socratistas nunca poderão ser alternativa a coisa alguma.
Era isso que faltava, que depois do desastre de Sócrates e da catástrofe de Passos se preparasse o regresso da imensa prole do «exilado» de Paris.