Imagem de Eduardo Almeida |
A semana que agora termina foi demolidora para o governo português.
1. A assunção pública, por parte do actual presidente da Comissão Europeia, de que a tróica atentou «contra a dignidade dos portugueses, dos gregos e às vezes dos irlandeses» é o reconhecimento (tardio) de que o resgate de Portugal (da Grécia e da Irlanda) nada teve que ver com solidariedade europeia ou ajuda amiga. Foi um negócio, mas um negócio em que o credor entrou na casa do devedor, sentou-se à cabeceira da mesa da sala e passou a ditar as novas regras de funcionamento do lar. Nem um agiota se comporta assim, e muito menos os amigos. Por isso, Juncker afirma que atentaram contra a dignidade dos portugueses e dos gregos (e às vezes dos irlandeses — note-se a diferenciação...).
Esta afirmação pública constata um facto e evidencia um outro daí decorrente: o governo português não defendeu a dignidade do povo que representa. Permitiu que a sua dignidade ficasse ferida. Na verdade, o governo português, através das suas principais figuras (Passo Coelho, Paulo Portas, Vítor Gaspar, Maria Luís), foi colaboracionista nessa agressão. Foram múltiplos, repetidos e insistentes os discursos destes responsáveis políticos a enalteceram, a elogiarem, a agradecerem a «ajuda» europeia. O governo português foi protagonista activo no atentado à dignidade dos portugueses.
2. O comportamento político do primeiro-ministro e das ministra das Finanças relativamente ao problema grego/europeu faz-me sentir vergonha. Um país ser representado por políticos subservientes e bajuladores envergonha e repugna. A função a que se prestou Maria Luís Albuquerque, deslocando-se à Alemanha para se sentar ao lado do seu colega Schäuble e para, como uma marioneta política, fazer e dizer o que os alemães queriam que ela fizesse e dissesse, não tem adjectivação capaz dentro do vocabulário convencional. A decência política foi violada e, mais uma vez, a dignidade nacional foi ofendida.
A esta rebaixamento político, Passos Coelho acrescentou um discurso grosseiro sempre que se referiu ao novo governo grego. Falando como um menino birrento e mal-educado, não como um representante de um Estado, pronunciou-se de forma rasca, afirmando que os gregos querem viver à custa do dinheiro dos outros. A um primeiro-ministo exige-se mais. Linguajares desta natureza ouvimos nós de quem é involuntariamente desinformado ou de quem é voluntariamente mentiroso. De um primeiro-ministro espera-se mais decoro e mais seriedade política. Desgraçadamente, de Passos Coelho já nem isto podemos esperar.
3. A actuação do novo governo grego confirma o que todos sabíamos e sabemos e que sempre foi negado pelo governo português: que era e é possível defender políticas alternativas, que era e é possível lutar por elas, que era e é possível discutir, confrontar e combater a política do «inevitável». O exemplo grego confirma a confrangedora irrelevância política do nosso primeiro-ministro, no contexto europeu.