sábado, 22 de fevereiro de 2014

Politicamente desonesto

Passos Coelho é politicamente desonesto. Já o sabíamos, pelo menos, desde a campanha eleitoral de há três anos. Agora pudemos reconfirmá-lo, no discurso de abertura do congresso do PSD.

1. Nesse discurso, Passos Coelho repetiu diversas vezes que está a salvar Portugal. A salvar de quê? Não foi possível esclarecer. Seguramente, sabemos que do empobrecimento não é. Passos Coelho é o primeiro responsável pelo brutal empobrecimento dos portugueses, é o primeiro responsável pela miséria que alastra como peste pelas nossas cidades. Passos Coelho conduziu o país a níveis de pobreza de há muitas décadas. Está a salvá-lo quê?

2. Passos Coelho fez questão de enfatizar que um «processo de ajustamento é sempre injusto». A ênfase que Passos Coelho deu a esta afirmação é proporcional à sua falsidade. Não é verdade que um «processo de ajustamento» tenha de ser injusto. Sê-lo-á apenas se quem pagar esse «ajustamento» for quem não o deve pagar, isto é, aqueles que não foram nem são responsáveis pelo «desajustamento» e aqueles que não têm capacidade financeira para o pagar. Mas se quem pagar o «ajustamento» for quem causou o «desajustamento» e se for quem tem capacidade financeira para o pagar, não haverá nisso nenhuma injustiça, pelo contrário.
Na verdade, Passos Coelho optou, consciente e deliberadamente, por um processo injusto. Foi uma escolha sua. As injustiças são da sua responsabilidade.

3. Passos Coelho sentiu necessidade de dizer que era social-democrata. Desfiou alguns exemplos que supostamente demonstrariam a veracidade dessa identidade. Mas nenhum dos exemplos enunciados serviu a confirmação pretendida:
i) Indicou que somente 40% dos portugueses pagam IRS, mas que todos usufruem de saúde e educação gratuitas e de segurança social. Do ponto de vista de Passo Coelho, isto seria um exemplo de social-democracia. Mas não é. 
Em lado algum, um país pode ser considerado social-democrata se 60% da sua população for tão pobre que nem rendimentos mínimos tem para poder pagar impostos. Também não é verdade que os portugueses tenham saúde e educação gratuitas.

ii) Indicou que 85% dos pensionistas não foram afectados pelos cortes e pelas sobretaxas, isto é, só as pensões mais elevadas terão sido penalizadas. Do ponto de vista de Passo Coelho, isto seria um exemplo de social-democracia. Mas não é.
Isto é um exemplo de pobreza extrema, não de social-democracia. Os 15% referem-se a pensões a partir dos 600 euros, o que evidencia o nível paupérrimo de 85% dos pensionistas. Nenhum dos países que se reclama da social-democracia apresenta níveis aparentados com estes. E penalizar pensões de 600 euros é penalizar quem é pobre.

4. Passos Coelho perguntou repetidamente se hoje estamos melhor ou pior do que há três anos. Respondeu sempre que estamos melhor. Mentiu. Só não terá mentido se estava a falar da sua situação pessoal. Não sei, não me interessa se o cidadão Passos Coelho está hoje melhor ou pior do que há três anos. Mas sei, como todos os portugueses sabem, que as centenas de milhares de desempregados estão hoje pior do que há três anos; que centenas de milhares de reformados e pensionistas estão hoje pior do que há três anos; que centenas de milhares de trabalhadores precários estão hoje pior do que há três anos; que centenas de milhares de trabalhadores do sector privado, que viram os seus salários baixarem, estão hoje pior do que há três anos; que centenas de milhares de funcionários públicos, que tiveram cortes brutais nos vencimentos, estão hoje pior do que há três anos; que milhares de jovens que procuram o primeiro emprego estão hoje pior do que há três anos. Que os hospitais, as escolas, as universidades, os centros de investigação, os edifícios públicos, as estradas estão hoje pior do que há três anos. 

Sabemos, desde há três anos, pelo menos, que Passo Coelho não é politicamente sério. Voltámos a ter a confirmação.