sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Poemas

VENTO

As palavras
cintilam
na floresta do sono
e o seu rumor
de corças perseguidas
ágil e esquivo
como o vento
fala de amor
e solidão:
quem vos ferir
não fere em vão,
palavras.

Carlos de Oliveira

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Degradação

Nos últimos anos, a qualidade da vida política portuguesa tem-se degradado de forma impressionante.
Sócrates inaugurou um estilo de discurso e de conduta política que rapidamente baixou o nível do debate de ideias e da argumentação. Juntando a arrogância à insolência, a insolência à insinuação e a insinuação à mentira, Sócrates não apenas transformou a discussão política numa espécie de peixaria à moda antiga como levou a descredibilização da política a patamares a que nunca se tinha chegado.
Agora, Passos Coelho conseguiu o que se julgava impossível: baixar ainda mais o crédito dos políticos e elevar a mentira a principal instrumento da arte da governação. Trocando a arrogância e a insolência pela aparente serenidade e seriedade, o actual primeiro-ministro tornou-se um exímio mestre do cinismo e da perfídia. E este comportamento individual rapidamente se transformou em padrão de conduta. Hoje, de entre os prosélitos, praticamente já não se encontra quem não lhe siga o exemplo. 
A arena política é actualmente um pântano muitíssimo mais vasto e profundo do que o pântano de que se lamentava António Guterres. À degradação política juntou-se, nos últimos três anos, a degradação económica. À degradação económica juntou-se agora a degradação da dignidade e a esta a degradação da qualidade de vida, a um ponto desconhecido de muitos. E a degradação vai continuar.
Prolongar este estado das coisas, como o presidente da República parece pretender e o PS parece desejar, é certamente o modo mais eficaz de fazer do pântano um caldeirão. 
Não digam depois que o povo decidiu agir acima das suas possibilidades...

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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O conceito de «excessivo», segundo Vítor Gaspar

O ministro das Finanças, segundo o noticiado pelos jornais, recusou a proposta, proveniente dos deputados da maioria, de ser adoptada no próximo ano, em sede de IRS, uma taxa extraordinária de 10%, para quem recebesse mais de 500 mil euros por ano.
Dizem os jornais que Vítor Gaspar recusou esta proposta por considerá-la excessiva. A razão foi mesmo essa: considerou-a excessiva. Isto é, Vítor Gaspar terá considerado excessivo baixar em 10% o rendimento de quem recebe mensalmente mais de 40 mil euros, todavia, Gaspar não considerou excessivo cortar o vencimento entre 5% e 10% a quem ganha mais de mil e quinhentos euros, na função pública. Também não considerou excessivo fazer o mesmo aos pensionistas. Rendimentos muitíssimo longe, portanto, dos quarenta mil euros mensais que Gaspar decidiu proteger. Mas a Gaspar também não pareceu excessivo cortar, adicionalmente, a esses mesmos funcionários e pensionistas, dois subsídios, de férias e de Natal, o que correspondeu a baixar em mais 14% os seus rendimentos. Tudo somado, estes cortes nos rendimentos oscilam entre 19% e 24%. Contudo, para o ministro das Finanças, isto não é excessivo. Como também não é excessivo cortar nas pensões mínimas e cortar no subsídio de desemprego. Excessivo mesmo seria diminuir em mais 10% os rendimentos de quem recebe, por ano, 500 mil, 700 mil, 1 milhão de euros e por aí adiante. Por isso, Gaspar recusou.
Causa perplexidade? Não causa. 
Na verdade, já nos habituámos ao carácter político de Vítor Gaspar. Lá fora, nas reuniões internacionais, as imagens televisivas mostram Vítor Gaspar a vergar-se (literalmente) e a desmembrar-se em múltiplos, intensos e efusivos abraços e em rasgados, contínuos e quase obscenos sorrisos para com os seus homólogos europeus e para com os donos da finança mundial. Lá fora, perante os detentores do poder, Gaspar é de uma ilimitada subserviência. Cá dentro, com os poderosos, Gaspar mimetiza o que faz lá fora: é subserviente e protector. Inversamente, com os mais fracos, Vítor Gaspar fala pausada e arrogantemente e aplica as mais pesadas medidas, que aos mais fortes não é capaz de aplicar.

sábado, 24 de novembro de 2012

Avaliação docente: dois despachos (5)

