sábado, 10 de dezembro de 2011

Ao sábado: momento quase filosófico

Os limites do tempo são ultrapassáveis

Uma história judia conta que um homem de certa idade, que se sentia muito cansado, marcou consulta num médico de renome.
O médico mediu-lhe a tensão, examinou-lhe o fundo dos olhos, os pulmões, a garganta. Mandou-o fazer um electrocardiograma, um encefalograma, diferentes testes e análises. Quando foram conhecidos os resultados das análises, o médico chamou o paciente, verificou certos pormenores, escreveu durante um bom quarto de hora e finalmente disse o seguinte:
— Escrevi tudo aqui. A partir de hoje, o senhor vai deixar de fumar e não bebe nem mais uma gota de álcool, sob pretexto nenhum. Vai suprimir o açúcar e todas as gorduras, até o óleo de girassol. Vai eliminar igualmente as batatas, o feijão e todas as féculas em geral. Abster-se-á de fazer amor. Tem aqui o que pode comer: saladas e peras cozidas, sem tempero, nabos cozidos em vapor, maçãs assadas, naturalmente sem açúcar, e duas vezes por semana cem gramas de carne grelhada. Uma vez por semana tem direito a um iogurte natural e um pouco de peixe cozido, sem azeite nem manteiga. Se não seguir as minhas instruções, restam-lhe três meses.
— E se as seguir posso ter esperança de viver mais tempo?
— Por certo que não — disse o médico. — Mas o tempo parecer-lhe-á mais longo.
In Jean-Claude Carrière, Tertúlia de Mentirosos, Teorema