terça-feira, 18 de outubro de 2011

Arrependimentos de direita

Charles Moore tem 55 anos e foi chefe de redacção do semanário The Spectador e do diário The Daily Telegraph, dois marcos da imprensa conservadora britânica, onde continua a ter uma crónica. Excerto de uma crónica sua recente:
«Precisei de mais de 30 anos de jornalismo para me colocar esta questão, mas já não posso iludi-la mais: a esquerda terá razão, ao fim e ao cabo? Um dos principais argumentos da esquerda, como se sabe, é que aquilo a que a direita chama "mercado livre" é de facto um golpe encenado.
Os ricos dirigem um sistema mundial que lhes permite acumular capital e pagar o trabalho pelo menor preço possível. São os únicos a beneficiar da liberdade que daí decorre. A maioria deve contentar-se com trabalhar ainda mais, em condições cada vez mais precárias, para enriquecer uma minoria. O sistema democrático, que visa enriquecer o maior número de pessoas, foi de facto confiscado por estes banqueiros, barões da imprensa e outros magnatas, que governam e possuem tudo.»
Frank Schirrmacher tem 52 anos e é jornalista e ensaísta. Dirigiu uma revista literária antes de, em 1994, pegar nas rédeas das páginas de cultura do Frankfurter Allgemeine Zeitung, diário conservador de referência além-Reno. Excerto de um recente artigo seu:
«Sob pretexto da realpolitik e do pragmatismo, a direita esconde mal um vazio abissal. Alegar que não é ela a única a cometer erros não desculpa nada e não passa de um meio para mascarar o seu desconforto Mas não se trata apenas de saber se a acção política que hoje desenvolve é boa ou má. O importante é que a prática demonstrou não apenas que se encaminha para um beco, mas também — que surpresa! — que as críticas dos seus piores adversários de sempre são fundadas.»
In Courrier Internacional (Outubro/2011)