|
Imagem de Pedro Mónica. |
Um primeiro-ministro não pode ser uma personagem que tenha no seu passado casos de incumprimento no pagamento de impostos, de contra-ordenações fiscais ou de esquecimento das suas obrigações para com a segurança social. Nem pode recair sobre ele a suspeição de ter obtido rendimentos disfarçados de ajudas de custos. Um primeiro-ministro não pode ser acusado ou suspeito de qualquer destas situações, por uma razão simples e conhecida: deixa de ter autoridade moral para exigir aos outros aquilo que não exigiu a si mesmo, deixa de poder exigir aos outros que cumpram aquilo que ele próprio não cumpriu. E um primeiro-ministro sem autoridade moral deixa de ser governante, passa a ser figurante. Se um primeiro-ministro não for reconhecido — pelo menos, por uma parte significativa da população — como um líder sério e de confiança, torna-se politicamente uma figura decorativa. Um político ser visto como membro do grupo dos incumpridores de impostos ou dos esquecidos das suas obrigações ou dos que «não sabiam que tinham que...» faz dele uma figura sem crédito. Um primeiro-ministro não tem de ser perfeito, mas tem de ser cumpridor da lei, no presente e no passado, como muitos o foram e continuam a sê-lo. Um cidadão que quer governar um país não pode descobrir que tem de cumprir os seus deveres para com o Estado somente quando chega a primeiro-ministro.
Passos Coelho sabe isto, mas faz de conta que não sabe. O PSD, o CDS, o Presidente da República, os comentadores de serviço sabem isto, mas vão fazendo de conta que não sabem.
Desgraçadamente para todos nós, este é o comportamento padrão das personagens que integram as nossas diferentes elites. Protegem-se e desculpabilizam-se reciprocamente, transmutam comportamentos graves em minudências, invertem, para si próprios, a escala de valores que aplicam aos outros e, com cinismo, declaram-se vítimas.
Passos Coelho acusou os portugueses de quase tudo. Quem assim procede tem de ter um passado impoluto, o que não é o seu caso. Passos Coelho não preenche os requisitos mínimos. A decência política exige modelos de conduta mais elevados.