domingo, 22 de novembro de 2015

À espera

Imagem sem autor identificado.
É lamentável, é quase deprimente o comportamento do protagonista que ocupa o mais alto cargo do Estado português. Ao longo dos dez anos que leva de exercício da função, aquilo que tem dito e o que tem feito é próprio de um político errático, sem critério de análise, arrogante, destituído de substância e de escrúpulo político. Ao longo dos últimos dez anos, Cavaco Silva disse tudo e o seu contrário; navegou sem rumo; anunciou princípios que abandonou; definiu regras que esqueceu; acusou sem fundamento; representou mediocremente o país; foi protagonista de situações constrangedoras; foi conivente com inconstitucionalidades; foi conivente com oportunismos; foi oportunista; foi e continua a ser incompetente na defesa dos interesses da maioria dos portugueses. 
E prepara-se para o ser até ao último dia do mandato. À mesquinhez política que o caracteriza junta agora a irresponsabilidade. Pouco lhe parece interessar se o país precisa com urgência de um governo, pouco lhe parece importar se o país necessita de elaborar o orçamento  para o próximo ano, pouco lhe parece importar a indefinição política. As outrora idolatradas estabilidade e previsibilidade tornaram-se repentinamente irrelevantes. Não se saber que governo vamos ter, não se saber que orçamento que nos vai gerir, não se saber que direcção política vamos tomar, não se saber que compromissos o país e cada português podem assumir tornaram-se, de repente, minudências, para aquele que ocupa a Presidência da República. Considera-se, por isso, no direito de demorar o tempo que quiser para decidir o que há muito devia estar decidido.
Contudo, seria sensato que o inquilino do Palácio de Belém não esquecesse que a origem da palavra República (res publica) significa «coisa pública». Presidir a uma República é pois presidir a algo que é de todos, não é presidir a uma coutada. Os humores, as desforras e os desagravos pessoais não têm lugar na presidência da «coisa pública», mas Cavaco Silva parece não saber isso.
Igualmente estranhos são o silêncio e a complacência com que os portugueses estão a suportar esta espera. O exercício da cidadania não pode ser indulgente, frouxo, desmazelado. Se temos um presidente que, por torpor ou incapacidade, não decide, os cidadãos têm o direito e o dever de o compelir a fazer o que tem de ser feito. Em democracia não há figuras sagradas nem intocáveis. 
A espera não pode continuar.