Um dos múltiplos aspectos graves e inaceitáveis que o modelo de avaliação do desempenho docente da ex-ministra Rodrigues continha era a indecorosa ausência de preparação e de credibilidade dos avaliadores. Rodrigues, com a ignorância e a incompetência que a caracterizavam, não teve nenhuma hesitação em atribuir a função de avaliador a milhares de professores sem a mínima qualificação para o serem. Rodrigues, com a falta de idoneidade política que marcou o seu mandato, não teve nenhuma preocupação de garantir seriedade ao processo de avaliação do desempenho dos professores: deliberadamente, quis apenas um modelo de aparências que assegurasse, junto da opinião pública, a ideia de que os professores eram avaliados, e nada mais. Tudo o resto não lhe interessava: nem a qualidade da avaliação, nem a sua credibilidade, nem a sua fidelidade/fiabilidade. Não investiu um euro na formação científica, de nível superior, dos professores avaliadores e, sem o mínimo de sentido de responsabilidade, quis, de modo totalmente desvairado, lançar o seu processo pseudo-avaliativo.
Rodrigues esteve quatro anos no ministério da Educação. Saiu Rodrigues, entrou Alçada. Alçada esteve dois anos no mesmo ministério. Saiu Alçada, entrou Crato. Crato está lá há um ano e meio. Total: sete anos e meio. Durante estes sete anos e meio, o ministério da Educação nada fez para a formação de professores avaliadores, não proporcionou, em cooperação com instituições do ensino universitário ou politécnico, nenhuma formação de nível superior neste domínio. Nada!
Agora, volvido este tempo sem nada ter sido feito, surge o Despacho normativo n.º 24/2012 que, sem  pudor, afirma o seguinte: «A legitimidade e  competências dos avaliadores externos que constituem a bolsa, assim como a sua seleção, são asseguradas por rigorosos requisitos de formação e experiência profissional [...]» (o negrito é meu).
A perplexidade que a leitura deste trecho provoca é enorme. É enorme porque:
a) há quatro anos, mais de 90% dos professores que exerceram a função de avaliadores não tinham quaisquer requisitos de formação que os capacitassem para esse efeito;
b) há quatro anos, o Conselho Científico para a Avaliação dos Professores expressou publica e formalmente a exigência de formação superior em avaliação docente, de média e longa duração, como pré-requisito para o exercício da função de avaliador, já que a experiência profissional, só por si, não era suficiente;
c) há muitos quatro anos que o ministério da Educação não promove qualquer formação desta natureza.
Sendo estes os factos, eles significam que a situação de hoje é precisamente a mesma de há quatro anos. Como pode então alguém afirmar que «a legitimidade e competências dos avaliadores externos são asseguradas por rigorosos requisitos de formação»? De onde vem este cinismo? Rodrigues e Alçada tinham, pelo menos, o recato de não falar em «rigorosos requisitos de formação», mas Crato e o seu secretário de Estado nem essa decência possuem.
Sejamos claros: ou a avaliação dos professores é uma coisa séria ou é uma brincadeira. Se é uma brincadeira, qualquer um serve para avaliador, e o problema fica resolvido à nascença. Se é uma coisa séria, há duas hipóteses:
1. A hipótese assente na lógica do actual modelo que, para ter alguma possibilidade de seriedade, exige:
a) Avaliadores com formação especializada de nível superior e grande experiência profissional.
Assentar o processo avaliativo inerente à observação de aulas num só avaliador é, no meu entendimento, incorrecto, todavia, se esse é o caminho que se pretende seguir, então é condição imperativa que esses avaliadores tenham cumulativamente: formação especializada de nível superior em avaliação de professores e grande experiência profissional. (E a experiência profissional não é, por exemplo, ter assistido a duas aulas no modelo de Rodrigues, como o recente despacho normativo n.º 24/2012 prevê. A falta de decoro chega a este ponto: considera-se um «rigoroso requisito de experiência profissional» a circunstância de, sem qualquer formação ou preparação, um professor ter sido empurrado a observar duas aulas de um colega, no contexto da bagunçada do modelo de pseudo-avaliação de Rodrigues e Alçada. Por outras palavras: ter participado naquilo que foi justamente apelidado de monstro kafkiano (e de comprovadamente ser um modelo incompetente e sem seriedade) é agora visto como um atestado de «rigoroso requisito de experiência profissional»);
b) Avaliadores que exerçam um acompanhamento regular do desempenho dos professores avaliados ao longo do período em avaliação.
Este acompanhamento regular é condição necessária para que o exercício da avaliação seja, em primeiro lugar, formativo e só depois, decorrente daí, sumativo. É condição necessária para que possa realizar-se um trabalho minimamente sério e credível. (E jamais, como tem sido feito e continuará a ser, um exercício avaliativo que se realiza através de duas visitas de 90 minutos num espaço de tempo de quatro anos).

2. A segunda hipótese exige outro modelo de avaliação do desempenho docente, sobre o qual tive oportunidade de escrever aquiaquiaqui e aqui.

O que não pode acontecer, seja qual for a circunstância, é o que está a acontecer: assentar a avaliação dos professores em falsidades ou em revestimentos formais, relativamente aos quais não corresponde nenhuma substância, como é o caso da grotesca afirmação exarada no despacho que referi: «a legitimidade e competências dos avaliadores externos são asseguradas por rigorosos requisitos de formação e experiência profissional».

