quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Às quartas

COMPANHEIRA

Não temas
Quanto não perdi para sempre
Sequer conheci ou sonhei
Para te poder reconhecer
E ao lembrar-me que eras sonhada
Rasguei todos os papéis onde rabisquei
Cavalguei seres alados na planície interior
Acelerei a alma enquanto houve alimento
E ar

E pão
E estrelas
Alimentava-me da doce memória de que existirias
Naquela cabana à beira do riacho
Que dividia a província distante
Já o comboio silvava perto do apeadeiro
No sopé das montanhas
Na mais alta estavam os pais
Abraçados à bandeira eterna
Dos resistentes ao invasor
Sabemos que oferecemos flores silvestres
Enquanto as balas estilhaçavam urzes
E todos os arbustos das encostas
Morreríamos abraçados nessa noite
Era quase alvorada
Não o sabíamos

Pois todos os galos haviam morrido

Álvaro José Ferreira Gomes