Anunciam os jornais que há mais uma licenciatura de um político sob investigação. Desta vez é um deputado socialista, André Figueiredo, ex-adjunto de Sócrates, que há algum tempo foi acusado por um outro socialista de possuir uma falsa licenciatura. O Ministério Público está a averiguar.
O caso não teria interesse algum se se tratasse de uma situação isolada. Mas, desgraçadamente para todos nós, não é assim. Desde Sócrates, que licenciaturas e universidades manhosas estão associadas a políticos e passaram a ser notícia corrente. Parece mesmo existir uma geração de responsáveis governamentais e partidários que foi particularmente atraída pelos caminhos do facilitismo ou, no mínimo, que preferiu os obscuros caminhos de uma espécie de «ensino superior» que de ensino pouco tinha e de superior ainda menos.
Toda a gente pergunta: por que razão foram tantos os políticos que optaram por ingressar em estabelecimentos do ensino superior privado que não possuíam qualquer referência ou credibilidade que os recomendasse? Por que razão preteriram as universidade públicas que têm sido a sede da melhor e mais competente formação superior que o país possui? Por que razão preferiram pagar propinas muitíssimo mais elevadas nas universidades privadas, se tinham as públicas que lhes proporcionavam poupanças de milhares de euros e qualidade assegurada?
A geração Sócrates/Relvas/Passos é uma geração estranha. Tem um discurso apinhado de termos como «exigência», «rigor», «competitividade», mas tem uma indisfarçável tendência para fugir à verdadeira exigência. Certamente que não é exemplo de rigor realizar provas ao domingo e enviá-las por fax ou exemplo de competitividade obter uma licenciatura prestando provas somente em três ou quatro disciplinas. Evidentemente que uma Universidade como a Independente, que acabou por ser compulsivamente encerrada, não era nem nunca foi sinónimo de exigência, mas Sócrates e Armando Vara optaram por realizar aí as suas licenciaturas. O mesmo se passava com a Universidade Internacional, que também acabou por ser compulsivamente encerrada, mas o deputado André Figueiredo e o actual ministro Mota Soares optaram por realizar lá as suas licenciaturas. Miguel Relvas e o actual secretário de Estado da Administração Escolar, Casanova de Almeida, escolheram fazer as respectivas licenciaturas na Universidade Lusófona, cujos bizarros critérios de exigência foram parar a tribunal, por mão do Ministério Público. E Passos Coelho e a sua ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, escolheram a Universidade Lusíada por alguma razão objectivamente relacionada com exigência, rigor e competitividade? A actual ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, e o actual secretário-geral do PS, António José Seguro, escolheram, respectivamente, a Universidade Livre e a Universidade Autónoma por motivos ligados a algum daqueles três substantivos?
Lamentavelmente, uma parte significativa dos políticos que nos tem governado na última década foi formada em universidades que ou estão com processos em tribunal ou já foram compulsivamente encerradas (para além das duas acima referidas, também a Universidade Moderna, a que Portas esteve estreitamente ligado, foi obrigada a encerrar) ou possuem um prestígio ainda em fase de confirmação. Isto significa que estes dirigentes, para além de não terem uma formação científica e técnica credível, não possuem legitimidade moral nem política para falar em «exigência», «rigor» ou «competitividade». Na verdade, eles constituem provavelmente, desde há quarenta anos, a geração de políticos com responsabilidades governativas mais mal preparada e com um percurso partidário e profissional menos recomendável.
Nada disto teria relevância se não fossem eles a «elite» que malfadadamente tem determinado o rumo das nossas vidas.