EU ÀS SEGUNDAS-FEIRAS NICAMOR ME CHAMAVA
Eu às segundas-feiras Nicamor me chamava.
Vingava o tédio horrível dos domingos
e perturbava umas horas as donzelas
e os horóscopos.
A terça-feira é um belo dia para chamar-se Adriano.
Com isso vence-se o malefício da jornada
e pode entrar-se com o pé feliz na rubra pradaria
da quarta-feira,
quando é tão agradável informar os amigos
que nesse dia todo nosso nome é Cristóvão.
Outrora eu escamoteava a guilhotina do tempo
mudando de nome cada dia para não ser localizado
pela senhora Aquela,
a que transforma todos os nomes num pretérito
decorado pelas lágrimas.
Mas enfim aprendi que à quinta-feira Militão,
Recaredo sexta-feira, sábado Alexandre,
nunca impedirão de chegar ao pálido domingo inominado
quando ela baptiza e crava certeira seu venábulo
sob a máscara de um nome qualquer.
Eu às segundas-feiras Nicamor me chamava.
E agora não me lembro em que dia nós estamos
nem como me tocaria chamar-me hoje inutilmente.
Gastón Baquero
(Trad.: José Bento)