segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Comentário de segunda

1. Em final do mês de Outubro, todos ouvimos Passos Coelho afirmar que era preciso fazer ajustamentos ao memorando assinado com a troika, porque não havia dinheiro para financiar as empresas públicas. Explicou que esse aspecto não tinha sido previsto no acordo assinado, o que tornava inevitável que, durante o mês de Novembro, fossem feitos ajustamentos ao memorando.
Há três dias, o presidente do Eurogrupo, Jean Claude Juncker, veio a Portugal. Durante a visita, disse aos jornalistas, com absoluta clareza e sem margem para dúvidas: «Não podem existir ajustamentos ao memorando nem haverá mais dinheiro para Portugal».
Horas depois, Passos Coelho, com o mesmo facies e com o mesmo à-vontade com que tinha feito as declarações em Outubro, informou-nos: «nem pensar em fazer ajustamentos e menos ainda pensar em pedir mais dinheiro.»
Não conheço nenhum político que chegue aos tornozelos de Passos Coelho, em matéria de dizer e desdizer. Não tenho memória de ter encontrado, em trinta e sete anos de democracia, um político que conseguisse afirmar um coisa e o seu contrário, com tanta naturalidade e em tão curtos espaços de tempo, como Passos Coelho, recorrentemente, o faz — nem Otelo Saraiva de Carvalho, nos tempos áureos do PREC, conseguia ser tão rápido a mudar de ideias (isso acontecia, principalmente, quando regressava de uma viagem ao estrangeiro...).
Não consigo imaginar o que Passos Coelho pensa de si próprio nem como se auto-observa, enquanto protagonista de discursos com conteúdos objectivamente contraditórios, é que em menos de seis meses, Coelho bateu os recordes que havia para bater neste domínio. Quando se observa ao espelho, quem é que ele vê: vê o Passos que falou hoje, ou o que falou ontem, ou o que falou há dois dias, ou o que falou há três semanas?
É este jovem sem identidade (ou com excesso de identidades) que pretende tirar o país da crise?
Pobre Portugal, que não consegue encontrar líderes minimamente equilibrados.

2. Ouvi da boca de uma ministra deste Governo uma afirmação verdadeira: «Os portugueses têm razão para duvidar da Justiça». Foi a ministra da pasta que o disse.