sábado, 1 de outubro de 2011

Ao sábado: momento quase filosófico

Uma magnífica parábola, do poeta persa Farid-Ud-Din Attar, autor de A Conferência dos Pássaros.

Uma noite as borboletas reuniram-se, atormentadas pelo desejo de se unirem à vela. Uma primeira borboleta foi até ao castelo distante e viu no interior a luz de uma vela. Voltou, contou precisamente o que tinha visto. Mas a sábia borboleta que presidia à reunião disse que aquilo não lhes adiantava nada.
Uma segunda borboleta penetrou no castelo e foi mais perto da vela. Voou em seu redor, tocou até a chama com as suas asas. Voltou, com as asas queimadas, e contou a sua viagem.
Mas a borboleta sábia disse-lhe:
— A tua explicação também não é exacta.
Então levantou-se uma terceira borboleta, ébria de amor. Penetrou no castelo, pousou no rebordo de um castiçal, depois ergueu-se nas patas traseiras e atirou-se violentamente sobre a chama. Os seus membros ficaram vermelhos como o fogo. Identificou-se com a chama.
Então a borboleta sábia — que tinha estado a ver de longe — disse às outras:
— Aprendeu o que queria saber. Mas só ela o compreendeu, e é tudo.
Jean-Claude Carrière, Tertúlia de Mentirosos, Teorema [adaptado].