terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Nacos

«Mais tarde, nessa noite, fui acordado no meu beliche e não tive alternativa senão fazer de público para a conversa de Mr. Peek com Lorde Enxaqueca no camarote do comandante, o que era o mesmo que passar-se dentro da minha cabeça.
PEEK: Mas, senhor, é costume no seu país permitirem que um criado fique a par dos vossos assuntos privados?
ENXAQUECA: Sim, depende do criado e dos assuntos. De uma forma geral, uma pessoa não deve ter vergonha da sua conduta. Qual a qualidade dos criados na América? Em comparação com os franceses?
Era de mim que falavam, uma coisa involuntária, soprada como uma semente ou uma pena dos palácios de Paris para as regiões selváticas da Terra.
PEEK: Oh, em geral muito fraca, diria, mas, pela parte que me toca, hesitaria em partilhar os meus sentimentos mais profundos com um dependente de qualquer tipo.
ENXAQUECA: Para nós isso não é diferente de sermos vestidos por um deles.
PEEK: Vestidos, senhor?
ENXAQUECA: Não é um costume vosso?
PEEK: Ficar nu? Senhor, eu nem me apresentaria nu à minha mulher.
ENXAQUECA: Com um criado não lhe chamamos estar nu.
PEEK: Então como lhe chamam?
ENXAQUECA: Chamamos-lhe vestirmo-nos.»
Peter Carey, Parrot e Olivier na América, Gradiva.