segunda-feira, 19 de maio de 2014

O arco da desgovernação

Imagem sem identificação do autor
No próximo domingo teremos eleições europeias e, o mais tardar, daqui a um ano e meio eleições legislativas.
Nos quarenta anos de regime democrático que levamos, os eleitores portugueses têm atribuído sistematicamente as vitórias eleitorais ao PSD ou ao PS. Foi sempre um destes partidos que venceu as eleições, quer sejam legislativas, autárquicas ou europeias. 
Desde 1976, com a excepção de um curto período de cerca de dois anos, em que existiram governos chefiados pelos designados independentes, todos os primeiros-ministros têm sido do PS ou do PSD. A lista:
- 1976 a 1978 - Mário Soares (PS);
- 1978 - Mário Soares (PS em coligação com o CDS);
- 1978 a 1980 - Governos de iniciativa presidencial;
- 1980 a 1981 - Sá Carneiro (PSD em coligação  com o CDS);
- 1981 a 1983 - Pinto Balsemão (PSD em coligação com o CDS);
- 1983 a 1985 - Mário Soares (PS em coligação com o PSD);
- 1985 a 1995 - Cavaco Silva (PSD);
- 1995 a 2002 - António Guterres (PS);
- 2002 a 2004 - Durão Barroso (PSD em coligação com o CDS);
- 2004 a 2005 - Santana Lopes (PSD em coligação com o CDS);
- 2005 a 2011 - Sócrates (PS);
- 2011 - actualidade - Passos Coelho (PSD em coligação com o CDS).

As contas mostram 19 anos de governos do PSD, 17 anos de governos do PS e 9 anos de participação do CDS no governo. Até hoje, tivemos 6 primeiros-ministros do PSD e 3 primeiros-ministros do PS. Isto é, os partidos responsáveis pela evolução que o país levou nos últimos 38 anos são o PSD, o PS e o CDS (o designado arco da governação); e os chefes de governo com mais responsabilidades são: Cavaco Silva (10 anos), António Guterres (6 anos), Sócrates (6 anos), Mário Soares (4 anos) e Passos Coelho (3 anos).
Desde 1976 até agora, existiu uma linha mais ou menos contínua, com excepção de um ou outro ziguezague, que marcou o rumo destes governos e a acção destes primeiro-ministros. Essa linha definiu-se e define-se pelo aprofundamento de privilégios e de condições favoráveis a quem é detentor de capital e pelo agravamento das condições e dos direitos de quem trabalha. Os últimos nove anos (de Sócrates e Passos Coelho) são particularmente relevantes desta orientação comum ao PS e ao PSD.
Na verdade, nada de substancial distingue estes dois partidos. As diferenças residem apenas em pequenas nuances de ritmo e de intensidade com que trilham o mesmo caminho. Desde Mário Soares que o PS desbrava caminho para o PSD. Apesar da retórica do PS, algumas vezes até inflamada, que reclama combates e heroicidades de esquerda, a realidade mostra que a prática não corresponde à prosa. A política da educação nos governos de Sócrates foi um exemplo paradigmático, objecto de entusiástico aplauso de toda a direita, em particular, da ideologicamente mais elitista e retrógrada. Mas também na política externa, nas privatizações, nas finanças, nas obras públicas, na justiça, na segurança social, nos transportes, etc., as diferenças são nulas ou quase. O mesmo acontece com os actuais cabeças de lista de ambos os partidos nas próximas eleições europeias. No que diz respeito à Europa, Rangel e Assis competem apenas na estridência dos discursos e em nada mais.

O PS tem sido dominado pelos mesmos interesses que dominam o PSD, e têm sido eles que, em diferentes momentos históricos, determinam as políticas nas áreas da governação. Dentro do PS, o pensamento divergente da replicação rosada do PSD tem sido quase sempre irrelevante.
Vivemos, desde 1976, debaixo do arco da desgovernação: PSD, PS e CDS são os responsáveis pelo estado a que chegámos.
Não há nenhuma razão que justifique continuarem a ser eles a merecer o voto dos eleitores portugueses.