terça-feira, 1 de maio de 2012

Ironias de Maio

1.º de Maio de 1974.
A história está repleta de ironias, e hoje, 1.º de Maio, suportamos mais algumas dessas ironias. 
É uma amarga ironia observar a aparência de respeito formal e institucional que a celebração do Dia do Trabalhador merece por parte de quem nos governa e ao mesmo tempo observar o desrespeito real e sistemático pelos trabalhadores, levado a cabo precisamente pelos mesmos que nos governam. 
A imensa hipocrisia que domina a nossa política permite que todos os dias se opte por prejudicar gravemente a vida dos trabalhadores e que simultaneamente, para as câmaras das televisões, se assevere a maior consideração pelo 1.º de Maio. Na verdade, para que fosse preservada alguma seriedade na política praticada pelos nossos responsáveis, o primeiro feriado nacional que o governo deveria ter proposto para ser extinto era justamente o Dia do Trabalhador. Seria compreensível e até louvável pela sinceridade que isso demonstraria. O que não é compreensível nem aceitável é esta momice em que vivemos, acompanhada do permanente desprezo pelos assalariados.
Não é igualmente aceitável que alguns patrões portugueses tenham a insolência de comunicar que é do interesse dos trabalhadores celebrar o 1.º de Maio a trabalhar. É curioso que não sigam idêntico critério no dia de Natal e no dia de Páscoa.
À generalizada iliteracia e inépcia dos empresários portugueses tem-se acrescentado uma cada vez maior impudência em relação a tudo o que tenha que ver com respeito pelos direitos de quem obtém um vencimento pelo trabalho que realiza.
Seis dias depois de termos suportado a ironias de Abril, suportamos a ironias de Maio. E para que as ironias não tendam a repetir-se indefinidamente, não seria mau que, em lugar de se pronunciar tanto o verbo celebrar, se praticasse mais o verbo batalhar, ou o verbo combater, ou o verbo contender, ou o verbo militar, ou o verbo pugnar, ou qualquer outro verbo que signifique agir para mudar a situação em que nos encontramos.