quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Às quartas

A FLAUTA DO PASTOR

Doce febre de flores agitadas pelo vento,
Ei-lo que chega. Plantas, de novo vos inclinais
Na esteira do ébrio sul e do verão fugitivo.
Depressa, louva o mundo numa canção.
Pune o dia por causa da carne ingrata
Que devolve ao sol uma sombra
E arruína a canção. Dá ao homem solitário
Um pássaro. Sob os céus vazios
Os falcoeiros choram. Traz de volta à lenda
Os fantasmas das colinas.
Que todos os sentidos se juntem numa canção
Para que não percam a frescura
Na noite do corpo. Que haja
Perda e de esfume o visível para que a memória
Possa reinar inquestionável. Depressa, canta a repetição eterna
E engana a infelicidade.
Abre as portas da cidade, seduz o pássaro.
Sob os céus vazios os falcoeiros choram.

Branko Miljkovic
(Trad.: José Alberto Oliveira)