Portas anunciou, há dias, que vai deixar a liderança do CDS. Este anúncio é uma boa notícia, se se confirmar (se se confirmar, porque a credibilidade de Portas e do que ele anuncia ou afirma é idêntica a zero).
Julgo que a saída de cena de Portas (se se confirmar) é uma boa notícia, porque higieniza a vida política: deixaremos de ter de suportar constantemente a falta de seriedade, a mercantilização de princípios e o recorrente recurso à teatrialização ordinária, que esta personalidade protagonizava com denodo.
Só isto chegaria para que aquele anúncio constituísse uma boa notícia. Todavia, o que se lê e ouve da parte de alguns políticos, de alguns jornalistas e de alguns comentadores, em relação a Portas, são elogios, aplausos e encómios. Entre outras coisas, pudemos ler e ouvir que o consideram: um político brilhante; um estadista; um grande líder europeu. Mas os mesmos que escrevem e dizem isto também reconhecem que Portas, ao longo da sua vida pública, defendeu tudo e o seu contrário: foi anti-Cavaco e foi cavaquista; foi anti-europeísta e foi europeísta; foi anti-PSD e coligou-se com o PSD; foi irrevogável e foi revogável; negou qualquer possibilidade de um dia ser militante partidário e foi militante e líder partidário; foi campeão da defesa do contribuinte e foi co-responsável pelo maior aumento de impostos das últimas décadas; foi Não e foi Sim, sempre em função do que lhe convinha, e sempre com o mesmo à-vontade e com a mesma falta de pudor.
Ora, não é possível considerar que Portas foi tudo isto e simultaneamente considerá-lo um político brilhante, um estadista e um grande líder. Só será possível fazê-lo, se considerarmos a política um pântano, onde vale tudo fazer e tudo dizer. Se equipararmos o político ao vendedor de vão de escada e a política ao reino da publicidade enganosa. Se tivermos esta ideia manhosa de política, então, um político brilhante será aquele que melhor concretiza essa ideia. Deste ponto de vista, não ficam dúvidas de que temos tido alguns políticos brilhantes e alguns grandes estadistas. E, neste caso, Portas foi um deles.
Mas este modelo de política e de político é o modelo responsável pela degradação da qualidade da nossa vida política e pelo afastamento de grande parte da população pelos assuntos políticos. Tem sido esta ideia de política — que os responsáveis políticos, pela sua prática, e os órgãos de comunicação social, pela idolatria que lhe devotam — que nos vai envolvendo numa cultura de irresponsabilidade cívica e de oportunismos sociais.
Mas este modelo de política e de político é o modelo responsável pela degradação da qualidade da nossa vida política e pelo afastamento de grande parte da população pelos assuntos políticos. Tem sido esta ideia de política — que os responsáveis políticos, pela sua prática, e os órgãos de comunicação social, pela idolatria que lhe devotam — que nos vai envolvendo numa cultura de irresponsabilidade cívica e de oportunismos sociais.
Se tivermos um outro conceito do que é e do que deve ser a política, se pensarmos a política como o exercício generoso e responsável da cidadania, em que a assunção de responsabilidades governativas exige espírito de missão em prol do bem comum e exige honestidade, verticalidade e uma entrega destituída de protagonismos pessoais; se pensarmos a política a partir desta ideia, onde não há lugar a tacticismos, a acobracias e a dissimulações, então, Portas, foi o antípoda de um político brilhante e de um estadista.
É por isto que considero que o anúncio do seu abandono da liderança do CDS é uma boa notícia para o país, se se confirmar...