(Continua)

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Nacos

Canto VIII

25
Nos sótãos apertados da cidade, prosseguiu Bloom,
estrangeiros mal pagos, longe da família, comovidos,
degolam uma galinha roubada. Automóveis inscritos
na lavagem automática aguardam,
e condutor displicente lê o jornal
em que dois massacres são descritos com uma certa alegria
do pormenor. Fotografias de cadáveres
são confundidas pelo leitor apressado com festivais
de gastronomia negra. O mundo é repelente
e uma obra-prima.
Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem à Índia, Caminho.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Quinta da música - Robert Schumann

O problema dos critérios...

Recebido por e-mail:

O horário Nº 116 (22h) do Grupo 550 no Agrupamento de Escolas de Vialonga, Vila Franca de Xira tem como subcritérios questões vagas e ilegais, a meu ver, não respeitando a Circular B12029396X.
O horário em causa foi colocado hoje na aplicação, não terá sido
aprovado pela equipa da Direcção Geral da Administração Escolar?
Cria-se uma circular e não se respeita?

Cumprimentos,
PA



Imagem intercalada 3

Na sequência do mail anterior, mesma escola, outro horário com iguaissubcritérios, mas com acréscimo do seguinte: "O candidato selecionadoterá de ter uma pontuação superior a 25% nestes critérios.". (Ver anexo) O horário Nº 105 (22h) do Grupo 500 no Agrupamento de Escolas de Vialonga, Vila Franca de Xira.

Cumprimentos,
PA

AVISO

Aos professores candidatos ao horário do grupo 500
Horário 105

Este concurso baseia uma parte da sua graduação (50%) na análise do currículo individual, conforme referido na oferta a concurso.
Os documentos devem ser enviados em formato digital para o endereço de correio eletrónico aevialonga@gmail.com.
A lista graduada está publicada na página da Escola e irá receber comunicações da DGAE à medida que o processo for decorrendo.
O conjunto dos documentos deve ter um máximo de 10 páginas e ser organizado de forma a responder aos critérios de análise do mesmo:

Critérios
Pontuação (%)
Formação complementar centrada nas aprendizagens
10
Evidências de práticas inovadoras em sala de aula
10
Desenvolvimento de projetos
10
Capacidade de resposta a situações / ocorrências emergentes
10
Conhecimento do PE, RI e PAA do Agrupamento de Escolas de Vialonga
5
Experiência em Escolas TEIP
5

Conforme foi publicado na oferta.
O candidato selecionado terá de ter uma pontuação superior a 25% nestes critérios.


A Diretora

(Maria Armandina da Costa Soares) 

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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Poemas

VIGÍLIA

Paralelamente sigo dois caminhos
Abstracto na visão de um céu profundo.
Nem um nem outro me serve, nem aquele
Destino que se insinua
Com voz semelhante à minha. O melhor do mundo.
Está por descobrir. Não segue a lua
Nem o perfil da proa. Vai direito
Ao vago, incerto, misterioso
Bater das velas sinalado e oculto

Quero-me mais dentro de mim, mais desumano
Em comunhão suprema, surto e alado
Nas aragens nocturnas que desdobram as vagas,
Chamam dorsos de peixe à tona de água
E precipitam asas na esteira de luz.
Da vida nada se leva senão a melhoria
De um paraíso sonhado e procurado
Com ternura, coragem e espírito sereno.

Doçura luminosa de um olhar. Ameno
Brincar de almas verticais em pleno
Sol de alvorada que descerra as pálpebras.

Ruy Cinatti

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Isto admira?

As sucessivas avaliações da troika e o conteúdo de diversas declarações públicas de responsáveis do FMI, do BCE e da Comissão Europeia mostram a objectiva desorientação que os domina. Proferem afirmações contraditórias, dão o dito por não dito, falam dos riscos e das incertezas que o futuro nos reserva, enfim, de modo implícito ou de modo explícito assumem que as coisas estão a correr mal e que não sabem se irão melhorar. Por vezes, para aliviar o ambiente geral e a tensão, elaboram profissões de fé nos bons resultados que suposta e longinquamente hão-de chegar. A promessa de um paraíso situado algures no tempo deixou de ser monopólio das religiões.
Apesar de tudo isto, apesar de todas as evidências mostrarem a catástrofe em que estamos envolvidos, o designado «programa de ajustamento» mantém-se inalterado e as políticas de empobrecimento e miserabilização prosseguem. Porquê? Porque, por um lado, a troika tem como primeira preocupação assegurar que a dívida e os juros serão por nós integralmente pagos, de modo a garantir os elevados lucros financeiros dos fundos e bancos estrangeiros que avançaram com o empréstimo; e porque, por outro lado, há uma ideologia, que suporta os interesses dos donos do sistema que governa o mundo, que não pode ser posta em causa, sob pena desses interesses também o serem.
Estas duas preocupações da troika remetem para secundíssimo plano os interesses dos portugueses e de Portugal. Isto admira? Não admira. O que admira é termos um governo que não tem pejo nem vergonha de se assumir como primeiro e prestável representante dessa troika.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Bonecos de palavra

