domingo, 31 de maio de 2009

«A reforma da Educação foi a reforma mais bem conseguida deste Governo»



Ontem, em reacção à manifestação dos professores, o primeiro-ministro afirmou que a reforma da Educação foi a reforma mais bem conseguida do seu Governo.

Se assim é, se a reforma da Educação é a reforma mais bem conseguida deste Governo, nós, professores, que sabemos, melhor do que ninguém, em que realmente consistiu esta reforma, e que a classificamos, honestamente, como o pântano da incompetência, da injustiça e da arbitrariedade, podemos imaginar a qualidade das reformas levadas a cabo nas outras áreas da governação.
Se o desastre da Educação foi a reforma mais bem conseguida, que adjectivação será apropriado utilizar para qualificar as outras reformas?
Esta era a realidade mais temida, mas que foi confirmada por Sócrates: se a referência para avaliarmos este Governo é o trabalho realizado pelo Ministério da Educação, estamos, então, sem qualquer dúvida, perante um dos piores governos, depois de Abril de 1974.

Se a reforma da Educação é a reforma mais bem conseguida deste Governo, nós, professores, somos, então, profissionais incompetentes. Nós, professores, que já fizemos três manifestações gigantes e duas greves com uma adesão acima dos 90% contra a reforma mais bem conseguida, não merecemos o Governo que temos nem estamos, como se vê, à altura de tão elevada reforma.
Demita-nos, senhor primeiro-ministro. Demita os 70 mil, os 100 mil, os 120 mil professores que já disseram e continuam a dizer «Não» à sua mais bem conseguida reforma.

Leve a sua reforma até ao fim, faça dela a reforma perfeita: demita-nos.

sábado, 30 de maio de 2009

FOI HOJE!






Pouco interessa saber se fomos 55 mil, conforme diz a polícia, ou se fomos mais de 70 mil, conforme diz a plataforma sindical.
Fomos muitos, voltámos a ser muitos. Voltámos a encher a Avenida da Liberdade.
Depois de ano e meio de luta intensa e desgastante, depois de todas as chantagens e ameaças, depois da gigantesca pressão feita pelo Ministério da Educação e daqueles que, nas escolas, mais não fazem do que ser servis zelotas dos desmandos do Ministério, depois de tudo isto, cerca de metade dos professores voltou à rua e desmentiu Maria de Lurdes Rodrigues: a reforma da avaliação não está ganha, porque esta aberração de reforma da avaliação nunca poderá ser ganha.

Como também não está ganho o estatuto da carreira docente, como também não está ganho o novo modelo de gestão, como não está ganho nada do que esta ministra e este Governo fizeram na Educação.

Iremos desmantelar, uma a uma, todas as malfeitorias que durante os últimos quatro anos o Partido Socialista, irresponsavelmente, fez ao sistema educativo português — era um mau sistema, mas José Sócrates conseguiu fazer dele um monstro.
Foi isto que, hoje, e mais uma vez, voltámos a afirmar.
Este é o nosso compromisso. E vamos cumpri-lo.

É HOJE!

«O Ministério da Educação virou todos contra todos»
José Gil, sítio do Público (29/5/09)

O Ministério da Educação virou todos contra todos, instaurou um clima de desconfiança, de medo de represálias, de humilhação, de desânimo, de compadrio, de manipulação. O ambiente nas escolas portuguesas nunca esteve tão mau.

Em vinte e oito anos de carreira, nunca vivi nem vi nada de semelhante. Vejo muitas e muitos colegas com quarenta anos de idade a falarem e a desejarem a possibilidade da reforma antecipada. Vejo muitas e muitos colegas a serem objecto das mais vis e irreparáveis injustiças. Vejo a degradação a que a Escola portuguesa está a chegar. E ao mesmo tempo vejo uma gigantesca farsa, um gigantesco faz-de-conta que tenta desesperadamente, irresponsavelmente e desavergonhadamente mostrar que vivemos na Escola pacífica a caminho da Escola perfeita.

Há quem pense que amontoando tecnologia dentro das salas de aula e fazendo restauros nos edifícios escolares cria uma escola nova. Estas cabeças medíocres não vêem que quem faz as escolas são os alunos e os professores. E não vêem que com alunos mal preparados, por via do facilitismo oficial obcecado pela estatística, e com professores ofendidos, maltratados e vilipendiados nenhuma escola sobrevive, nenhuma Educação se transmite nem constrói.

Ora, nada disto aconteceu por geração espontânea. Nada disto aconteceu por fecundação anónima. Esta situação não tem mãe desaparecida nem pai incógnito. A situação a que chegou a Escola portuguesa tem responsáveis identificados. Esses responsáveis são: a senhora que ainda dirige a pasta da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, e o homem que ainda dirige o Governo, José Sócrates.
Estes são os culpados.

Hoje é dia de, publicamente, os acusarmos do crime de tentativa de homicídio da Educação.
Hoje, sábado, 30 de Maio, às 15,00 horas, no Marquês de Pombal, em Lisboa.

Reunião com o grupo parlamentar do CDS-PP

A APEDE, o MUP e o PROmova (que delegou a sua representação nos colegas Mário Machaqueiro, Ricardo Silva e Ilídio Trindade) foram esta manhã [quinta-feira] recebidos, na Assembleia da República, pelo deputado Diogo Feyo, em representação do grupo parlamentar do CDS/PP, tendo tido oportunidade de apresentar as linhas de força do “Compromisso Educação”, iniciativa que se insere num conjunto de contactos que temos vindo a manter, com os diversos partidos políticos da oposição, com vista a sensibilizar os seus responsáveis para a importância de assumirem publicamente, uma posição e um compromisso político de clara ruptura com a actual política educativa.

Neste sentido, os representantes dos movimentos independentes de professores abordaram um conjunto de questões e problemas, deixando claras as suas principais reivindicações, de que são exemplos: o reforço da dignificação e valorização da profissão docente; a revisão do ECD, com uma carreira única, abolindo-se a figura do professor titular e sem imposição de quotas para progressão/avaliação; a garantia de uma gestão democrática nas escolas; a profunda revisão do modelo de ADD; os perigos da municipalização do ensino e de concursos de professores realizados a nível de escola/região; a reformulação urgente do Estatuto do Aluno; a reorganização curricular e dos programas das disciplinas; a denúncia de uma gestão centralista das escolas por parte do ME que desvirtua a sua autonomia; a necessidade de garantir uma maior estabilidade profissional para os colegas contratados; a recusa de uma prova de ingresso, com carácter eliminatório, que se pretende aplicar a colegas que já leccionam há vários anos e que só vem descredibilizar a formação inicial de professores, etc.

Recebemos da parte do deputado Diogo Feyo a concordância com vários dos aspectos e preocupações atrás referidas, a disponibilidade para o diálogo e para a construção de uma alternativa à actual política educativa, sendo-nos mesmo solicitada a divulgação e colaboração (com envio de propostas e sugestões de alteração) na definição final da proposta de reestruturação do ECD, da responsabilidade do CDS/PP, que está actualmente em fase de discussão pública:
http://cdsnoparlamento.pp.parlamento.pt/index.php?idmenu=4&lg=1&idn=644

Sobre esta proposta, levantámos algumas dúvidas e reparos, nomeadamente: o tipo de funções de administração e gestão escolar que se enquadram no percurso profissional que dará acesso aos índices remuneratórios de topo, a forma como os actuais “professores titulares” serão posicionados na carreira, lembrando as injustiças e iniquidades que derivaram do concurso de para professor titular, e que não podem deixar de ser corrigidas, a questão da prova de ingresso que o CDS/PP faz constar na referida proposta, embora sob moldes diferentes dos propostos pelo ME, etc.

A APEDE, MUP e PROmova continuarão, nas próximas semanas, os contactos com os restantes grupos parlamentares, procurando que este “Compromisso Educação” se concretize e seja um contributo válido para uma efectiva mudança de rumo no domínio da Educação, com vista à defesa da qualidade do Ensino e da Escola Pública em Portugal.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

É amanhã

Tao falava, muitas vezes, no espírito do vale: o local onde todas as águas afluem.

