«Os princípios do "mercado livre" conduziram a uma Europa que facilitava a movimentação de capital além-fronteiras. Defendeu-se que fazê-lo melhoraria o desempenho económico; mas os banqueiros e os líderes políticos não se aperceberam da importância dos pormenores. Os bancos sempre receberam subsídios implícitos dos governos — o que se tornou evidente na crise de 2008, quando governo atrás de governo se envolveu em enormes resgates. A confiança no sistema bancário de um país depende da confiança na capacidade e na vontade dos governos em resgatar os bancos nacionais. Mas quando um país é enfraquecido por uma recessão económica, a sua capacidade de resgatar os bancos é enfraquecida, mesmo quando a assistência é mais necessária. A confiança no sistema bancário de um país diminui inevitavelmente; mas o sistema europeu tornou mais fácil a saída de dinheiro de um país — exacerbando a recessão, corroendo ainda mais a confiança no sistema bancário e acelerando o declínio da economia.
[...] A austeridade conduziu não só a níveis de desemprego faraónicos e salários mais baixos, mas também a enormes cortes em serviços públicos numa altura em que são mais necessários. Na Grécia, por exemplo, existe uma escassez de medicamentos que salvam vidas, uma condição que só encontramos nos países em vias de desenvolvimento mais pobres. Os que encontram trabalho aceitam qualquer coisa, mesmo que não seja para isso que estudaram e sonharam. Muitos dos que não conseguem trabalho sobretudo entre os jovens, emigram; as famílias estão a separar-se. Os países estão a ser esventrados dos seus cidadãos mais talentosos.»
Joseph E. Stiglitz, O Preço da Desigualdade, Bertrand Editora.