Bill Watterson, O Indispensável de Calvin & Hobbes, Gradiva.
Para ampliar, clicar na imagem.

domingo, 18 de novembro de 2012

Momento quase filosófico

Srulek entra bruscamente em casa de um rabino e diz:
– Rabino, rabino, Deus falou!
– O quê? O que me dizes?
– Sim, falou ao Pinkus! O Pinkus disse-me que falou com Deus.
– Creio bem que o Pinkus é um mentiroso – disse o rabino.
– E porque havia Deus de falar a um mentiroso? – perguntou então Srulek.
Jean-Claude Carrière, Tertúlia de Mentirosos, Teorema.

sábado, 17 de novembro de 2012

Avaliação docente: dois despachos (4)

No texto anterior, tentámos precisar aquilo que o Ministério da Educação pretende que venha a ser avaliado pelo avaliador externo, quando este for chamado a entrar numa escola que desconhece, quando entrar numa turma que nunca viu e quando observar duas aulas de um professor que também não sabe quem é. 
Hoje, procuraremos perscrutar o modo como o mesmo ministério prevê que isso aconteça. Na semana passada, vimos o que supostamente vai ser avaliado e agora veremos como se pretende que isso seja avaliado.
Presumivelmente para esclarecer o como fazer a avaliação, o secretário de Estado da Educação e Administração Escolar fez publicar três anexos ao Despacho n.º 13981/2012. 
O Anexo I designa-se «Guia de observação da dimensão científica e pedagógica». A designação «guia» é manifestamente presunçosa. Na realidade, este «guia» não passa de uma tabela com quatro colunas e cinco linhas, que se limita a repetir artigos do despacho. É até caricato que um secretário de Estado consuma o seu tempo, ou dos seus assessores, a construir tabelas em Word, que qualquer aluno do ensino básico saberia elaborar, e as mande publicar no Diário da República.
Mas vejamos a tabela.
Na primeira coluna está escrito: «parâmetro científico» e «parâmetro pedagógico»
Na segunda coluna estão escritas as especificações desses parâmetros, ou melhor, foram copiadas e coladas as especificações que estão escritas no articulado do despacho. Assim, para o «domínio científico», temos: na primeira linha, «conteúdos disciplinares»; na segunda linha, «conhecimentos da língua portuguesa que enquadram e agilizam a aprendizagem dos conteúdos disciplinares». Para  o parâmetro «segurança [!] pedagógica», repete-se, na primeira linha, a catrefada de especificações – numa só linha e de um só fôlego: «aspectos didácticos que permitam estruturar a aula para tratar os conteúdos previstos nos documentos curriculares e alcançar os objectivos selecionados, verificar a evolução da aprendizagem, orientando as actividades em função dessa verificação e acompanhar a prestação dos alunos e proporcionar-lhes informação sobre a sua evolução». Na outra linha, e com uma sintaxe que envergonharia o mais cábula dos alunos: «aspectos relacionais que permitam assegurar o funcionamento da aula com base em regras que acautelem a disciplina; envolver os alunos e proporcionar a sua participação nas actividades; estimulá-los a melhorar a aprendizagem».
A terceira coluna é dedicada ao registo dos aspectos «positivos» relativos a cada uma das especificações e a quarta coluna é dedicada ao registo dos aspectos «negativos» para as mesmas especificações.
E pronto, o avaliador externo, munido deste «guia de observação», discriminará o que de positivo e de negativo supostamente conseguiu detectar, através da sua lupa avaliativa, durante duas aulas. Preenchido o sui generis «guia», o avaliador externo deve passar ao preenchimento do Anexo II – mais uma tabela, desta vez com menos uma linha. Isto é, o avaliador externo, depois de dizer o que de positivo e de negativo viu na aula a que assistiu (Anexo I), vai classificar o que viu, numa escala de um a dez. Para o fazer, deve pôr o olho no Anexo III – anexo que (também) se limita repetir, (também) em forma de tabela, os cinco níveis de desempenho previstos no articulado, para cada um dos dois parâmetros (científico e pedagógico).
Por outras palavras: o avaliador externo determina – não se sabe segundo que critérios – o que de positivo e de negativo houve no desempenho do professor avaliado. De imediato, o avaliador externo salta para o acto classificativo, determinando — não se sabe segundo que critérios – se, no parâmetro científico, o colega avaliado tem um domínio pleno, muito bom, bom, regular ou com falhas graves; e se, no parâmetro pedagógico, tem uma segurança inequívoca, muito boa, boa, regular ou com falhas graves. 
Agora, a que realidade os termos «pleno», «muito bom», «bom», «regular» e com «falhas graves» nos reportam isso é coisa que ninguém sabe. A que realidade os termos «segurança inequívoca», «muito boa», «boa», «regular» ou com «falhas graves» nos reportam é coisa que também ninguém sabe. E não se sabendo a que realidade estes termos se referem, não é possível avaliar coisa alguma. Como também não é possível classificar de positivo ou de negativo, sem critérios definidos. Igualmente não é possível passar de uma classificação de positivo e negativo, sem critérios, para uma classificação de cinco níveis, cuja realidade de cada nível é desconhecida.

