quarta-feira, 9 de maio de 2012

Barroso, Ronaldo, Mourinho

Há dias, Durão Barroso veio a Portugal dizer que, na sua opinião, os portugueses eram demasiado modestos, que tinham pouca auto-estima e muita falta de confiança nas suas próprias capacidades. Nesse momento de confidência, acrescentou que, em lugar de cultivarmos tanta falta de confiança, deveríamos olhar para os exemplos de Cristiano Ronaldo e de José Mourinho.
É irresistível não comentar isto.

Apesar de ser verdade que, em geral, os portugueses são um povo com falta de crença em si próprio, Durão Barroso não está credibilizado para o dizer. No mínimo, por duas razões:
1.ª Foi precisamente Durão Barroso quem demonstrou uma terrível falta de confiança em si próprio e no povo português, no momento em que fugiu do governo para se exilar na Comissão Europeia. Se Durão Barroso tivesse crença naquilo que ele próprio poderia fazer por Portugal e nas capacidades dos portugueses, certamente que não teria saído a meio do mandato para o qual tinha sido eleito.
2.ª Durão Barroso faz parte do grupo de políticos que a propósito de quase tudo repete incansavelmente: «não podemos esquecer que somos um país pequeno», «é preciso ver que somos apenas 10 milhões», «temos de ter presente que somos um país periférico, que estamos longe do centro da Europa», «sabemos que a nossa voz dificilmente se poderá fazer ouvir», etc. Esta cultura de menorização, que redunda em posturas subservientes, foi propalada e praticada por Durão Barroso e por quase todos aqueles que ocuparam (e ocupam) os mais altos cargos do Estado português, nos últimos anos. Esta persistente cultura tem contribuído de forma significativa para a descrença dos portugueses em si próprios.

Durão Barroso também não deveria ter dado como exemplos a seguir os dois que escolheu. No mínimo, por duas razões igualmente:
1.ª O futebol é um jogo, nada mais. Saber dar uns pontapés e umas cabeçadas numa bola, fazer umas fintas, dar umas corridas ou treinar uns rapazes para fazerem isso não me parece que possa constituir paradigma seja do que for. Esclareço que gosto e que vibro com o futebol, mas apenas durante 90 minutos, e sei que o futebol, se servir de exemplo para alguma coisa, será provavelmente como exemplo de um pântano onde se atolam valores e práticas repugnantes.
2.ª Por outro lado, comportamentos grosseiros, petulantes, arrogantes, mal-educados, dessolidários, sem fair play, agressivos (verbal e fisicamente) devem ser exemplo de quê e para quem? 
Nem a um filho nem a um aluno dei nem darei como modelo a seguir nenhuma daquelas duas figuras. Seguramente que o caminho que os portugueses devem trilhar não é o de copiar o comportamento de qualquer uma dessas personagens, assim como também não é o de copiar o comportamento de Durão Barroso.