Imagem de Fábio Kwasniewski. |
Há uns bons anos, passava na televisão um anúncio publicitário que lá pelo meio da mensagem dizia isto: «Uma boa desculpa não indemniza prejuízo». Lamentavelmente, os nossos governantes não pensam assim. Pensam que um pedido de desculpas automaticamente os isenta de responsabilidades e de indemnizar os prejudicados.
Passos Coelho, ainda antes de ser primeiro-ministro, já pedia desculpas aos portugueses por não cumprir a promessa que tinha feito de não apoiar o governo anterior na subida de impostos. O pedido de desculpas foi apresentado, mas não foi acompanhado de qualquer comportamento consentâneo com o próprio pedido. O pedido bastou-se a si mesmo, e a vida do então candidato a primeiro-ministro prosseguiu normalmente. Chegado a primeiro-ministro, voltou a não cumprir múltiplas promessas que tinha feito, alguns desses incumprimentos foram mesmo politicamente obscenos, mas nem desculpas pediu. Todavia, apesar de ter deixado de pedir desculpas, não deixou de aconselhar os seus ministros a que o fizessem nos precisos termos que ele o fazia, isto é, com o pressuposto de que um pedido de desculpas isenta automaticamente quem o formula de responsabilidades e de indemnizar os prejudicados.
Foi o que aconteceu esta semana: a ministra da Justiça, pediu desculpas pelo inacreditável caos instalado no sistema judicial, há mais de quinze dias. Contudo, apresentado o pedido de desculpas, a ministra prossegue em funções, com uma enigmática naturalidade. Apesar dos muitos milhares de pessoas e de empresas que estão a ser gravemente prejudicados com a paralização do sistema, a responsável máxima da tutela isenta-se de assumir qualquer comportamento consentâneo com a desculpas pedidas e com os pesados prejuízos causados. Considera-se inimputável, mas não nos explica as razões porque se considera assim.
À ministra da Justiça juntou-se, na mesma semana, o ministro da Educação e Ciência. Ao caos da Justiça juntou-se o caos no concurso de professores e na abertura do ano lectivo. Erros grosseiros, colocações de professores incorrectas, prejuízos gravíssimos para a vida dos professores, e alunos sem professores em muitas escolas. Ao fim de vários dias de anarquia, o ministro surgiu finalmente a pedir desculpas. Mas ponto final. Apresentadas as desculpas, a vida continuou, para o ministro, com enigmática naturalidade. Seguindo os exemplos de Passos Coelho e de Paula Teixeira da Cruz, Nuno Crato isenta-se de assumir qualquer comportamento consentâneo com a desculpas pedidas e com os enormes prejuízos causados. Também se considera inimputável, e também não nos explica as razões porque se considera assim.
À incompetência no fazer junta-se a indecência do ser. Dão cabo da vida a milhares ou milhões de pessoas, mas, com o cinismo dos carrascos, pedem desculpas pelo incómodo e continuam a sua vida de governantes.