segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

2012

A passagem de 2011 para 2012 trouxe mais um problema. Para além do problema da crise, ficámos sem saber o que dizer e desejar aos nossos amigos em relação ao novo ano.
Cercados, por todos os lados, pelas piores perspectivas, por ameaças de mais despedimentos, por mais cortes salariais, por mais impostos e, enfim, por tudo o que de mal se possa imaginar, ninguém podia sentir-se à-vontade para formular os tradicionais votos de Ano Novo sem ser assolado por pruridos inibitórios ou sem correr o risco de ser mal interpretado.
Como escreve Carlos Tê e canta Rui Veloso, parece que «já não há estrelas no céu a dourar o nosso caminho» e que «tudo à nossa volta é tão feio, que só apetece fugir». Também parece, como diz a cantiga, que «andamos por aí às escondidas, a espreitar às janelas, perdidos nas avenidas e só achados nas vielas». É verdade que o assunto desta canção é a crise da adolescência, mas se quisermos trocar o tema da crise das borbulhas na cara pela crise do país, curiosamente, a cantiga continua a falar verdade: assim, de modo idêntico ao jovem da cançoneta que se apaixonou por uma cachopa que o abandona, também o nosso grande amor pela Europa foi uma espécie de «trapézio sem rede», e agora sentimo-nos, como o infeliz rapaz, «entre a espada e a parede». Para o moçoilo, como para nós, parece que «tudo é incerto e que não pode continuar assim», mas, infelizmente, e ao contrário do protagonista da cantiga do Veloso, não podemos dizer: «se não fosse o Rock & Roll o que seria de mim?»

Na realidade, nós não temos Rock & Roll que nos valha. Mais grave: não temos Rock & Roll e não temos Governo que nos valha. Pelo contrário, temos um Governo cuja serventia se limita a explicar que todas as medidas que toma são exigências da troika, que são imposições dos credores. Seria certamente mais transparente o Governo entregar a gestão das medidas da troika a uma empresa de contabilidade. Seria mais transparente e sair-nos-ia mais barato.
É penoso ver que depois da irresponsabilidade, da arrogância e da incompetência de Sócrates e do PS se segue a ignávia e o servilismo de Passos Coelho e dos partidos que o apoiam.
Passos Coelho não dá um passo, não profere uma fala, não tem um gesto que possa ameaçar destoar do discurso alemão que domina a União Europeia. E se, involuntariamente, diz algo que seja objecto de reparo de Merkel ou até de Juncker, rapidamente se desmultiplica em desmentidos a si próprio, com uma subserviência que envergonha o país.
Nestas circunstâncias, que 2012 se pode esperar? Naquilo que dependa do Governo, certamente que nada de bom.