quinta-feira, 14 de julho de 2011

Nacos

«E as gargalhadas eram gerais. Uma espécie de capa de gargalhadas se erguia naquele espaço oblongo, como se os polícias toureassem a morte com a capa. Nem todos, claro está. Alguns, nas mesas mais distantes, emborcavam os seus ovos com chile, ou os seus ovos com carne, ou os seus ovos com feijão em silêncio, ou a falar entre si, das suas coisas, isolados dos restantes. Era como se disséssemos que tomavam o pequeno-almoço com os cotovelo apoiados na angústia e na dúvida. Apoiados no essencial que não não leva a parte alguma. Hirtos de sono: quer dizer, de costas para os risos propugnavam outro sono. Pelo contrário, apoiados nas pontas do balcão, outros bebiam sem nada dizer, apenas a olhar para a agitação, ou a murmurar mas que conversa de merda, ou sem nada murmurar, simplesmente fixando na retina os polícias desonestos e os inspectores.»
Roberto Bolaño, 2666, p. 636.