sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Exames para professores contratados ou uma política de aparências

Desgraçadamente, tornou-se uma prática comum a vários ministros de diferentes governos realizar uma política de aparências. É impressionante observar como tal prática se generalizou e como foram e são graves as consequências que daí advieram e advêm. Decreta-se, portaria-se, despacha-se, oficia-se sem conhecimentos mínimos para o fazer e sem noção ou preocupação com os resultados decorrentes. A verdadeira atenção está centrada exclusivamente na aparência que as medidas poderão ter junto da opinião pública. O que realmente interessa é o «parecer», não o «ser».
Nesta malfadada prática, a Educação tem sido, nos últimos anos, um domínio particularmente massacrado. Rodrigues, Alçada e Crato constituem um trio terrível que elevou a níveis nunca antes vistos o exercício do engano e da prestidigitação política. A objectiva incompetência técnica e a evidente incapacidade política para desenvolverem reformas fundamentadas e mobilizadoras foram e continuam a ser escondidas por trás de políticas de aparência que visaram e visam somente obter o aplauso de um certo público. 
A tentativa de divisão da carreira docente, o(s) modelo(s) de avaliação do desempenho docente, o modelo de gestão escolar, o estatuto do aluno, a reforma curricular de 2012 são, entre vários outros, exemplos de dislates e de absurdos políticos originados na ignorância e/ou no preconceito e no desejo de aparentar «obra» realizada, nem que essa «obra» seja a concretização do mais néscio senso comum.
A última versão desta irresponsável política de aparência é o exame que o ministro da Educação considerou dever realizar aos professores contratados para que possam continuar a exercer a docência. É uma «exigência» que é feita somente para parecer bem na fotografia, para alimentar a aparência de rigor. Contudo, trata-se apenas de um exercício arbitrário e mesquinho de poder. Trata-se de uma medida sem contexto, sem sentido, sem justificação. Na verdade, estamos a falar de professores que têm certificações científicas fornecidas por instituições do ensino superior acreditadas pelo próprio ministério da Educação; professores que exercem a docência há muitos anos — muitos deles há mais de vinte e alguns há mais de trinta —; que anualmente foram e são avaliados segundo regras também impostas pelo próprio ministério da Educação e que têm obtido, segundo essas mesmas regras, a classificação de bom, muito bom ou excelente; professores que realizam o mesmo trabalho e com as mesmas responsabilidades dos docentes do quadro.
Que razão séria, que fundamento científico ou pedagógico, que moralidade pode justificar a existência deste exame? Não há razão nem fundamento nem moralidade, há exclusivamente uma enorme falta de respeito profissional por milhares de professores e uma obsessiva necessidade de esconder a incompetência com políticas de aparência.
Nota: a cobrança de 20 euros pelo exame realizado atira irremediavelmente este processo para o domínio da obscenidade.