Que, amanhã, o Marquês de Pombal esteja imbuído desse espírito, que seja o vale onde todos os professores afluam.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Manifesto conjunto

Encontramo-nos Sábado

1) Este governo desfigurou a escola pública. O modelo de avaliação docente que tentou implementar é uma fraude que só prejudica alunos, pais e professores. Partir a carreira docente em duas, de uma forma arbitrária e injusta, só teve uma motivação economicista, e promove o individualismo em vez do trabalho em equipa. A imposição dos directores burocratiza o ensino e diminui a democracia. Em nome da pacificação das escolas e de um ensino de qualidade, é urgente revogar estas medidas.

2) Os professores e as professoras já mostraram que recusam estas políticas. 8 de Março, 8 de Novembro, 15 de Novembro, duas greves maciças, são momentos que não se esquecem e que despertaram o país. Os professores e as professoras deixaram bem claro que não se deixam intimidar e que não sacrificam a qualidade da escola pública.


3) Num momento de eleições, em que se debatem as escolhas para o país e para a Europa, em que todos devem assumir os seus compromissos, os professores têm uma palavra a dizer. O governo quis cantar vitória mas é a educação que está a perder. Os professores e as professoras não aceitam a arrogância e não desistem desta luta: sair à rua em força é arriscar um futuro diferente. Saír à rua, todos juntos outra vez, é o que teme o governo e é do que a escola pública precisa. Por isso, encontramo-nos no próximo sábado.

Subscrevem:
Os blogues: A Educação do Meu Umbigo (Paulo Guinote), ProfAvaliação (Ramiro Marques), Correntes (Paulo Prudêncio), (Re)Flexões (Francisco Santos), Educação SA (Reitor), O Estado da Educação (Mário Carneiro), Professores Lusos (Ricardo M.), Outròólhar (Miguel Pinto), Pérolas de Cultura (Helena Feliciano), O Cartel (Brit.com, Advogado do Diabo), Escola do Presente (Safira), Anabela Magalhães, Bilros & Berloques, Sinistra Ministra, Revisitar a Educação (Fátima André), Sexo Grátis, Tempo de Teia, O Vento que Passa, Bioterra, Catarse, Mais3KD, Fénix Vermelha, Terras Altas, pé-ante-pé, Olhares, Olhai os Lírios dos Campos

Os movimentos: APEDE (Associação de Professores em Defesa do Ensino), MUP (Movimento Mobilização e Unidade dos Professores), PROmova (Movimento de Valorização dos Professores), MEP (Movimento Escola Pública), CDEP (Comissão em Defesa da Escola Pública)

Às quartas

O Instante

Onde estarão os séculos, onde o sonho
de espadas que os tártaros sonharam,
onde os sólidos muros que aplanaram,
onde a árvore de Adão e o outro Lenho?
O presente está só. Mas a memória
erige o tempo. Sucessão e engano,
é a rotina do relógio. O ano
jamais é menos vão que a vã história.
Entre a alba e a noite há um abismo
de agonias, de luzes, de cuidados;
o rosto que se vê nos desgastados
e nocturnos espelhos não é o mesmo.
O hoje fugaz é ténue e é eterno;
nem outro Céu nem outro Inferno esperes.

Jorge Luís Borges
(Trad.: Maria da Piedade M. Ferreira)

terça-feira, 26 de maio de 2009

O dia 30 espera por nós

30Maio2009

©ProtestoGráfico

Comunicado da APEDE e do MUP


No próximo dia 30 de Maio os professores vão sair novamente à rua em mais uma Manifestação Nacional. A APEDE e o MUP participarão nessa manifestação da mesma forma que têm participado em todas as iniciativas onde haja professores em luta contra as políticas de um Ministério e de um Governo que tudo fizeram para desprestigiar e humilhar a profissão docente, incapazes de compreender que ela é um pilar estruturante de qualquer sociedade empenhada em cultivar a autonomia intelectual, a construção do conhecimento e a habilitação consistente para o desempenho profissional.
Onde estiverem colegas em luta, nós estaremos. Sempre.

MAS…
MAS não esquecemos que esta forma de luta de pouco valerá se não for integrada num plano mais vasto, coerente e determinado de combates a travar pelos professores.
Desejamos a unidade de todos os docentes, pois sabemos que a sua divisão só serve aqueles que com ela querem reinar, e que com ela prolongam a sua permanência degradante no poder.
MAS não aceitamos que, em nome da unidade, se procurem silenciar outras perspectivas de luta e se imponham falsos unanimismos, pelo que continuamos a solicitar a divulgação pública das propostas de luta aprovadas nas reuniões de consulta aos professores.
Compreendemos que os professores têm pela frente um combate árduo e exigente e que a plena satisfação das nossas exigências não se situa no virar da esquina.
MAS recusamos a ideia de que esta luta se vai arrastar por tempo indeterminado, sem radicalização, e com um passo de caracol ritmado por negociações sindicais incapazes de oferecer resultados visíveis.
Queremos contribuir para retirar a maioria absoluta ao partido de um primeiro-ministro arrogante e prepotente, que substituiu a governação do país por mera propaganda sem conteúdo e cuja passagem pelo poder teve, como únicos efeitos visíveis, o empobrecimento da vivência democrática, a retracção dos direitos laborais para níveis anteriores ao 25 de Abril e a consagração da desfaçatez impune como método de acção política.
MAS, ainda assim, pensamos que não podemos hipotecar os combates do presente a resultados eleitorais incertos dos quais poderão resultar arranjos políticos desfavoráveis às legítimas aspirações dos professores.

As lutas decisivas deveriam estar a ser travadas AQUI E AGORA.

A Manifestação de 30 de Maio é importante. MAS NÃO CHEGA.

Este é um momento grave da vida nacional.
Portugal debate-se com a maior crise económica, social e política dos últimos vinte anos.
A vida pública deste país está atolada num lodaçal de iniquidades, de pequenos e grandes despotismos e de uma falta de sentido ético da parte dos agentes políticos, como há muito tempo se não via. Tal situação ameaça os próprios fundamentos da democracia.
Este tempo não é, pois, de festa ou de manifestações de júbilo.
Por tudo isto, apelamos a todos os colegas que integrem a Manifestação do dia 30 para que o protesto seja marcado pela maior firmeza e, também, pela maior seriedade.
Que ninguém mostre sinais de regozijo ou de alegria apenas porque a Ministra da Educação está, supostamente, de partida. Os nossos problemas são graves, são imensos, e não se resolvem com a mera remoção desta equipa ministerial, por muito responsável que ela seja pelo estado de degradação a que chegou o sistema de ensino em Portugal.
A solução dos nossos problemas passa, isso sim, pelo regresso da grande maioria dos professores a uma atitude de combate determinado e sem cedências, em torno de reivindicações fundamentais:
    • Revisão do ECD e supressão imediata da divisão da carreira entre titulares e não titulares;

    • Suspensão do actual modelo de avaliação do desempenho e negociação de um modelo sério, à luz de uma carreira docente reestruturada em moldes que não criem desigualdades artificiais e injustas;

    • Manutenção do vínculo por nomeação definitiva para todos os professores;

    • Preservação dos quadros de escola;

    • Manutenção do carácter nacional dos concursos de colocação de professores e do princípio de que a melhor graduação corresponde à melhor colocação;

    • Fim do modelo de administração escolar instituído pelo Ministério e restabelecimento da gestão democrática das escolas.

    MUP (Movimento para a Mobilização e Unidade dos Professores)
    APEDE (Associação de Professores e Educadores em Defesa do Ensino)

Bonecos de palavra

Para ampliar, clicar na imagem.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Registos do fim-de-semana

85 mil na rua contra o Governo

Eleição dos directores já levou quatro escolas aos tribunais

Abaixo-assinado contra fecho de creche

Crise leva cada vez mais jovens a vender na Feira da Ladra
Diário de Notícias (24 /5/09)

Todos sentem que o ano foi em grande parte perdido.
Pior: todos sabem que a escola está, hoje, pior do que há um ano.

