Imagem de Vítor Nunes |
Nuno Crato tinha, ainda que um pouco inexplicavelmente, uma imagem pública de competência, na altura em que era apenas uma possibilidade para futuro ministro da Educação de um governo de direita. Quando a possibilidade se transformou em realidade e Nuno Crato assumiu as funções de governante, em muito pouco tempo se verificou o quão essa imagem era falsa. O ministro e a sua equipa rapidamente mostraram uma incompetência e uma ignorância inimagináveis. Os dislates surgiam a um ritmo impressionante, quer do ponto de vista conceptual quer administrativo.
Crato juntou-se, assim, a Rodrigues e a Alçada, e os três fizeram desta última década não só um período perdido como um período ruinador para a educação. E também como Rodrigues, Crato juntou agora à incompetência a indecência, no modo como se comporta com os professores. Rodrigues teve persistentemente comportamentos indecentes para com os docentes, e Crato, mais uma vez, segue-lhe o exemplo. O respeito por quem tem a função de educar as gerações que chegam às escolas devia ser um dos primeiros deveres a que qualquer ministro da pasta deveria sentir-se obrigado. Contudo, a realidade mostra precisamente o oposto. Neste momento, após semanas de escandalosa incompetência na organização do concurso de professores contratados, assiste-se a uma situação que repugna, seja qual for a perspectiva pela qual possa ser vista:
— a incompetência gerou uma errada graduação dos professores que se submeteram a concurso;
— a incompetência não reconheceu de imediato esse erro colossal. Permitiu que ele se mantivesse e se consolidasse;
— a incompetência demorou semanas a corrigir a graduação.
A esta série de incompetências segue-se a indecência:
— os professores que, fruto do erro colossal, foram incorrectamente colocados, e que, por ordem do Ministério da Educação (ME), já leccionavam há semanas nessas escolas, foram agora informados de que tinham de abandonar as suas escolas e rumar para outras escolas ou para o desemprego;
— os alunos vêem partir os professores com quem já estavam a trabalhar e vêem chegar professores que desconhecem;
— os docentes que deslocaram família e bens para as localidades onde tinham sido colocados, vêem-se obrigados a tudo desfazer e, no caso de nova colocação, retomarem nova deslocação, ou, no caso de não terem sido colocados, regressarem a casa e rumarem aos centros de emprego;
— os directores das escolas recebem do ME a indicação de que devem proceder à rescisão dos contratos anteriormente assinados. Fazem-se e desfazem-se contratos como numa república de bananas.
Na verdade, só uma enorme falta de decência por parte do responsável político, Nuno Crato, explica este mísero cenário. Em relação aos alunos, trata-se duma indecente falta de respeito pedagógico por quem aprende; em relação aos professores, trata-se duma indecente falta de respeito pela sua dignidade enquanto profissionais e pela sua dignidade enquanto pessoas.
E, perante isto, Nuno Crato não tem a decência de se demitir.