sábado, 14 de abril de 2012

Ao sábado: momento quase filosófico

Inúmeros são os relatos dos inícios. Procurando bem, cada pormenor do mundo pode explicar-se por um conto, por um acontecimento que um dia sobrevem e estabelece a ordem das coisas. É em África, sobretudo, que se contam essas histórias, próximas do mito como, por exemplo, a da lua e a da morte, que pertence à tradição do povo Sandé. 
Era uma vez um morto. O luar incidia sobre ele. Um velho reuniu em redor do corpo um grande número de animais e disse-lhes:
— É preciso passar o morto e a lua para o outro lado do rio. Quem se encarrega disso?
Uma tartaruga agarrou a lua nas suas patas e levou-a para o outro lado do rio. Outra tartaruga, que tinha patas mais curtas, agarrou no morto. Mas não pôde transportá-lo e afogou-se.
Por isso é que a lua aparece todos os dias e o morto nunca mais voltou.
In Jean-Claude Carrière, Tertúlia de Mentirosos, Teorema.