Público (24 /5/09)

Cavaco pressiona e o Hospital recua: enfermeiro já não será suspenso

Governos europeus pedem rapidez no caso Lopes da Mota

O governador Vítor Constâncio é o terceiro mais bem pago do mundo, com 250 mil euros por ano: à frente estão os colegas de Hong Kong e Itália

Crise na construção promete levar 95 mil para o desemprego

Presidente da Sonae contraria Teixeira dos Santos:
«Não há qualquer actividade em retoma»


As mil perguntas dos deputados que ficaram sem resposta do Governo
— O Parlamento deve fiscalizar o Governo. Mas como?
As questões embatem num muro de silêncio.

i (23/5/09)

Sócrates e dois ministros vaiados em escola
Público (23/5/09)

Comissão Europeia considera Magalhães ilegal
— Bruxelas entende que Portugal violou leis da concorrência
ao fazer contratos por ajuste directo

Sol (22/5/09)

Dia 30 de Maio - Manifestação Nacional

[Camisolas_PROmova.jpg]
O PROmova propõe, como possibilidade de traje a envergar na manifestação nacional do próximo dia 30 de Maio, esta sugestiva camisola que, na frente, se despede de Maria de Lurdes Rodrigues e do partido comandado por José Sócrates e, nas costas, cita uma das muitas inclassificáveis afirmações de Margarida Moreira, incansável ajudante de campo da ministra, na região Norte.

domingo, 24 de maio de 2009

O ovo da serpente-02

(Com o devido respeito pelo autor)

«O presidente do IEFP afirma que eliminou 535.000 desempregados dos ficheiros do IEFP em 2008. Em 2009 já foram eliminados dos ficheiros mais 143.000 desempregados.
Segundo o IEFP, o desemprego registado em 30.4.2009 atingiu 491.635, ou seja, mais 23,7% do que em Abril de 2008. Apesar deste elevado crescimento, este número só não é muito maior porque todos os meses o IEFP elimina dezenas de milhares de desempregados dos seus ficheiros. Por trás de cada eliminação está uma pessoa, quando não mesmo uma família, em grandes dificuldades. O Presidente do IEFP, Francisco Madelino, numa intervenção que fez durante um programa da Antena 1 e da RTPN entre 11-12 horas da manhã realizado no dia 20.5.2009, em que também participámos (o vídeo desse programa está disponível no “site” da RTP), afirmou que o IEFP tinha eliminado, durante o ano de 2008, 535.656 desempregados dos seus ficheiros (deu médias mensais, mas com elas facilmente se calculou valores anuais). E as razões que apresentou para justificar a eliminação de tão elevado número de desempregados são várias (Quadro I), sendo as mais importantes duas: as auto-colocações (24,6% do total) e as eliminações de desempregados que não responderam às notificações (cartas) enviadas pelo IEFP (51,6%, do total). Em relação às auto-colocações registadas em 2008 – 132.000 desempregados segundo o Presidente do IEFP – correspondem ao dobro das colocações feitas pelo IEFP no mesmo ano. Em 2008, o IEFP conseguiu arranjar emprego para apenas 64.521 desempregados que estavam inscritos nos Centros de Emprego, o que corresponde somente a 48,9%, ou seja, a menos de metade das auto-colocações verificadas em 2008. A ser verdade o número de auto-colocações, o mínimo que se poderá dizer é que o IEFP tem uma muito baixa produtividade neste campo. Relativamente aos 276.000 desempregados que o Presidente do IEFP afirmou terem sido eliminados dos ficheiros com base no facto de não terem respondido à Notificação (carta) enviada pelo IEFP, o mínimo que se poderá dizer é que é uma decisão insólita e muito conveniente para baixar artificialmente o número de desempregados. A carta nem é registada (a CGTP fez uma proposta para que, pelo menos, a carta fosse registada, mas o Presidente do IEFP recusou), portanto nem se tem a certeza que ela foi recebida pelo desempregado, e sem qualquer outro aviso elimina-se o desempregado do ficheiro considerando que ele já não está nessa situação.
Em 2009, só no período de Janeiro a Abril de 2009, já foram eliminados, pelo mesmo processo, 143.648 desempregados dos ficheiros do IEFP (Quadro II), o que contribuiu para reduzir significativamente os dados do desemprego registado divulgados mensalmente pelo IEFP. A mentira continua a ser um instrumento de manipulação da opinião pública. Na sua intervenção no programa da RTPN, de um anticomunismo primário que me dispenso de comentar, Francisco Madelino também disse duas grandes mentiras. A primeira é que utilizo «dados de Eugénio Rosa» (foram as palavras que utilizou), procurando dar a ideia de que “fabrico” dados. Os dados que utilizo sobre desemprego são sempre dados oficiais do INE e do IEFP a que qualquer leitor pode ter acesso através da Internet. A segunda grande mentira é que os critérios que o IEFP está a utilizar para eliminar desempregados dos ficheiros foram aprovados pela CGTP. Os critérios constam de uma Norma Interna aprovada pelo Conselho Directivo do IEFP no qual a CGTP não participa. A falta de credibilidade dos dados sobre o desemprego registado divulgados mensalmente pelo IEFP exige, pelo menos, duas medidas imediatas:
(1) Que seja realizada uma auditoria externa independente, não ao chamado “apagão”, que é apenas a ponta do iceberg, mas sim aos critérios utilizados e à sua aplicação pelo IEFP para eliminar dos seus ficheiros, todos os meses, dezenas de milhares de desempregados que se inscreveram nos Centros de Emprego;
(2) Que passe a constar da Informação que o IEFP divulgada todos os meses, também o número de desempregados que são eliminados dos ficheiros, assim como as respectivas razões.
O IEFP, que é um instituto público pago com uma percentagem dos descontos dos trabalhadores para a Segurança Social, não pode ser um instrumento utilizado pelo governo para manipular e enganar a opinião pública sobre o desemprego. É necessário conhecer os verdadeiros números do desemprego no nosso País para que sejam aplicadas medidas adequadas de combate ao desemprego, pois as aprovadas até este momento pelo governo têm sido manifestamente insuficientes, já que os seus efeitos são reduzidos, como rapidamente se conclui face ao aumento vertiginoso do desemprego em Portugal

Eugénio Rosa
http://infoalternativa.org/spip.php?article909

Pensamentos de domingo

«Uma recontagem dos votos.»
(Respondeu quando lhe perguntaram qual seria a sua primeira medida se ganhasse as eleições para "mayor" de Nova Iorque).
William F. Buckley


«A chave do sucesso é a sinceridade. Se aprendeste a fingir a ser sincero tens o sucesso assegurado.»
Jean Giradoux

«Esta sociedade cresce para trás, exactamente como o rabo da vitela.»
Petrónio
In José Manuel Veiga, Manual para Cínicos.

Chick Corea e Hiromi Uehara

sábado, 23 de maio de 2009

Ao sábado: momento quase filosófico

Acerca da Ética
«Separar o que é bom do que é mau é a esfera de acção da ética. É igualmente o que mantém padres, especialistas e pais ocupados. Infelizmente, o que mantém as crianças e os filósofos ocupados é perguntar aos padres, especialistas e pais: "Porquê?"»

Acerca do Absolutismo Ético: Lei Divina
«A Lei Divina torna ética uma coisa simples: se Deus diz que está errado, está total e absolutamente errado. Ponto final.
No entanto, existem algumas complicações. A primeira é como podemos ter a certeza do que Deus pensa verdadeiramente? Os fundamentalistas têm solução para esse problema: é o que dizem as Escrituras. Mas como é que as pessoas das escrituras sabiam que os sinais que estavam a receber eram realmente de Deus? Abraão pensou que tinha sido chamado por Deus para sacrificar o filho no altar. Abraão pensa: "Se Deus manda, é melhor obedecer." A nossa primeira pergunta a Abraão é: "És parvo ou quê? Ouves 'Deus' a mandar-te fazer uma coisa doida e nem sequer lhe pedes uma identificação?"
Outro problema que se prende com a obediência à Lei Divina é a interpretação. O que significa ao certo honrar pai e mãe? Um postal no Dia da Mãe? Casar com o filho desinteressante do dentista da família, como os honrados pai e mãe querem? Estas questões não parecem questões talmúdicas excessivamente picuinhas quando o filho do dentista tem um metro e cinquenta e pesa 120 quilos.
Uma característica fundamental da Lei Divina é que Deus tem sempre a última palavra.
Moisés desce o monte Sinai com as Tábuas da Lei na mão e anuncia às multidões reunidas:
— Tenho uma boa notícia e uma má notícia. A boa notícia é que consegui convencê-Lo a reduzir para dez. A má notícia é que o "adultério" não foi excluído.»
Thomas Cathcart e Daniel Klein, Platão e um Ornitorrinco Entram num Bar...

