segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Comentário de segunda

Li que o nosso ministro da Economia «convocou a nata da comunidade empresarial para dois encontros». A referida nata é constituída pelos 50 maiores empresários, «que vão indicar as 10 medidas mais urgentes para relançar a economia» (Expresso - Economia, 19/11/11). 
A minha perplexidade é a seguinte: foi esta «nata», numa empenhada parceria com a «nata» do PS de Sócrates, que conduziu o país à situação que actualmente vivemos; não compreendo, por isso, que contributo positivo o ministro da Economia espera que essa «nata» preste ao país, no relançamento da economia. 
Foi esta nata que afundou a nossa economia. Foi esta nata que se endividou e endividou o país até à medula. A dívida privada é, como se sabe, muito superior à dívida pública, e, se o exagero dessa dívida não é da responsabilidade das famílias — como vários estudos o têm demonstrado, com clareza —, ela é da responsabilidade das empresas (e dos bancos, que sem critério competente a permitiram). Que rendibilidade produziram os empréstimos, supostamente contraídos para investimento nas empresas? Para onde foi esse dinheiro? Foi mal aplicado e/ou foi mal gerido? Seja qual for a resposta, a responsabilidade do desastre é desta «nata» empresarial — não é certamente dos profissionais que são dirigidos por essa «nata»; esses profissionais, esses trabalhadores, quando mudam de país e são dirigidos por outro género de empresários tornam-se co-responsáveis pela obtenção de excelentes resultados. O problema está pois na nossa «nata» empresarial, precisamente aquela que foi convidada pelo ministro da Economia para lhe dar conselhos.
É verdade que «nata» também é sinónimo de gordura — talvez seja este o verdadeiro significado do termo, quando aplicado aos nossos empresários.

Durante a semana passada, foi dado relevo noticioso a um estudo da Universidade do Minho sobre os resultados da reforma da Segurança Social, operada por Sócrates e Vieira da Silva. Apesar de não constituir uma novidade, foi enfatizado o facto de, dentro de vinte a trinta anos, as reformas ficarem reduzidas a cerca de 60% do salário. Isto é, milhares de pensionistas deixarão de ter condições para usufruir de uma vida digna.
Em 2007, quando esta reforma foi realizada, algumas vozes (poucas) alertaram para esta situação, mas, na altura, como prevalecia sobre tudo e sobre todos a tirania das mentiras de Sócrates, o que foi profusa e descaradamente propagandeado foi que o governo tinha conseguido dar sustentabilidade à Segurança Social. Na realidade deu, porque não pagando reformas a Segurança Social não pode falir, mas onde esteve e onde está o mérito disso, se o resultado é a miserabilização dos pensionistas?
O empobrecimento que Coelho agora preconiza como remédio para o país é apenas o aprofundamento da política iniciada por Sócrates.