Imagem sem identificação do autor |
1. Não é aceitável, a nenhum título, que o primeiro-ministro, em resposta às inconstitucionalidades decretadas pelo Tribunal Constitucional, diga que os membros desse tribunal têm de ser mais bem escolhidos, insinuando, com baixeza, que as decisões foram aquelas porque os juízes são incompetentes. Um primeiro-ministro que assim se comporta coloca-se ao nível da ordinarice política.
2. Paulo Portas, a propósito das mesmas decisões do Tribunal Constitucional (TC), afirmou que era difícil governar com esta imprevisibilidade, que supostamente era gerada pelo TC. O argumento é torpe, duplamente: porque inverte sem escrúpulo a ordem das coisas, isto é, faz do juiz e não do criminoso a origem da instabilidade; e porque se há político português instável, imprevisível, errante, que hoje diz uma coisa e amanhã o seu contrário é Paulo Portas. Se o termo decência fizesse parte do léxico do actual vice-primeiro-ministro, certamente que ele ter-se-ia sentido impedido de fazer aquela afirmação. Mas a decência política é algo que Portas sempre desconheceu.
3. Os últimos acontecimentos observados no PS comprovam o predomínio da falta de qualidade política naquele partido. Ataques políticos e pessoais misturam-se num indescritível amontado de indecoros. A isto acresce a até agora ausência de diferenças substantivas entre Seguro e Costa. E mais acresce a vergonhosa tentativa de recuperação de Sócrates e dos socratistas, que vem especialmente atrelada a Costa. Um partido que se revela incapaz do exercício público da auto-crítica atraiçoa a sua natureza política e transforma-se numa seita de fanatismos. Mas o problema do PS é mais grave, porque a ausência da auto-crítica advém da circunstância de, no PS, poucos serem aqueles que reconhecem ter sido praticada uma política errada, protagonizada pelo seu anterior líder. Muitos do PS revêm-se nesse passado recente. E é precisamente essa identificação que faz do PS, quer a nível da orientação quer da prática políticas, um parceiro confiável do PSD e do CDS e um parceiro querido dos detentores do poder económico e financeiro.
Enquanto este tríptico político não for afastado, o lodaçal manter-se-á.