30 de Maio: nova etapa de uma luta que não terminará enquanto a incompetência estiver no poder

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A ministra falou

Notícia do sítio do Público (7h35, 21/05/09):
«A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, considera que a avaliação de desempenho dos professores é "uma reforma ganha", afirmando compreender a insatisfação docente, tendo em conta a rotura introduzida num "marasmo" de 30 anos de "total indiferenciação".
"Do meu ponto de vista foi uma reforma ganha. Temos hoje milhares de professores a fazer a avaliação, o que significa que é hoje um adquirido nas escolas. (...) Oitenta mil professores entregaram os objectivos individuais e 30 por cento destes requereram uma componente da avaliação que era facultativa", afirma a ministra. Para Maria de Lurdes Rodrigues, esta reforma introduziu uma rotura "num marasmo de mais de 30 anos de total indiferenciação e pseudo igualitarismo", já que "a ausência total de princípios mínimos de competição" era "muito negativa para as escolas".
[...] Questionada sobre as manifestações realizadas no ano passado e a do próximo dia 30, Maria de Lurdes Rodrigues afirma "compreender" o descontentamento dos docentes, mas adianta que a sua preocupação "é garantir que o profissionalismo não é beliscado com a insatisfação, algo que todos temos que exigir".»

Do ponto de vista político, a ministra da Educação, para além de irresponsável, é uma pessoa sem pudor. Maria de Lurdes Rodrigues tem sido várias vezes comparada ao ex-vice-primeiro-ministro iraquiano, Tareq Aziz, que, com as tropas americana às portas de Badgad, proclamava a vitória e o extermínio das forças inimigas. Esta comparação não é exagerada. Em ambos os casos está presente uma intencional tentativa de adulteração da realidade e uma objectiva inconsciência do grotesco. A história, lamentavelmente, está cheia de políticos assim. Maria de Lurdes Rodrigues é, tristemente, mais um caso. Tristemente, para a Educação em Portugal e para aqueles que tinham o direito a ter uma formação adequada (os alunos) e para aqueles que tinham o direito a exercer com dignidade a sua profissão (os professores). Nestes quatro anos, alunos e professores foram extorquidos desses elementares direitos. No futuro, a história a julgará.
Mas, hoje, quem a julga somos nós. Em primeiro lugar, nós, os professores, temos a obrigação de, enquanto profissionais, desmontar a enorme, a gigantesca mentira que tem sido e continua a ser a política educativa deste Governo.
Dizer que a avaliação de desempenho dos professores «foi uma reforma ganha» é o mesmo que dizer: «os iraquianos ganharam a guerra e os americanos nem sequer entraram no Iraque». Tem rigorosamente o mesmo valor e a mesma verdade.
Ao ler a afirmação: «temos hoje milhares de professores a fazer a avaliação, o que significa que é hoje um adquirido nas escolas», recordei-me dos tempos em que Herman José tinha atingido um estatuto tal (merecido, na altura) que lhe era permitido, em qualquer lugar e a qualquer hora, dizer tudo o que lhe viesse à cabeça, por mais disparatado e excêntrico que fosse. Maria de Lurdes Rodrigues se quiser atingir aquele estatuto de inimputabilidade tem, primeiro, de assumir que é uma pantomineira. Se tiver essa coragem, nós perdoar-lhe-emos tudo, como fazíamos ao Herman, mas, se não fizer essa opção de fundo, não poderemos permitir que se julgue no direito de faltar à verdade e de querer enganar quem a lê ou ouve, sem ser desautorizada e desmentida. A Educação não é o reino da pantominice. É uma coisa séria, tão séria que não deveria poder ser entregue nas mãos de qualquer um ou de qualquer uma.
Nas escolas, o que se passa é um enorme e vergonhoso simulacro de avaliação de desempenho. Neste preciso momento em que escrevo, há ainda quem vá formular objectivos individuais. Objectivos individuais cujo o grau de cumprimento será avaliado daqui a um mês, e cujos resultados constituirão a avaliação de desempenho do último ano e meio de serviço prestado pelo professor. Eu repito: Neste preciso momento em que escrevo, há ainda quem vá formular objectivos individuais. Objectivos individuais cujo o grau de cumprimento será avaliado daqui a um mês, e cujos resultados constituirão a avaliação de desempenho do último ano e meio de serviço prestado pelo professor.
No fim de Maio, formulam-se objectivos. Em Junho, faz-se a avaliação. E de uma assentada fica ano e meio avaliado.
Que não se argumente que a maioria dos tais 80 mil professores formularam os objectivos em Fevereiro, não agora. Qual é a diferença substantiva entre uma situação e outra? Uns avaliam ano e meio num mês e os outros avaliam ano e meio em quatro meses. Que diferença isto faz? Que seriedade existe nisto? Nenhuma.
E se fossemos, agora, analisar o conteúdo dessa avaliação e os seus instrumentos, a conclusão seria exactamente a mesma: nenhuma seriedade, nenhum rigor.
Tudo isto é a «reforma ganha». Tudo isto é o que está «adquirido nas escolas». Tudo isto é o «profissionalismo que não é beliscado».
Esta ministra da Educação conseguiu o que parecia impossível: conseguiu fazer do anterior modelo de avaliação um exemplo de rigor e de exigência. Comparativamente com o que agora se passa, não existe a mínima dúvida de que o modelo anterior — aquele que, há anos, eu e muito boa gente criticávamos — era mais sério, mais justo e mais exigente.
A verdade é esta. O resto é farsa política, é desvario, é incapacidade, é desnorte, é pantominice.

P.S. Mas as palavras da ministra não são todas despiciendas. Elas trazem uma boa notícia: se foram 80 mil os que entregaram os objectivos individuais, e se nós somos 140 mil, isso significa que 60 mil professores se recusaram a fazê-lo. Um número muito superior aos 40 mil adiantados por alguns sindicatos.
Conclusão: mais de 40% dos professores recusaram entregar os objectivos e a ministra considera que a reforma está ganha e que é um dado adquirido.
Tenho de me corrigir: Tareq Aziz não era assim tão mau.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Debate sobre Educação no Parlamento

Informação enviada pelo MUP:

Na sequência dos contactos que o MUP, a Apede e o Promova mantiveram com os diversos grupos parlamentares, recebemos do PSD, como resposta às preocupações que manifestámos em reunião com o deputado Pedro Duarte no Parlamento há umas semanas, a informação e a remissão para a notícia que a seguir publicamos e de que destacamos alguns passos:
Lisboa, 20 Mai (Lusa) – O PSD marcou para hoje um debate de actualidade no Parlamento sobre Educação para pedir “bom senso” ao Governo nas negociações do Estatuto da Carreira Docente, disse à agência Lusa o líder parlamentar social-democrata.
“Marcámos este debate de actualidade para que o Parlamento faça um ponto da situação e apelo ao bom senso do Governo no sentido da pacificação das escolas”, justificou Paulo Rangel.
Segundo o líder parlamentar do PSD, “seria importante que nas negociações do Estatuto da Carreira Docente o Governo se aproximasse das posições dos professores” e aceitasse “o fim das quotas” para promoção na carreira e “o fim da distinção entre professor titular e professor não titular”.
Paulo Rangel lembrou que “os professores têm pré-avisos de greve para a semana e têm uma manifestação marcada para 30 de Maio”, o que apontou como prova de que “continua a haver um forte conflito entre os professores e o Governo” que deve ser resolvido antes do fim deste ano lectivo.
Lusa/Fim

Às quartas

Crepúsculo

E eu tinha os olhos cheios,
mas tão cheios de luz,
que se fechasse as pálpebras
ela jorraria como pranto,
como pranto — abrindo-se
em flores orvalhadas.
A luz cavava sulcos
em meu cérebro, aligeirando-o
como à árvore o vento
que lhe atira os frutos
ao chão, e aí,
libertas, as folhas
frondejam nas alturas
com um novo frémito.
A luz cavava sulcos
em meu cérebro e corria-me
pelas veias, lenta, calma.

