domingo, 21 de junho de 2015

Poemas

ELOGIO DE ATENAS

Coro

Chegaste, estrangeiro, da terra ao lugar mais excelente,
a esta região de belos cavalos,
      Colono fulgente,
onde tanta vez o rouxinol mavioso
modula seus gorjeios,
no fundo dos vales verdejantes,
— esse habitante das negras heras,
e da floresta divina impenetrável,
de frutos mil, ao sol inacessível,
e a recato dos ventos todos invernais.
Onde Diónisos, com báquico ardor,
vagueia em companhia das deusas que o criaram.

Sob o rocio do céu, floresce
sempre, em todos os dias, o narciso
de belos cachos,
das grandes Deusas grinalda vetusta,
e o dourado açafrão.
Do Cefiso as nascentes indefesas,
das suas águas errantes, não decrescem,
mas sempre, dia a dia, acorrem a fertilizar a planura
da vasta terra, com límpida linfa.
Não a aborrecem os coros das Musas,
nem Afrodite, de rédeas douradas.

Algo existe aqui, que não consta que germine
na terra da Ásia, nem na grande ilha dórica de Pélops,
rebento que não foi pela mão semeado, mas espontâneo,
      que infunde terror aos inimigos,
      nesta terra mais que todas florescente:
      a oliveira de glaucas folhas, árvore criadora.
A ela, nem o jovem nem o ancião a destruirá,
com mão assoladora: pois Zeus Mório
      e Atena de olhos garços
a defendem, com olhar sempre vigilante.

Mas outro louvor mais potente tenho ainda a proclamar
sobre esta metrópole, dádiva de um deus excelso, glória máxima da terra:
os seus belos cavalos, belos poldros e navios.
      Ó filho de Cronos, Poséidon soberano,
      tu nos elevaste a esta glória,
      tu que nestas ruas primeiro fabricaste
o freio domador dos cavalos! E os belos remos, ajustados
às mãos, agitam à maravilha a superfície
      do mar, na esteira
do tropel infinito das Nereidas.

Sófocles
(Trad.: Maria Helena da Rocha Pereira)