Fotografia de Pixel Eye |
A envolver estes números surgem alguns mistérios.
1.º mistério - Rebelo de Sousa tem muito mais votos do que PDS e CDS tiveram juntos, nas últimas eleições. Para isso suceder, tem certamente de começar por recolher a unanimidade dos votantes do PSD e CDS. Este fenómeno tem explicação?
As direcções do PSD e do CDS apoiaram a candidatura de Rebelo de Sousa por uma razão: porque não tinham alternativa. Na verdade, este candidato nunca foi o preferido, porque não possui o perfil político que ambos os partidos desejavam. Apesar de ser um candidato de direita, Rebelo de Sousa é um candidato que põe o seu protagonismo político à frente de todos os outros interesses. Sempre foi assim. As suas motivações políticas, os seus jogos de bastidores e as intrigas permanentes que criou e alimentou sempre estiveram em primeiro lugar nas prioridades da sua acção política. Rebelo de Sousa é um maníaco da conspiração política, faz parte da sua natureza. É assim que frui a política, é assim que vive a política.
Sendo um direito seu fazer política deste modo, não se compreende, todavia, que unanimemente a direita vote nele. A direita, em particular a mais conservadora, gosta de ter representantes em quem possa confiar. Não aprecia «cata-ventos», utilizando a designação de Passos Coelho.
Como se explica, então, esta unanimidade? O sentido pragmático da direita não chega para justificar tão grande consenso e conformismo na 1.ª volta; em particular, quando todas as sondagens lhe dão uma vitória logo a 24 de Janeiro.
É um mistério... ou a sondagem está errada.
2.º mistério - Para ter mais votos que o PSD e o CDS juntos, Rebelo de Sousa tem de recolher, no mínimo, milhares de votos de eleitores do PS.
Admitindo que muitos votantes do PS votam umas vezes PS e outras PSD, isto é, são votantes híbridos, não votam em função de convicções; admitindo que não aprendem com a experiência, isto é, repetem erros sem daí nada concluírem; admitindo que vêem as eleições como um leilão, isto é, dão o voto a quem oferece mais; mesmo assim, admitindo tudo isto, é inevitável a pergunta: predispõem-se agora a votar em Rebelo de Sousa, porquê?
Ele não oferece mais do que os outros candidatos; tem um discurso de desavergonhado oportunismo político; apresenta-se como uma figura cinzenta, negando o que sempre foi e querendo aparentar ser o que nunca foi nem será (um político de confiança); não tem uma ideia mobilizadora; não aponta nenhuma esperança para o país e foi cúmplice das políticas de PSD e do CDS, nos últimos quatro anos. Muitos votantes do PS querem votar nele porquê? Porque aparecia ao domingo na TV?
É um mistério... ou a sondagem está errada.
3.º mistério - Para a esquerda, a eleição presidencial é ou não é importante? Se a resposta é negativa, compreende-se que haja tantos candidatos à esquerda. Se é positiva, não se compreende que haja tantos candidatos à esquerda, ou melhor, que haja tantos candidatos à esquerda que levem a sua candidatura até ao fim. Se houver 2.ª volta, as sondagens acima referidas, assim como outras, mostram que só um de dois candidatos pode acompanhar Rebelo de Sousa à votação decisiva: Sampaio da Nóvoa ou Maria de Belém. Assim, é inevitável a pergunta: para a esquerda, é indiferente que vá um ou outro destes candidatos à 2.ª volta? Se é indiferente compreende-se que mantenham as candidaturas até ao fim; se não é indiferente, então, é incompreensível que não desistam a favor de um daqueles dois candidatos. Ora, evidentemente que, para a esquerda, não é indiferente ter Sampaio da Nóvoa ou Maria de Belém na 2.ª volta. E se a esquerda foi capaz de dialogar para suportar um governo do PS e evitar um governo de direita, certamente que também é capaz de dialogar para apoiar na 1.ª volta Sampaio da Nóvoa, evitando o desastre que seria ter Maria de Belém na 2.ª volta.
Se as desistências não acontecerem, estaremos perante um mistério... ou perante um erro grave da nossa esquerda.
Sendo um direito seu fazer política deste modo, não se compreende, todavia, que unanimemente a direita vote nele. A direita, em particular a mais conservadora, gosta de ter representantes em quem possa confiar. Não aprecia «cata-ventos», utilizando a designação de Passos Coelho.
Como se explica, então, esta unanimidade? O sentido pragmático da direita não chega para justificar tão grande consenso e conformismo na 1.ª volta; em particular, quando todas as sondagens lhe dão uma vitória logo a 24 de Janeiro.
É um mistério... ou a sondagem está errada.
2.º mistério - Para ter mais votos que o PSD e o CDS juntos, Rebelo de Sousa tem de recolher, no mínimo, milhares de votos de eleitores do PS.
Admitindo que muitos votantes do PS votam umas vezes PS e outras PSD, isto é, são votantes híbridos, não votam em função de convicções; admitindo que não aprendem com a experiência, isto é, repetem erros sem daí nada concluírem; admitindo que vêem as eleições como um leilão, isto é, dão o voto a quem oferece mais; mesmo assim, admitindo tudo isto, é inevitável a pergunta: predispõem-se agora a votar em Rebelo de Sousa, porquê?
Ele não oferece mais do que os outros candidatos; tem um discurso de desavergonhado oportunismo político; apresenta-se como uma figura cinzenta, negando o que sempre foi e querendo aparentar ser o que nunca foi nem será (um político de confiança); não tem uma ideia mobilizadora; não aponta nenhuma esperança para o país e foi cúmplice das políticas de PSD e do CDS, nos últimos quatro anos. Muitos votantes do PS querem votar nele porquê? Porque aparecia ao domingo na TV?
É um mistério... ou a sondagem está errada.
3.º mistério - Para a esquerda, a eleição presidencial é ou não é importante? Se a resposta é negativa, compreende-se que haja tantos candidatos à esquerda. Se é positiva, não se compreende que haja tantos candidatos à esquerda, ou melhor, que haja tantos candidatos à esquerda que levem a sua candidatura até ao fim. Se houver 2.ª volta, as sondagens acima referidas, assim como outras, mostram que só um de dois candidatos pode acompanhar Rebelo de Sousa à votação decisiva: Sampaio da Nóvoa ou Maria de Belém. Assim, é inevitável a pergunta: para a esquerda, é indiferente que vá um ou outro destes candidatos à 2.ª volta? Se é indiferente compreende-se que mantenham as candidaturas até ao fim; se não é indiferente, então, é incompreensível que não desistam a favor de um daqueles dois candidatos. Ora, evidentemente que, para a esquerda, não é indiferente ter Sampaio da Nóvoa ou Maria de Belém na 2.ª volta. E se a esquerda foi capaz de dialogar para suportar um governo do PS e evitar um governo de direita, certamente que também é capaz de dialogar para apoiar na 1.ª volta Sampaio da Nóvoa, evitando o desastre que seria ter Maria de Belém na 2.ª volta.
Se as desistências não acontecerem, estaremos perante um mistério... ou perante um erro grave da nossa esquerda.