Ággelos Sikelianós
(Trad.: José Paulo Paes)

terça-feira, 19 de maio de 2009

Bonecos de palavra

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O vício de Sócrates

Na capa da revista Notícias Magazine, de domingo, era anunciada uma reportagem intitulada: «Íntimo — um dia com José Sócrates: de automóvel, a pé e de avião».
Sensivelmente a meio da segunda página do artigo, e a propósito do repórter querer satisfazer a curiosidade sobre os gostos musicais do nosso primeiro-ministro, isto é, que músicas ouve ele quando viaja de carro pelo país, lê-se o seguinte: «"Não costumo andar com CD. Ouço rádio, sobretudo, e converso muito. Com o motorista e ao telefone." E ler? Mantém o vício da filosofia.»
Muito mais de 24 horas após ter lido a última frase, confesso-me num pântano de dúvidas: Sócrates mantém o vício da filosofia? 1.ª dúvida: Mantém? 2.ª dúvida: Sócrates é viciado em filosofia? 3.ª dúvida: Sócrates ainda lê filosofia? 4.ª dúvida: Sócrates alguma vez leu filosofia?
Não sei se Sócrates estava a falar a sério, ou se estava distraído e não sabia o que dizia, ou se estava a fazer humor, ou se estava a provocar o jornalista, ou se estava a provocar a filosofia, ou se, de facto, lê filosofia e não percebe o que lê, ou se lhe dizem que o que lê é filosofia e, de facto, não é... Não sei, não sei mesmo.
Ao estado de dúvida e de incredulidade, acrescento, agora, a preocupação de não saber se a filosofia sobreviverá a tão íntimo convívio.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Registos do fim-de-semana

Carlos César: «É preciso remodelar PS e governo
i (15/05/09)
Sócrates garantiu a «cooperação institucional» com Jardim,
Magalhães,
pétalas de rosa e beijos empenhados

Jardim disse a Sócrates
que «está sempre disponível para ajudar o país
no que for preciso»


Cada contribuinte vai ter de pagar mais 4 mil euros
para suportar gastos do governo

Contracção da economia foi mais violenta em Portugal
do que em Espanha

— No período de um ano, a economia nacional caiu 3,7%.
Espanha teve uma contracção de 2,9%
i (16/05/09)

Lopes da Mota admite ter invocado nomes
de Sócrates e Alberto Costa

... mas diz que o fez indevidamente

Governo e procurador seguram Lopes da Mota

Processo de Bolonha a meio gás
— Falta de verbas faz com que a reforma do ensino superior se limite a encurtar cursos
Sol (16/05/09)

domingo, 17 de maio de 2009

Pensamentos de domingo

«Os indivíduos que vão para a prisão são criminosos - mas são, por definição, criminosos que falharam.»
The Times

«Vivemos no melhor dos mundos, diz o optimista. O pessimista receia que seja verdade.»
James B. Cabell

«Eu contei a verdade à minha esposa. Disse-lhe que costumava ir a um psiquiatra. Ela contou-me então que costumava ir a um psiquiatra, a dois canalizadores e a um empregado de bar.»
Rodney Dangerfield
In José Manuel Veiga, Manual para Cínicos.

Hank Jones

sábado, 16 de maio de 2009

Ao sábado: momento quase filosófico


Acerca da Fenomenologia
«Após fugas para o cúmulo da abstracção, a filosofia tem uma forma de aterrar suavemente na experiência comum do dia-a-dia. Isto aconteceu na epistemologia, no começo do século XX, quando os fenomenologistas avaliaram o verdadeiro significado de saber alguma coisa. Mais uma metodologia do que um conjunto de princípios filosóficos, a fenomenologia procura compreender a experiência humana tal como ela é vivida e não como dados objectivos. Esta abordagem é mais parecida com a de um romancista do que com a de um filósofo com predisposição para a abstracção.
A palavra alemã einfühlung, que significa "entendimento" ou "empatia", foi usada por fenomelogistas como Edmund Husserl para categorizar uma forma de conhecimento que procura entrar na experiência de outro ser humano e conhecer e sentir o mundo da mesma forma que esse ser humano; dito de outra forma, estar na pele de outra pessoa - ou, possivelmente, dentro dela.
- Doutora Janet - diz a mulher, muito embaraçada. - Tenho um problema de natureza sexual. Não fico excitada com o meu marido.
- Muito bem - diz a doutora Janet -, amanhã vou fazer um exame completo. Traga o seu marido.
No dia seguinte, a mulher regressa com o marido.
- Dispa-se, senhor Thomas - diz a médica. - Agora, dê uma volta. Muito bem, agora faça o favor de se deitar. Uh-uh, estou a compreender. Pode vestir-se novamente.
A doutora Janet leva a mulher para um canto.
- A sua saúde é perfeita - diz. - Ele também não me excita.»
Thomas Cathcart e Daniel Klein, Platão e um Ornitorrinco Entram num Bar...

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Carta aberta à ministra da Educação (excertos)

«Senhora ministra:
Dentro de poucos meses partirá para um exílio dourado. Obviamente que partirá, seja qual for o resultado das eleições. É tempo de lhe dizer, com frontalidade, e antes que o ruído da campanha apague o meu grito de revolta, como a considero responsável por quatro anos de Educação queimada.
[...]
A senhora ministra falhou estrondosamente com o sistema de avaliação do desempenho dos professores, a vertente mais mediática da enormidade a que chamou estatuto da carreira. A sua intenção não foi [...] dignificar o exercício de uma profissão estratégica para o desenvolvimento do país. A senhora anda há um ano a confundir classificação do desempenho com avaliação do desempenho e demonstrou ignorar o que de mais sério existe na produção teórica sobre a matéria. Permitiu e alimentou mentiras inomináveis sobre o problema.
O saldo é claro e incontestável: da própria aberração técnica que os seus especialistas pariram nada resta. Terá os professores classificados com bom, pelo menos, exactamente o que criticava quando começou a sua cruzada, ridiculamente fundamentalista.
A que preço? Coisa difícil de quantificar. Mas os cacos são visíveis e vão demorar anos a reunir: o maior êxodo de todos os tempos de profissionais altamente qualificados; a maior fraude de que há memória quando machadou com critérios de vergonha carreiras de uma vida; [...].
Não tem vergonha desta coroa? Não tem vergonha de vexar uma classe com a obrigação de entregar objectivos individuais no fim do ano, como se estivesse a começar? Acha sério mascararar de rigor a farsa que promoveu?

A senhora ministra falhou quando fez aprovar um modelo de gestão de escolas, castrador e centralizador. [...]

A senhora ministra falhou quando promoveu a escola que não ensina. Mostre ao país, a senhora que tanto ama as estatísticas, quanto tempo se leva hoje para fazer, de uma só tirada, os 7.º, 8.º e 9.º anos e, depois, os 10.º, 11.º e 12.º.
E sustente, perante quem conhece, a pantomina que se desenvolveu à volta do politicamente correcto conceito de escola inclusiva, para lá manter, a qualquer preço, em ridículas formações pseudoprofissionais, os que antes sujavam as estatísticas que a senhora oportunisticamente branqueou.
Ouse vir discutir publicamente a demagogia de prolongar até aos 18 anos a obrigatoriedade de frequentar a escola, no contexto do país real e quando estamos ainda tão longe de cumprir o actual período compulsivo, duas décadas volvidas sobre o respectivo anúncio.[...]
Compreendo, portanto, que no pastel kafkiano a que chamou estatuto de carreira não se encontre o vocábulo ensinar. [...] Só lhe faltou mudar o nome à casa onde pontifica. Devia chamar-se agora, com propriedade, Ministério da Certificação e das Novas Oportunidades. Não tem remorsos?

A senhora ministra falhou rotundamente quando promoveu um estatuto do aluno que não ajuda a lidar com a indisciplina generalizada [...] e, pasme-se, manifestou a vontade de proibir as reprovações, segundo a senhora, coisa retrógada.[...]

Falhou também quando baniu clássicos da nossa literatura e permitiu a redução da Filosofia.

Falhou ainda quando manipulou estatisticamente os resultados escolares e exibiu os que não se verificaram. [...]

