sexta-feira, 1 de julho de 2011

Trechos - Tony Judt

«A maioria dos críticos da nossa condição actual começa pelas instituições. Olham para os parlamentos, senados, presidentes, eleições e grupos de pressão e assinalam as formas como todas se degradaram ou abusaram da confiança e autoridade que lhes foi concedida. Qualquer reforma, concluem, tem de começar por aqui. Precisamos de novas leis, regimes eleitorais diferentes, restrições aos grupos de pressão e ao financiamento político; temos [...] de descobrir maneiras de tornar os funcionários eleitos e não eleitos sensíveis e responsáveis perante os seus eleitores e patrões: nós.
É inteiramente verdade. Mas essas mudanças pairam no ar há décadas. Nesta altura devia ser claro que a razão por que não aconteceram, ou não funcionam, é porque são imaginadas, elaboradas e implementadas pelas mesmas pessoas responsáveis [pela situação em que vivemos]. Não faz grande sentido pedir ao Senado dos EUA que reforme os seus acordos de lobbyng: como observou Upton Sinclair, de modo célebre, há um século: "É difícil conseguir que um homem perceba uma coisa quando o seu salário depende de não percebê-la". Muito pelas mesmas razões, os parlamentares da maioria dos países europeus — agora encarados com sentimentos que vão do tédio ao desprezo — não estão em posição de encontrar em si mesmos os meios para voltar a ser relevantes.
Temos de começar noutro lado.»
Tony Judt, Um Tratado Sobre os Nossos Actuais Descontentamentos, pp. 160-161.