E assim se vai conhecendo o conceito de rigor de que Nuno Crato nos fala. E assim se continua a brincar às avaliações e com a dignidade profissional dos docentes.

(Continua)

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Uma carga policial «adequada»

Obviamente que atirar pedras a polícias que estão impávidos em frente a um parlamento não só é um acto bárbaro como é ridiculamente inútil, se a esse acto está associada alguma pretensão supostamente revolucionária.

Dito isto, é agora necessário dizer o resto. E o resto é dizer que não é verdade que a carga policial ocorrida ontem sobre os manifestantes, que estavam concentrados em frente à Assembleia da República, tenha sido «adequada» à situação.
A PSP diz que a carga policial foi «adequada», porque foi precedida de «avisos prévios, seletiva e ajustada à finalidade de cessação de comportamentos violentos e à reposição da ordem pública». Quem redigiu o comunicado certamente não sabe o significado do termo «adequado». A carga policial não é mais ou menos adequada pelo facto de terem existido avisos prévios. Como é óbvio, não existe relação entre uma coisa e outra. Mas, acima de tudo, a carga não foi selectiva e, por isso, não foi adequada. As imagens de todas as televisões mostram, sem deixarem margem para dúvidas, que não houve selectividade. Várias pessoas, que de jovens nada tinham e que não tocaram em nenhuma pedra, foram brutal e covardemente espancadas. Não houve nem selectividade nem profissionalismo, ao contrário do que, em uníssono, Cavaco Silva, Passos Coelho e Miguel Macedo afirmaram. Um polícia profissional não pode comportar-se como um tresloucado que ouvida a ordem de ataque põe-se a bater em tudo que lhe apareça à frente. Isso não é próprio de um profissional, isso é próprio de um tarado.

Todavia há uma hipótese de se poder considerar a carga policial adequada. Se o objectivo era assustar e intimidar as pessoas que pacificamente exercem o direito a manifestar-se, então a carga foi, de facto, adequada a essa finalidade. Se o objectivo era tentar desmobilizar futuras manifestações, então a carga foi adequada. Foi adequada, mas certamente que não será eficaz. Porque as manifestações vão continuar e os protestos serão cada vez maiores.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Tenho vergonha

Tenho vergonha da circunstância do meu país ser representado pelo actual primeiro-ministro. Nunca tinha assistido a tanto servilismo, a tanta subserviência de um representante de uma nação soberana perante outro representante de outra nação soberana. Passos Coelho comportou-se perante Merkel como o vassalo, na Idade Média, se comportava perante o seu suserano. Na conferência de imprensa ocorrida no Forte de S. Julião da Barra, Passos Coelho teve uma conduta indigna de um chefe de Governo. Literalmente, Passos Coelho prometeu fidelidade à política germânica e pediu protecção. Insistentemente repetiu que esperava ter conseguido dar boa informação à chanceler alemã de todo o trabalho que Portugal está a fazer no sentido do cumprimento do memorando da troyka, como se ela fosse o suserano a quem ele, vassalo, tem de prestar contas. Indecorosamente mesureiro, Passos Coelho coloca Portugal de joelhos perante a Alemanha.
Passos Coelho é, a nível interno, a personalização da mediocridade política que conduz o país para a miséria e para um retrocesso civilizacional de muitas décadas, e é, a nível externo, a personalização da bajulação que ofende a dignidade nacional.
Sinto vergonha de ser representado por um homem assim.

Hoje - Protesto


sábado, 10 de novembro de 2012

Avaliação docente: dois despachos (3)