Falhou [...] quando se deixou implicar no logro do falso relatório da OCDE e no deslumbramento saloio do Magalhães.

Por tudo isto e muito mais que aqui não cabe, a senhora é, em minha opinião, uma ministra falhada. Parte sem que eu por si nutra qualquer espécie de respeito político ou intelectual.»
Santana Castilho, Público (13/5/09)

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Política e políticos medíocres

1. Há quatro anos que o presidente da região autónoma da Madeira anda a proferir este tipo de afirmações:
«É um insulto aos portugueses serem governados por Sócrates.» (27/6/07)
«Sócrates é um ditadorzinho potencial [...]. É o Mugabe da Europa.» (25/6/08)
«Toda a gente sabe que o senhor Sócrates é uma pessoa sem vergonha. É um mentiroso.» (21/9/08).
Há dois dias disse:
«José Sócrates será bem-vindo e será recebido de braços abertos.» (12/5/09)
Fonte: Jornal i (14/5/09)
2. Diálogo entre Morais Sarmento e Santos Silva no último programa Cara-a-Cara na TVI 24:
«Sarmento: Ficou-lhe dos seus tempos trotskistas: "Vou mentir na tv até que alguém acredite."
Santos Silva: Não pode dizer isso sem provar. É o senhor que mente quando diz que eu estou a mentir.
Sarmento: O senhor é incapaz de conviver com quem se atreve a pensar diferente.
Santos Silva: se eu não tenho essa capacidade, o senhor não devia estar a debater comigo.
Sarmento: No momento em que estiver incomodado saia!
Santos Silva: Já estava à espera do teatro. Não me ofende sem eu reagir.
Sarmento: Qual virgem ofendida, o senhor não gosta é de perder argumentos.
Santos Silva: Seja democrata e sem provocação, sim?»
Fonte: Jornal i (14/5/09)

3. Vital Moreira nega ter dito que se estivesse no lugar de Lopes da Mota se demitiria
Vital Moreira, cabeça de lista do PS às eleições europeias, negou ter afirmado que se estivesse no lugar de Lopes da Mota, presidente do Eurojust, se demitiria.
"Não disse tal coisa e não vou dizer o que disse ontem”, afirmou Vital Moreira.
Ele não diz, mas dizemos nós o que ele disse:
“Se estivesse naquele lugar, mas não quero julgar ninguém, eu, porventura, pediria suspensão de funções enquanto o processo disciplinar decorresse”.
Fonte: Sítio do Público (14/5/09)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Às quartas

Abat-jour

Você pergunta porque eu fico sem falar...
Porque este é o grande instante em que
existe o beijo e existe o olhar,
porque é noite... e esta noite eu gosto de você!
Chegue-se bem a mim. Eu preciso de beijos.
Ah! se você soubesse o que há, esta noite, em mim
de orgulhos, ambições, ternuras e desejos!...
Mas, não, você não sabe, e é bem melhor assim!
Abaixe um pouco mais o abat-jour! Está bem.
É na sombra que o coração fala e repousa:
tanto mais os olhos se vêem,
quanto menos se vêem as cousas...
Hoje eu amo demais para falar de amor.
Venha aqui, bem perto! Eu queria
ser hoje, seja como for,
aquele que se acaricia...
Abaixe ainda mais o abat-jour.
Vamos ficar sem dizer nada.
Eu quero sentir bem o gosto
das suas mãos sobre o meu rosto!...
Mas quem está aí? Ah! a criada
que traz o café... Não podia
deixar aí mesmo? Não importa!
Pode ir-se embora!... E feche a porta!...
Mas o que é mesmo que eu dizia?
Quer... agora o café? Se você preferir...
Já sei: você gosta bem quente.
Espere um pouco! Eu mesmo é que quero servir.
Está tão forte!... Assim? Mais açúcar? Somente?
Não quer que eu prove por
você?... Aqui está, minha adorada...
Mas que escuro! Não se enxerga nada...
Levante um pouco esse abat-jour.

Paul Géraldy
(Tradução de Guilherme de Almeida)

terça-feira, 12 de maio de 2009

Um caso exemplar

Há umas semanas, o primeiro-ministro e o ministro da Economia deslocaram-se, com pompa e circunstância (como é norma), à Póvoa do Varzim, para, perante as câmaras da televisão, tecerem rasgados elogios e darem como exemplo a seguir, no campo das energias renováveis, o produto que era fabricado pela empresa Energie: supostamente, painéis solares.
Muitas câmaras, muitas fotografias, muitos discursos, muitos «momentos históricos», «muitos recordes», muito Portugal à frente de tudo e de mais alguma coisa e patati, patatá. O costume.
Apesar de, na altura, vários especialistas na matéria terem denunciado que não se tratava de verdadeiros painéis solares, mas de bombas de calor abastecidas a electricidade, e apesar de estar a decorrer uma discussão nos órgãos europeus responsáveis pela certificação nesta área, o primeiro-ministro não resistiu, como nunca resiste, a fazer política-espectáculo e a dar como bom aquilo que, objectivamente, era duvidoso. Não resistiu a fazer propaganda, não resistiu ao facilitismo, não resistiu a ser leviano.
Agora, chegou a confirmação do que se previa: os equipamentos fabricados pela Energie, os tais painéis solares, afinal, não são painéis solares. Não vai haver certificação europeia para aqueles aparelhos. São bombas de calor e, por isso, não são considerados como pertencentes à família dos equipamentos de energia renovável.
E agora, sr. primeiro-ministro? E agora, sr. ministro da Economia? E agora? Nada, como é costume. Com a ligeireza e a irresponsabilidade habituais, nada de anormal se passou, nada de anormal se passará. A vida continua até à próxima inauguração, até à próxima festança.
Este é um exemplo da forma de fazer política do Governo de Sócrates, porque é assim na Economia, é assim na Educação, é assim na Agricultura, é assim nas Obras Públicas, etc. É assim que somos governados. Mas, para a opinião pública, o que ficou foram os flaches, os discursos, a pompa, o anúncio de mais uma coisa fantástica.
Que, agora, tenha ido tudo por água abaixo, já não interessa nada. Pois não, sr. primeiro-ministro? O povo rapidamente esquece, e mais uns milhões se hão-de arranjar para, amanhã, poder anunciar algo ainda mais surpreendente. E depois de amanhã também, e depois de depois de amanhã igualmente. Até Outubro...

Bonecos de palavra

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segunda-feira, 11 de maio de 2009

Notas do fim-de-semana

Títulos do Público (8/5/09):

Vital demarca-se de Pinho na polémica da "papa Maizena"

Vítimas de violação não apresentam queixa porque não acreditam no sistema judicial

Absolvidos sindicalistas da "manif" anti-Sócrates


Títulos do Sol (9/05/09):

Vital pavoneou-se no meio de pinguins; Seguro foi pinguim na terra dos pavões

Alegre ameaça afastar-se

Sócrates chamado a depor
- Acusada de corrupção no 'caso Cova da Beira' quer confrontar 1.º ministro com denúncias

Títulos do Público (9/05/09):

PS e PSD prontos para mudar lei do financiamento
- ainda não saiu do Parlamento e já admitem alterações à nova lei do financiamento político


Margem Esquerda passa a corrente de opinião no PS
- o PS está "governamentalizado" e é necessário mais debate interno


Pensionistas que não entregaram IRS em 2008 vão ser perdoados
[em 22 de Abril, no Parlamento, Sócrates tinha negado peremptoriamente essa possibilidade: «Não é momento para, por demagogia e eleitoralismo, sermos mais simpáticos. Não o faço (perdoar a multa) em nome da sensibilidade eleitoral. Não posso dar (...) nenhum sinal equívoco no que diz respeito ao cumprimento da lei. É preciso declarar e pagar impostos].

domingo, 10 de maio de 2009

Pensamentos de domingo

«Um especialista é um homem que fez todos os erros possíveis numa área muito restrita.»
Niels Bohr

«Acho que é preferível desapontar a Câmara com o seu silêncio do que com a sua palavra.»
(Para um novo membro da Câmara dos Comuns que lhe perguntou se devia participar nos debates).
Benjamin Disraeli

«O homem — um ser que Deus criou no fim de uma semana de trabalho, quando estava exausto.»
Mark Twain
In José Manuel Veiga, Manual para Cínicos.

