A anunciada prova de avaliação dos professores contratados é a cereja colocada em cima de um enorme bolo. Esse bolo gigante começou a ser elaborado há cerca de oito anos e a sua confecção, desgraçadamente, continua nos dias de hoje.
Em 2005, um grupo liderado por L. Rodrigues tomou conta do Ministério da Educação. Esse grupo tinha a uni-lo basicamente quatro características que os seus membros partilhavam: arrogância pessoal, ignorância sobre a realidade do nosso sistema educativo, incompetência técnica e irresponsabilidade política.
Do amontoado legislativo que este grupo produziu, um dos aspectos que se destacou foi o que deu tradução legal à tresloucada obsessão por aquilo que designavam de avaliação do desempenho docente.
Na realidade, este grupo não tinha a mais pequena noção do que deveria ser uma avaliação do desempenho docente e de como realizá-la. Ministra e secretários de Estado detinham apenas umas vagas noções sobre o assunto, que o senso comum lhes gerou, e sabiam que politicamente a avaliação dos professores dava uma renda garantida junto da opinião pública. Munidos destas ideias e com a irresponsabilidade dos tolos, avançaram com uma montanha de barbaridades técnicas sobre a avaliação docente. Deu naquilo que todos sabemos que deu: um processo que constituiu uma vergonha nacional.
Depois, veio Crato que maquilhou o processo, mas manteve intacta a farsa avaliativa. Agora, resolveu ampliá-la, com a designada prova de avaliação dos professores contratados.
O carácter obsceno desta prova já foi denunciado até à exaustão: não há uma única razão séria que a justifique e há um mar de razões sérias que inviabilizam. Mas, há dias, o jornal Público acrescentou mais um elemento que cobriu definitivamente de grotesco esta (pseudo) prova. Colocou adolescentes que frequentam o 8.º e 9.º anos a responderem às perguntas de escolha múltipla da prova modelo divulgada pelo Ministério da Educação — prova que supostamente irá avaliar os conhecimentos dos professores contratados para se saber se poderão entrar na carreira docente. Todos os adolescentes realizaram aquela parte da prova em menos de meia hora e todos passaram.
Uma prova que é dirigida a adultos que são licenciados (alguns mestres), que são professores, que leccionam há muitos anos (alguns há mais de trinta), e que consegue ser respondida facilmente por adolescentes do 8.º ano deveria cobrir de ridículo os «técnicos» que a elaboraram e os políticos que a conceberam. Todos estes, técnicos e políticos, têm um caminho a seguir: a imediata apresentação do respectivo pedido de demissão. Mas, antes disso, Crato deve ter a hombridade de anular esta prova.
Este episódio confirma duas coisas:
i) Vivemos (desde há oito anos) dominados por uma política de aparências. O que interessa é fazer de conta. Neste caso, fazer de conta que se avalia, aparentar que se avalia. A política é feita para a plateia, para a fotografia, para os holofotes. Não há seriedade no que se faz. E não há respeito por ninguém. Neste caso, não há respeito pelos professores contratados. Fere-se a sua dignidade profissional com uma impressionante falta de escrúpulo, apenas para consumar o exercício da política de aparência.
ii) Quem enche o discurso com o termo avaliação é quem menos sabe de avaliação. Rodrigues e Alçada foram e agora Crato é a demonstração viva deste fenómeno.
Se vivêssemos num país politicamente decente, Crato já não poderia estar à frente do Ministério da Educação, já teria seguido o caminho das suas duas antecessoras.