sábado, 11 de junho de 2016

Presidências e trivelas

Fotografia de Mário Henrique Kämpf.
1. O que diria o comentador de televisão Rebelo de Sousa se fosse convidado a comentar a actuação do actual Presidente da República, num daqueles domingos à noite? O comentário seria certamente semelhante a isto:
«Judite, o homem não pára, anda frenético, está deslumbrado. É compreensível: há dezenas de anos que procurava protagonismo com poder político, agora tem-no, está nas nuvens. A Judite recorda-se, o homem, quando era comentador, já revelava um fascínio incontido pela câmara de televisão que lhe apontavam ao domingo à noite; imagine o que neste momento ele sente quando lhe apontam não uma mas várias câmaras de televisão, todos os dias e a toda a hora. O tipo não se consegue conter... O problema é que o homem, no meio deste frenesim, começa a perder o controlo do que diz, e depois vê-se obrigado a desdizer hoje o que disse ontem, a esclarecer hoje a insinuação que fez ontem ou a tapar hoje o buraco que abriu ontem. O homem ainda não percebeu que ser Presidente da República é um pouco diferente de ser o tipo do "bitaite" ambulante. Mas o que é que se pode fazer? Olhe, como nunca me passaria pela cabeça querer ser Presidente da República, assisto a tudo isto divertidíssimo. Entretanto, para si, Judite, trouxe uns cachecóis da nossa selecção e uns ovos moles de Aveiro.»

2. Com um Presidente assim, com um mês de futebol pela frente, com uma selecção de futebol que praticamente já é campeã europeia, com um mês de Jogos Olímpicos, mais o Verão que se aproxima, que preocupações nos poderão apoquentar? 
A extrema direita galopa pelo norte da Europa; somos ameaçados com sanções pela Comissão Europeia; os nossos políticos pedincham servilmente para que não nos castiguem; Portas sai de ministro e vai directamente para a Mota-Engil; Assis quer que o PS volte a ser o PSD cor-de-rosa; os interesses privados amigos dos dinheiros públicos vestem-se de amarelo; a elite financeira continua a desgraçar o país; a dívida continua a matar-nos aos poucos e o cerco aperta-se, mas que importância isto pode ter? Nenhuma. Umas presidências de afectos e umas boas trivelas tudo resolvem.