sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Não votar inútil

Imagem de Márcio Barreto
Os dois partidos que, entre si, têm dividido o poder em Portugal, criaram o conceito de voto útil, que basicamente é o seguinte: votar útil é votar em nós, PSD ou PS. Isto tem como inevitável consequência afirmar que votar nos outros partidos é um voto inútil.
Se, do ponto de vista democrático, defender esta ideia é uma obscenidade, do ponto de vista da realidade, esta ideia é uma trapaça. Na verdade, o que as últimas décadas nos têm mostrado é a inutilidade, para a maioria da população, de votar no PSD ou no PS. 
O PSD tem como prioridade a defesa de um sistema económico que assenta nas desigualdades sociais e que se desenvolve à custa das desigualdades sociais. Os últimos quatro anos foram exemplares, nesta matéria. Votar PSD não é um voto útil, para a maioria da população que deseja legitimamente combater as desigualdades sociais.
Recorrentemente, o PS apresenta-se junto do eleitorado como um partido de combate as desigualdades sociais, mas, desgraçadamente, a realidade mostra sempre o inverso.
Basta socorrermo-nos da memória mais recente para relembrarmos o que em 2011 foi o balanço da governação socialista expressa em frases que na época foram exaustivamente repetidas:
- o PS discursa a favor do Estado Social, mas foi ele quem começou a destruí-lo; 
- o PS foi forte com os fracos e fraco com os fortes. Foi forte com os pensionistas de mais baixos rendimentos, quando lhes congelou as pensões e quando pretendeu reduzi-las; foi forte com os desempregados, quando lhes diminuiu o tempo com direito a subsídio; foi forte com as famílias, quando lhes cortou o abono de família. E foi fraco com os interesses do mundo financeiro, a quem permitiu o pagamento de taxas reais de impostos inferiores às restantes empresas; foi fraco com as exigências das entidades patronais, a quem permitiu uma drástica diminuição no pagamento de indemnização por despedimento; foi fraco com as maiores empresas, a quem permitiu a distribuição antecipada de dividendos como estratégia de fuga aos impostos de 2011;
- o PS foi quem fez o PEC 1 e garantiu que não seriam necessários mais sacrifícios, e aplicou mais sacrifícios; 
- o PS foi quem fez o PEC 2 e garantiu que não seria preciso pedir aos portugueses mais austeridade, e aplicou mais austeridade; 
- o PS foi quem fez o PEC 3 e voltou a garantir (depois já ter retirado parte dos salários aos funcionários públicos, depois de já ter aumentado os impostos e congelado as pensões) que não haveria mais medidas gravosas, e aplicou mais medidas gravosas para a vida dos portugueses; 
- o PS quis impor o PEC 4, que consistia em medidas ainda mais austeritárias.
Votar PS não é, decididamente, um voto útil para a maioria da população.
Votar PSD ou PS tem sido um voto inútil.
Nas eleições do próximo dia 4 de Outubro será sensato não continuar a votar inútil.