domingo, 1 de junho de 2014

O arco da desgovernação - balanço de uma semana

Imagem de Susana Neto
A última semana foi um extraordinário exemplo do apodrecimento político dos partidos que há décadas têm desgovernado o país. 
1. Com uma derrota eleitoral que seguramente atirou o PSD para baixo dos 25% e o CDS para a casa dos 3%, os partidos que sustentam o actual governo ficaram reduzidos a um apoio real de menos de 10% dos eleitores (pouco mais de 900 mil votos num universo de quase 10 milhões de inscritos). Rejeitados pelos portugueses, mas apegados ao poder com um impressionante fanatismo, os responsáveis governativos fogem do julgamento decisivo, isto é, de eleições antecipadas.
A este desmoronamento juntou-se, no final da semana, mais um comprovativo da incompetência de Passos Coelho e de Paulo Portas: mais um Orçamento de Estado com inconstitucionalidades. E mais uma vez, segundo ambos, a culpa não é de quem comete a ilegalidade, a culpa é de quem a julga. 
Se esta matéria não tivesse a gravidade que tem, a circunstância de todos os anos o governo não conseguir elaborar um Orçamento sem violações grosseiras da Lei fundamental seria certamente motivo de escárnio nacional e internacional. Não sei se no mundo existirá algum caso semelhante ao nosso.
O apodrecimento político destes partidos e dos seus protagonistas é uma realidade incontornável.

2. O outro partido do arco da desgovernação, o PS, confirmou nesta semana três coisas:
i) Do ponto de vista da substância política e do ponto de vista do apoio eleitoral, este partido não se distingue de forma significativa do PSD e do CDS. Programaticamente as diferenças não são relevantes e eleitoralmente também não — o apoio real do PS não ultrapassa os 10,6% do eleitorado (um milhão e trinta e três mil votos, em nove milhões e setecentos mil eleitores), mais 1% do que PSD e CDS;

ii) O quadro de ininterruptas cenas que temos observado no decurso da última semana no seio do PS evidencia a mediocridade e a hipocrisia que predominam naquele partido. Os comportamentos da elite socialista revelam a existência de maior animosidade entre socialistas do que em relação aos adversários de outros partidos. Há um estranho paradoxo dentro desta «família»: por um lado, perante tão graves divergências e tão acirradas reacções de hostilidade recíproca não se vislumbra o que de relevante possa unir estes «camaradas» — se o que os une fosse, de facto, mais importante do que aquilo que os separa, tais comportamentos não ocorreriam; por outro lado, não se vislumbra o que é que de relevante verdadeiramente os separa — o que é que de politicamente substancial distingue Costa de Seguro? Que propostas políticas tem Costa para apresentar que Seguro ainda não apresentou nem aceitará apresentar?
Na verdade, não se percebe o que os une, mas também não se percebe o que os separa. 

iii) Os socratistas estão a sair do armário e, com eles, a arrogância, a pesporrência e a bazófia que lhes está no ADN. Seria, todavia, oportuno que alguém lhes recordasse terem sido eles que implementaram de modo decisivo as políticas que hoje o governo do PSD-CDS leva aos seus extremos. Se o governo que temos é a causa directa da gravíssima situação em que os portugueses se encontram, o governo que temos é também o efeito directo dos governos e das políticas de Sócrates.

Assim prossegue o apodrecimento dos partidos do arco da desgovernação.