No texto da semana passada, procurei centrar-me na obsessão, há algum tempo em moda, que (con)funde avaliação com quantificação, (con)fusão bem expressa no recente Despacho n.º 13981/2012, do Gabinete do Secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar.
Mas o mesmo despacho merece mais algumas observações.
O ministério da Educação pretende que um professor, supostamente avaliador, chegue a uma escola que desconhece, entre numa turma que desconhece e assista à aula de um outro professor que desconhece. Pretende igualmente que esse professor faça isto duas vezes, para, no total, assistir a 180 minutos de aulas. Pretende ainda que, observadas as duas aulas, o professor, que tem a suposta função de avaliar, deve ser capaz de averiguar se o seu colega:
a) domina os conteúdos disciplinares que lecciona;
b) domina os conhecimentos de língua portuguesa que enquadram e agilizam a aprendizagem dos conteúdos disciplinares;
c) estrutura a aula de modo a leccionar os conteúdos previstos nos documentos curriculares e de modo a  alcançar os objectivos previstos;
d) promove e verifica a evolução da aprendizagem e orienta as actividades em função dessa verificação;
e) acompanha a prestação dos alunos e informa-os da sua evolução;
f) faz funcionar a aula com base em regras que acautelem a disciplina;
g) envolve os alunos e os faz participar nas actividades;
h) estimula os alunos com vista à melhoria da suas aprendizagens.
O professor que supostamente vai avaliar deve também ser capaz de determinar se o colega supostamente avaliado demonstra um domínio pleno dos conteúdos disciplinares e de conhecimentos funcionais; ou se, não demonstrando um domínio pleno, demonstra um domínio muito bom dos conteúdos disciplinares e de conhecimentos funcionais; ou se, não demonstrando um domínio muito bom, demonstra um domínio bom dos conteúdos disciplinares e de conhecimentos funcionais; ou se, não demonstrando um domínio bom, demonstra um domínio regular dos conteúdos disciplinares e de conhecimentos funcionais; ou, por fim, se, não demonstrando um domínio regular, demonstra falhas graves nos conteúdos disciplinares e de conhecimentos funcionais. Isto no parâmetro científico.
O professor que supostamente vai avaliar deve ainda ser capaz de determinar se o colega supostamente avaliado demonstra uma segurança inequívoca tanto em termos relacionais como didácticos; ou se, não demonstrando uma segurança inequívoca, demonstra uma muito boa segurança em termos relacionais e pedagógicos (note-se, a partir deste nível, a excêntrica e misteriosa mutação do didáctico para o pedagógio...); ou se, não demonstrando uma segurança muito boa, demonstra uma boa segurança em termos relacionais e pedagógicos; ou se, não demonstrando uma boa segurança, demonstra uma segurança regular em termos relacionais e pedagógicos; ou, finalmente, se, não demonstrando um domínio regular, demonstra falhas graves em termos relacionais e pedagógicos. Isto no parâmetro pedagógico.
As fronteiras que supostamente deveriam distinguir os domínios pleno, muito bom, bom, regular e com falhas graves dos conteúdos disciplinares e dos conhecimentos funcionais estão omissas no despacho.
As fronteiras que supostamente deveriam distinguir uma segurança inequívoca, muito boa, boa, regular e com falhas graves em termos relacionais e pedagógicos também estão omissas no despacho.
Perante o omisso, resta o poder discricionário do professor supostamente avaliador. Precisamente o poder discricionário do professor que desconhece a escola, que desconhece a turma e que desconhece o professor que supostamente vai avaliar em 180 minutos.
E como prevê o despacho que este poder discricionário se concretize?
Tentaremos ver isso na próxima semana.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Nacos

Canto VIII

20
Nada de novo. O dinheiro não é uma invenção
do ar livre: foi criado nas fábricas,
nos compartimentos espessos, nos grandes edifícios.
Na cidade, o gosto a leite já lembra mais a máquina
que a vaca. Entardece, e as meias que de manhã
eram brancas são despidas em casa já negras.
O fumo baixo come lentamente os tornozelos
ocupados. A cidade bebe vinho, e alguns pais
distraídos cantam canções pornográficas
para as crianças adormecerem. Se alguém ouvir o galo
pensará de imediato que começou a catástrofe.

21
De qualquer modo, na cidade
as batalhas são dirigidas de outra forma:
empregados cobertos de civilização
num único momento transformam-se
em assassinos. Nem um segundo separa a educação
da barbárie.

22
As flores são mais móveis na cidade
do que na floresta: o vento provocado
pelo trânsito intenso não as deixa
sossegar. Só não se mata
por acasos do caminho: a vontade existe,
as armas são vendidas a preços comedidos
e duas balas chegam para quem não tem pontaria.
A cidade é uma infelicidade organizada.
Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem à Índia, Caminho.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Os nossos liberais continuam «sui generis»

