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Jardim, ex-presidente do Governo Regional da Madeira, admitiu recentemente que poderia ser candidato às próximas eleições presidenciais. Não admira, em Portugal, o decoro político não existe. É uma constante da nossa vida colectiva vermos personalidades com um passado político lastimoso apresentarem-se em público com um ar e um discurso notavelmente impolutos.
Os exemplos são inúmeros. Alguns dos mais recentes.
Sócrates, ex-primeiro-ministro, depois de ter conduzido o país à ruína e à humilhação de pedir ajuda financeira externa, foi viver para Paris e de lá regressou triunfante: reivindicando, protestando, ironizando... E deram-lhe palco. E esse palco foi a televisão pública. Não tivesse sido preso, e ainda hoje o teríamos a ocupar tempo num espaço que é pago por todos nós.
Teixeira dos Santos, ex-ministro das Finanças de Sócrates, o responsável n.º 2 pela nossa caminhada para a bancarrota, apresenta-se amiúde nos órgãos de comunicação social como o salvador, como aquele que — depois de ter sido durante anos cúmplice de Sócrates e primeiro responsável pela desastrosa política financeira levada a cabo pelo Governo — conseguiu pressionar o seu chefe a pedir o resgate, perante a situação catastrófica do país, que o próprio tinha ajudado a construir. Aparece aqui e acolá como palestrante, como conferencista, como conselheiro... e há quem o convide e há quem se disponibilize para o ouvir.
Durão Barroso, ex-primeiro-ministro, protagonista de uma escandalosa fuga das responsabilidades que tinha assumido, regressou de semblante vibrante, após dez anos de malfeitorias à Europa e a Portugal, autoconsiderando-se herói e merecedor de medalhas e honrarias.
Santana Lopes, ex-primeiro-ministro (durante uns meses), modelo de futilidade e de irresponsabilidade política, demitido por cúmulo de casos anedóticos e levianos, vai-se auto-avaliando publicamente como possuído de currículo e de credibilidades suficientes para se candidatar a Presidente da República.
Não admira, pois, que Jardim — figura que, num país minimamente civilizado, teria sido espontaneamente ridicularizado pelos eleitores — se sinta ainda com o à-vontade suficiente para colocar a hipótese de poder vir a ser um candidato presidencial.
Chamem Valentim Loureiro, Pimenta Machado, Vale e Azevedo, Isaltino de Morais, Miguel Relvas, Dias Loureiro, Ricardo Salgado... e ficaremos com uma plêiade de candidatos única e admirável.