Jordi Savall

sábado, 9 de maio de 2009

Ao sábado: momento quase filosófico


Acerca do Pragmatismo

«Para um pragmático epistemológico como o filósofo americano do século XIX, William James, a verdade de uma afirmação reside nas suas consequências práticas. Segundo James, nós escolhemos a nossa verdade pela diferença que ela fará na prática. Dizemos que a lei da gravidade de Newton é verdadeira, não porque corresponde à forma como as coisas «são verdadeiramente», mas porque se revelou útil na previsão do comportamento de dois objectos relativamente um ao outro sob muitas circunstâncias diferentes: "Hei, aposto que as maçãs cairiam até mesmo em Nova Jérsia." O dia em que uma teoria deixa de ser útil é o dia em que a substituiremos por outra.
Uma mulher comunica à polícia o desaparecimento do marido. Pedem-lhe uma descrição e ela diz:
- Tem um metro e noventa de altura, é bem constituído e tem cabelos grossos e encaracolados.
A amiga diz:
- Que estás tu a dizer? O teu marido tem um metro e sessenta e cinco de altura, é careca e tem uma barriga enorme.
- Quem quer esse de volta? - replica ela.»
Thomas Cathcart e Daniel Klein, Platão e um Ornitorrinco Entram num Bar...

Reuniões sem ordem de trabalhos

Os presidentes dos conselhos executivos das escolas da Direcção Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo (DRELVT) receberam, na quarta-feira, uma convocatória do Ministério da Educação para uma reunião a realizar 48 horas depois, isto é, ontem, sexta-feira. Para além da reunião ter sido marcada apenas com dois dias de antecedência, da convocatória não constava qualquer ordem de trabalhos. Contactada telefonicamente, a DRELVT informou que a reunião não tinha ordem de trabalhos, isto é, não tinha havido lapso na elaboração da convocatória. E mais nenhuma outra informação aí era prestada, para além do local e hora de início dos trabalhos.
Foi, por conseguinte, em condições de absoluta ignorância, e sem possibilidades de preparação prévia, que os presidentes dos conselhos executivos se dirigiram para uma reunião marcada pelo ME. Lá chegados, puderam verificar, com espanto, que a presidência do encontro seria assumida pela própria ministra da pasta.
E é assim que se trabalha no Ministério da Educação. Por outras palavras, estamos perante mais um exemplo da incompetência da ministra Maria de Lurdes Rodrigues e de mais uma manifestação de absoluta falta de respeito para com os professores convocados.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Parece que é hoje

Retirado do blogue Pérolas de Cultura:

«Vai entrar [hoje], 6ª feira, no Tribunal Constitucional um Requerimento a pedir a "Fiscalização Abstracta Sucessiva Da Constitucionalidade Do Simplex", (modelo de Avaliação de Desempenho Docente em vigor) com mais de 40 assinaturas de deputados.
O Paulo Guinote publicou hoje a lista dos nomes que a seguir se reproduz, aos quais foi acrescentado o partido político respectivo:
Abel Lima Baptista - PP

Agostinho Nuno de Azevedo Ferreira Lopes - PCP

Alda Maria Gonçalves Pereira Macedo - BE

Ana Isabel Drago Lobato - BE

António Carlos Bívar Branco de Penha Monteiro - PP

António Filipe Gaião Rodrigues - PCP
Artur Jorge da Silva Machado - PCP

Bernardino José Torrão Soares - PCP

Bruno Ramos Dias - PCP

Diogo Nuno Gouveia Torres Feio - PP

Fernando José Mendes Rosas - BE

Fernando dos Santos Antunes - PSD

Francisco Anacleto Louça - BE
Francisco José de Almeida Lopes - PCP

Helena Maria Andrade Cardoso Machado de Oliveira - PSD

Helena Maria Moura Pinto - BE

Heloísa Augusta Baião de Brito Apolónia - PEV

Jerónimo Carvalho de Sousa - PCP
João Pedro Furtado da Cunha Semedo - BE
José Batista Mestre Soeiro - PCP
José Hélder do Amaral - PP

José Honório Faria Gonçalves Novo - PCP
José Luís Teixeira Ferreira - PEV
José Paulo Areia de Carvalho - Deputado não inscrito
João Guilherme Nobre Prata Fragoso Rebelo - PP
João Guilherme Ramos Rosa de Oliveira - PCP
João Nuno Lacerda Teixeira de Melo - PP
Luís Emídio Lopes Mateus Fazenda - BE

Luís Pedro Russo Mota Soares - PP
Magda Andrea Gonçalves Borges - PSD

Manuel Alegre de Melo Duarte - PS

Maria Eugénia Simões Santana Alho - PS

Maria Júlia Gomes Henriques Carré - PS
Maria Luísa Raimundo Mesquita - PCP

Maria Teresa Alegre de Melo Duarte Portugal - PS

Mariana Rosa Aiveca Ferreira - BE

Miguel Tiago Crispim Rosado - ?

Nuno Miguel Miranda de Magalhães - PP
Paulo Sacadura Cabral Portas - PP

Telmo Augusto Gomes de Noronha Correia - PP

Teresa Margarida Figueiredo de Vasconcelos Caeiro - PP
»

Nota:
Isto significa que no PP, PCP e BE todos os deputados assinaram. No PS, assinaram 4 deputados em 121 e, no PSD, assinaram 3 deputados em 75.
Dos deputados do PS já não se esperava outra coisa, isto é, já se esperava que só os «alegristas» é que teriam dignidade e coragem para apor a sua assinatura no pedido de fiscalização sucessiva da constitucionalidade, mas dos deputados PSD já não se pode dizer o mesmo. Que razão justifica que apenas três deputados, em setenta e cinco, tenham subscrito o pedido?

quinta-feira, 7 de maio de 2009

O que por aí ameaça vir

A colega Rosário Gama, presidente do conselho executivo da Escola Secundária Infanta D. Maria, de Coimbra, denuncia, hoje, no Público, a falta de liberdade e o clima intimidatório que a liderança de Sócrates implantou dentro do Partido Socialista:
- «O PS não aceita o contraditório, mesmo vindo do interior do partido.»;
- As perguntas que lhe foram dirigidas, por deputados do PS, acerca das suas declarações ao Expresso revelam «uma atitude persecutória sobre quem manifesta uma opinião contrária à do poder.»;
- «Faz algum sentido que, depois do inquérito da IGE [que concluiu não ter existido nenhuma irregularidade], me perguntem se a citação feita pelo Expresso está correcta, se a desmenti ou não e em que me baseei para a fazer? O que se passa é que, numa atitude de quem não gosta de ser contraditado, alguns socialistas recorrem a procedimentos que eu já julgava afastados do nosso panorama político.»
Nada disto constitui uma novidade. Este ambiente de pressão, de coacção, de intimidação já há muito que é sentido, dentro do PS, dentro da função pública (são inúmeros os casos noticiados ao longo dos últimos quatro anos no interior de vários ministérios), na relação Governo-comunicação social e na postura e discurso acintosos cultivados pelo primeiro-ministro e vários membros da sua equipa governativa (Santos Silva, Maria de Lurdes Rodrigues, Manuel Pinho, Jaime Silva, Mário Lino, Jorge Pedreira, Valter Lemos têm, recorrentemente, discursos que primam pela má educação, pela grosseria e pela ameaça).
Não cultivo o alarmismo nem a especulação conspiratória, contudo, tenho, neste momento, a firme convicção de que a existência de uma nova maioria absoluta do PS, nas próximas eleições legislativas, terá como consequência a instalação na sociedade portuguesa de valores anti-democráticos e a instauração de procedimentos persecutórios a muitos daqueles que publicamente se opuseram (e sempre se oporão) à medíocre e incompetente governação socialista. Não tenho qualquer dúvida de que isso acontecerá. E acontecerá quer a nível de quadros dirigentes da função pública quer a nível intermédio de chefias quer a nível de repartição, de escola, de hospital, de gabinete.
Este Governo conseguiu inquinar as relações entre profissionais do mesmo ofício, conseguiu instalar a desconfiança entre colegas de trabalho e incentivou a delacção. É um Governo politicamento abjecto, porque nos fez recuar a tempos e a práticas que começavam já a ficar esquecidas. Este Governo e estes governantes não prezam a Liberdade, reclamam-se herdeiros de uma tradição que não é sua, que nunca sentiram nem praticaram. Não ultrapassam o nível de tecnocratas arrogantes com terjeitos autoritários deslumbrados com o protagonismo que o poder lhes oferece.
E teremos tudo isto em dobro, se em Outubro este partido vencer as eleições. Contudo, as e os Rosários Gama deste país, essas e esses não serão em dobro, serão, infelizmente, em bem elevado e indeterminado número.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

A propósito da pedagogia do facilitismo

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Crónica publicada na revista Veja (Março, 2009).
Enviado por Paula Rodrigues.