Confesso a minha dificuldade em compreender os nossos liberais e aqueles que, mesmo não se dizendo liberais, são convictos defensores da absolutização dos méritos da iniciativa privada e consequentemente das políticas de privatizações de praticamente tudo o que é estatal. Publicamente não se afadigam de afirmar que a competitividade é o motor do desenvolvimento e que o Estado deve ser reduzido apenas ao essencial para, supostamente, libertar a chamada sociedade civil, de modo a que se possa criar, também supostamente, um mundo de bem-estar, próspero e sustentável.
As convicções devem ser respeitadas, desde que preencham o pré-requisito da honestidade. Ora a minha dificuldade começa precisamente aqui, porque não alcanço a (honesta) razão que leva alguns paladinos de tudo o que seja privatização, inesperada e repentinamente, a transmutarem-se em adversários, igualmente convictos, de «determinadas» privatizações.
Um exemplo recente: «A privatização da RTP seria muito problemática». Quem ontem fez esta afirmação foi Pinto Balsemão (SIC), depois de já a ter repetido no último ano dezenas de vezes. Pais do Amaral (TVI) tem-no feito com a mesma recorrência. A minha perplexidade é, pois, enorme. Quer um quer outro sempre foram empenhados protagonistas na defesa das privatizações, quer um quer outro sempre criticaram as despesas excessivas do Estado na RTP, quer um quer outro sempre se revelaram enlevados admiradores dos alegados méritos da concorrência. Por que razão então contestam a privatização da RTP? Porque, dizem, o mercado não aguenta com três canais privados, um deles terá de desaparecer. Aqui a perplexidade aumenta: não são os adeptos das privatizações que nos dizem que é precisamente pela via da concorrência que se seleccionam os melhores? Não é precisamente no livre jogo do mercado que os vencedores revelam o seu mérito? Em que ficamos então: as privatizações são uma boa política ou não são? As leis do mercado livre são boas ou não são? O mérito revela-se através da concorrência ou não se revela?
Os nossos liberais continuam muito sui generis...

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Bonecos de palavra

Bill Watterson, O Indispensável de Calvin & Hobbes, Gradiva.
Para ampliar, clicar na imagem.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Resgatados

Acabei de ler Resgatados, de David Dinis e Hugo Filipe Coelho – oferta de um bom amigo. Trata-se de um livro que, a partir da recolha de diversos testemunhos dos principais protagonistas dos acontecimentos, constrói uma narrativa, ora romanceada ora factual, do período que antecedeu o nosso último resgate financeiro.
Para além do interesse de um ou outro facto revelado e da interpretação dos estados de alma dos intervenientes — cuja subjectividade não é devidamente explicitada pelos autores —, Resgatados dá-nos a confirmação de uma realidade confrangedora e acima de tudo assustadora: as nossas elites políticas e financeiras são, utilizando a linguagem popular, «um bando de garotos». Da absoluta irresponsabilidade e megalomania de Sócrates ao despudorado oportunismo e à impreparação de Passos Coelho, passando pela obscena hipocrisia dos banqueiros, há de tudo e vale tudo nos meandros do poder.
Desequilibrado e incompetente como sempre foi, Sócrates conduziu o país à bancarrota e, todavia, recusou com afinco, até ser atraiçoado por Teixeira dos Santos, formular o pedido de ajuda financeira (segundo fonte comunitária, os cofres do Estado tinham apenas 300 milhões de euros, a poucas dias de ser necessário amortizar 4,5 mil milhões). 
Oportunista e sem ter a mais leve noção da realidade, Passos Coelho mentiu sistematicamente: desde ter afirmado que apenas tinha recebido um telefonema a avisá-lo do PEC IV, quando esteve pessoalmente reunido com Sócrates em S. Bento, até à desavergonhada série de promessas com que a todo o momento enganava os portugueses, para se distanciar do governo socialista.
Governo socialista que era uma nave de loucos, onde as três principais figuras (primeiro-ministro, ministro das Finanças e ministro dos Negócios Estrangeiros) há muito já não se entendiam; onde um ministro era substituído, em reuniões internacionais, por assessores do primeiro-ministro; onde os representantes de Portugal na União Europeia afirmavam posições contraditórias, consoante fosse o  ministério de onde provinham, etc.
O livro termina com o pornográfico discurso de Sócrates ao país a anunciar o que o conteúdo do memorando assinado com a troika «não tinha». O pornográfico discurso em que a Sócrates só lhe faltou «pular de contente» (expressão de Teixeira dos Santos), apesar de saber que estava a enganar os portugueses.
O excerto que se segue é esclarecedor:
«O primeiro-ministro chamou-os [aos assessores] ao seu gabinete para lhes dizer que o acordo [memorando da troyka] seria fechado nas horas seguintes, que ia fazer uma declaração e que já tinha uma ideia para o discurso.
"É muito simples, começa pelo que o acordo não tem. É ler as manchetes dos últimos dias."
Essa seria a tarefa deles. Recolher os títulos da imprensa que tinham falhado o alvo. Os assessores torceram o nariz. Víctor Escária também. Só uma pessoa no gabinete acompanhava a estratégia com evidente entusiasmo. Era José Almeida Ribeiro.
"O que interessa é o que é dito primeiro e com grande impacto – tudo o que vem a seguir é ruído."»
Fomos e somos governados por gente assim. Destas elites ainda não fomos resgatados.

domingo, 4 de novembro de 2012

Poemas

Se perguntarem: das artes do mundo?
Das artes do mundo escolho a de ver cometas
despenharem-se
nas grandes massas de água: depois, as brasas pelos recantos,
charcos entre elas.
Quero na escuridão revolvida pelas luzes
ganhar baptismo, ofício.
Queimado nas orlas de fogo das poças.
O meu nome é esse.
E os dias atravessam as noites até aos outros dias, as noites
caem dentro dos dias – e eu estudo
astros desmoronados, mananciais, o segredo.

Herberto Helder

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Avaliação docente: dois despachos (2)

Para a concepção avaliativa que está na moda e que tem dominado a última década, avaliar significa quantificar. Para esta concepção, uma avaliação que não quantifique não é uma verdadeira avaliação. Uma avaliação que não caiba numa folha de Excel torna-se ininteligível, inoperacionalizável, isto é, torna-se inútil. O desenvolvimento desta cultura que identifica a avaliação com quantificação assenta numa ingenuidade provinciana: a impossibilidade de uma avaliação objectiva ultrapassa-se atribuindo quantidades às qualidades. Não interessa que essa atribuição só possa ser realizada por um acto ele próprio subjectivo, o que interessa é que a aparência numérica esconde essa subjectividade, que, em muitos casos, é subjectividade mais arbitrariedade. O que verdadeiramente interessa é que o acto avaliativo tenha, na sua aparência, a «credibilidade» que um número transmite, tenha a «segurança» que um número sugere, tenha o «rigor» que um número supõe.
O recente despacho n.º 13981/2012 do Gabinete do Secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar é um exemplo delicioso desta cultura naif, obcecada pela «excelização» do acto de avaliar. 
Alguns exemplos. 
O n.º 2, do Art.º 2.º diz que: A avaliação da dimensão científica e pedagógica é composta por uma componente interna e uma componente externa que correspondem a 60 % do valor obtido no resultado final da avaliação do desempenho do docente.»
O n.º 3, do mesmo artigo, acrescenta que: «a avaliação externa da dimensão científica e pedagógica realiza-se através do processo de observação de aulas [...], [cuja] ponderação é de 70 % na avaliação global da dimensão científica e pedagógica.» 
O Art.º 4.º, por sua vez, discrimina que: «a avaliação externa da dimensão científica e pedagógica efetua-se com base nos parâmetros "científico" e "pedagógico", com igual ponderação de 50 % na sua classificação final.» 
A seguir, o Art.º 5.º, define, no seu n.º 1, que: «O parâmetro científico reporta-se aos conteúdos disciplinares que o docente leciona e representa 40% da percentagem prevista no n.º 3 do artigo 2.º.»
O n.º 2 do mesmo artigo determina adicionalmente: «o parâmetro científico integra ainda conhecimentos de língua portuguesa que enquadram e agilizam a aprendizagem dos conteúdos disciplinares que representam 10 % da percentagem prevista no n.º 3 do artigo 2.º.»
O artigo que se segue, o 6.º, não ficando atrás, enuncia, no seu n.º 2, que: «Os elementos didáticos [que fazem parte do parâmetro "pedagógico"] representam 40 % da percentagem prevista no n.º 3 do artigo 2.º [...].»
O mesmo artigo, mas agora no seu n.º 3, explicita que: «os elementos relacionais [que também fazem parte do parâmetro "pedagógico"] representam 10 % da percentagem prevista no n.º 3 do artigo 2.º [...].»
Para finalizar, o Art.º 8.º, no seu n.º 1, especifica que: «a classificação do desempenho de cada docente resultante da observação de aulas realizada pelo avaliador externo efetua-se numa escala de 1 a 10 valores.»

Portanto, a avaliação da dimensão científica e pedagógica vale 60% da avaliação global do desempenho. A avaliação externa destas duas dimensões, realizada através da observação de aulas, pesa 70%, naqueles 60% (os restantes 30% da avaliação das duas dimensões são apurados pelo avaliador interno). O parâmetro científico e o parâmetro pedagógico têm, cada um, a ponderação de 50%. O parâmetro científico subdivide-se em conteúdos disciplinares e em conhecimentos de língua portuguesa. Os conteúdos disciplinares (presume-se que seja o seu domínio científico) valem  40%, dos 70% (que são o peso da observação de aulas), e os conhecimentos de língua portuguesa têm uma ponderação de 10%, dos mesmos 70%. Depois temos o parâmetro pedagógico que se subdivide em: elementos didácticos e em elementos relacionais. Os elementos didácticos pesam 40% e os elementos relacionais 10%, ambos relativos aos 70% (observação de aulas). No final, tudo isto deve ser traduzido num número mágico, de 1 a 10.
Programar estas percentagens na folha de Excel, introduzir os algarismos nos quadradinhos e, por fim, ver que resultado vai surgir na coluna do «total» constituirão, para alguns, momentos de singular enlevo. 
A encenação quantitativa está, pois, montada, para fruição de mentores e prosélitos. A muita ou pouca seriedade, fiabilidade e fidelidade que toda esta encenação envolve é uma parte que, a mentores e prosélitos, misteriosamente já não interessa.

(Continua)