Às quartas

A Contra-Senha

Cheguei do fundo da pedra:
precocemente do centro da rosa:
toquei as mãos e a artéria.
Ando ainda com a pele dos mármores
sombrios do deserto inocente. Oponho-me,
oponho-me ao relâmpago da água
e do mandato: ordeno, troco,
louvo a penugem como espada de enxofre
ou perfeição. Ordeno
ainda os horizontes.
Minha voz não é débil
nem o nascimento se cheguei e pus sobre uma pedra
o coração como destino
e como canto a palavra amor e sem resposta, espero.
E como uma chuva de martelos,
de homem demasiado homem, de pancadas demasiado pancadas,
ou de paixão sem limites lancei minha funda ao vento:
quero mais terra, mais terra e repartir unhas e chicotes
e repartir palavra e boca: Como um último respirar do homem
que viveu sem história na pegada e criou.
Criou a magnitude do homem lá do fundo da matéria única,
uma nova matéria, forças a rasgar o último recanto do vento
e a ordenar o eco
da última terra ou gratidão
que reste em minhas sandálias.

Caminhei até aqui,
cheguei precocemente do fundo da pedra
com a boca doce ou a palavra dividida. Ordeno
ainda os horizontes.

Luis Cartañá
(Trad.: José Bento)

terça-feira, 5 de maio de 2009

A propósito da manifestação do dia 30 de Maio, a propósito dos sindicatos que temos e do Governo que temos

Os sindicatos de professores que temos são maus. Do meu ponto de vista, são maus porque seguem uma política sindical vinculada aos interesses e às estratégias partidárias. São maus porque, verdadeiramente, nunca acreditam na capacidade e na força daqueles que representam. São maus porque alguns sindicalistas, já sedimentados em anos e anos de rotina sindical, cedem aos interesses da manutenção do statu quo que garante horários privilegiados ou mesmo isenção de horário, que lhes dá acesso a certos meios, contactos, deferências, mordomias e protagonismos que, de outro modo, não teriam.
A combinação destes factores determina que tenhamos um sindicalismo docente que não cumpre as funções para o qual foi criado. Pior: não só não cumpre como acaba por gerar o descrédito nas próprias instituições sindicais. É frequente, por isso, ouvirmos, em relação aos sindicatos, epítetos idênticos àqueles que ouvimos em relação aos políticos. Os sindicalistas, contudo, sentem-se possuídos de uma superioridade moral tal que, pensam eles, os deveria isentar da censura e até mesmo da crítica. É por essa razão que, sempre que são confrontados com o escrutínio de quem deles diverge, reagem como alguém que foi ofendido na honra e, não discutindo os argumentos que sustentam a crítica, optam por apelidar os que os interpelam de: divisionistas, irrealistas, zurzidores ao serviço do Governo e por aí fora (há quem, neste país, se considere sempre possuído do direito da crítica, mas isento do dever de ouvir a objecção alheia - os sindicalistas são disso um exemplo, todavia, bem acompanhados, quer por jornalistas quer por juízes.)
Mas estava eu a dizer que temos maus sindicatos, e isto tem uma consequência objectiva: a resolução dos verdadeiros problemas profissionais, cuja existência é a razão de ser dos próprios sindicatos, é relegada para plano secundário, é esquecida sempre que se atinge um elevado patamar de conflitualidade. Nesses contextos de conflito aberto e radicalizado predomina sempre aquilo que, estrategicamente, é mais conveniente ao partido que domina o sindicato x ou y. Sempre foi assim, e este último ano de luta dos professores não fugiu à regra.
Depois de uma primeira manifestação de 100 mil professores, depois de uma segunda manifestação de 120 mil professores, depois de duas greves nacionais cuja adesão foi superior a 90%, os sindicatos malbarataram toda esta imensa força - uma força que nunca na história do sindicalismo português uma classe profissional tinha demonstrado possuir e que se manteve viva durante um ano (facto para o qual muito contribuiu a mais que meritória acção dos movimentos independentes de professores).
Foi, certamente, um momento único, propiciado por uma relação de causa-efeito difícil de repetir: uma equipa do Ministério da Educação que ultrapassou os limites imagináveis da incompetência - política e técnica - gerou uma gigantesca onda de indignação e de oposição que ninguém tinha suposto ser possível acontecer. E, de facto, não é plausível que o fenómeno venha a repetir-se, pois não é (felizmente) congeminável poder vir a constituir-se, no futuro próximo nem no longínquo, um grupo de secretários de Estado e ministro(a) tão manifestamente incapaz e que, simultaneamente, junte à incapacidade congénita uma inusitada grosseria e arrogância pessoais.
Ora, a gravidade extrema do conflito, atingida em Novembro do ano passado, só deveria ter tido uma saída: a demissão da ministra e a alteração da política educativa. Se a política fosse uma coisa séria e o sindicalismo docente estivesse exclusivamente ao serviço dos professores, só poderia ter sido este o desfecho da situação a que se chegou. Mas não foi. E não foi porquê? Porque não era justo, não era adequado, não era possível que assim tivesse sido? Todos sabemos que era justo, que tinha sido adequado e possível. Mas não aconteceu. Foram razões genuinamente sindicais que impediram que isso acontecesse? Foram razões de salvaguarda das justíssimas reivindicações dos professores? Sabemos que não. E que sabemos mais? Sabemos duas coisas:
1. Que a política não é séria. Que este Governo não é sério. Que este primeiro-ministro não é politicamente sério. Sabemos que este primeiro-ministro colocou o seu orgulho pessoal e a sua arrogância à frente dos verdadeiros interesses do país: recusou-se a fazer uma segunda remodelação governamental, depois de já ter substituído os ministros da Saúde e da Cultura. Apesar dos objectivos malefícios que a ministra da Educação diariamente produzia ao país, José Sócrates e o seu núcleo de conselheiros optaram pela chantagem: ou se negociava uma trapalhada qualquer que salvasse a face do Governo ou o Governo cairia. Não interessava nada o que os alunos, os professores, as escolas, o país ganhariam com a mudança da ministra e da política, interessava apenas manter uma posição intransigente que, em eleições antecipadas, até poderia render frutos;
2. Que, perante isto, os sindicatos optaram por recuar. Porquê? Porque não era do interesse de nenhum partido, em particular daqueles que dominam os principais sindicatos de professores, que o Governo caísse. Calculavam que, eleitoralmente, fosse mau. E como, do ponto de vista eleitoral, não era conveniente que isso acontecesse, hipotecou-se a resolução de um gravíssimo problema profissional, de um gravíssimo problema da Educação e do país aos interesses eleitorais. Os professores foram, uma vez mais, manipulados. O sindicalismo esteve, uma vez mais, ao serviço dos proveitos partidários.

Agora, convocaram uma manifestação para o dia 30 de Maio. Como estamos próximos de eleições, quer-se marcar o ponto e tentar lançar alguma perturbação eleitoral ao PS. Mas, do ponto de vista da nossa luta profissional, esta manifestação, desgarrada, isolada, é para alcançar o quê? É para fazerem com ela o quê? O mesmo que fizeram com as duas manifestações anteriores? Agora, marcaram também uma greve pífia de 90 minutos para o dia 26. Qual é o seu objectivo? Alguém consegue explicar?
Se vou à manifestação? Vou, claro. Apesar dos maus sindicatos que temos, temos algo ainda pior: um péssimo Governo e, em particular, uma ministra da Educação politicamente desprezível. Poderia eu ficar em casa no próximo dia 30? Não poderia.