quarta-feira, 18 de maio de 2011

Oportunidades e indecências

A campanha eleitoral de Sócrates e do PS tornou-se, do ponto de vista polítco, uma indecência.
Há certamente algo de muito grave que, a todo o custo, Sócrates e o PS querem esconder dos portugueses. Só assim se compreende que ambos não olhem a meios para tentar impedir toda e qualquer  iniciativa que pretenda escrutinar alguns dos domínios da actividade governativa.
Há cerca de mês e meio, a recusa liminar de uma auditoria às contas públicas foi o primeiro sinal objectivo de que algo de grave existe e que está escondido. O medo de que essa auditoria se fizesse tornou claro que Sócrates e o PS não querem que a realidade seja conhecida. Se for verdade que quem não deve não teme, então, o temor a este propósito evidenciado por Sócrates e pelo PS fala por si.
Ontem, a recusa quase histérica de uma auditoria à qualidade das aprendizagens da Iniciativa Novas Oportunidades confirmou a suspeita de que algo de muito grave deve estar escondido nos meandros deste programa. Se a Iniciativa Novas Oportunidades é um oceano de virtudes, se é um mundo de qualidade, de seriedade e de rigor, de onde surge o temor? Por que razão ficam em pânico, quando se propõe essa medida? Não deveriam Sócrates e o PS revelar satisfação com a possibilidade de verem confirmada publicamente a excelência das Novas Oportunidades, por via de uma auditoria externa à qualidade das aprendizagens que lá se realizam?

Argumentam que essa auditoria está a ser feita.
Todos sabemos, porque foi amplamente publicitado, que uma equipa dirigida por Roberto Carneiro tem a função de proceder à avaliação externa da Iniciativa Novas Oportunidades (INO). Todavia, essa avaliação externa, estranhamente, ainda não contemplou a qualidade das aprendizagens realizadas. Acerca do relatório de avaliação de 2009, Roberto Carneiro disse de modo claro: "O nosso objectivo não é avaliar o rigor e a qualidade da INO. Avaliámos foi a percepção das pessoas sobre a INO". Portanto, acerca do mais importante, o relatório de 2009 disse nada. Aquilo que é determinante não foi avaliado, em 2009. 
E em 2010? O relatório de 2010 já nos dá alguma avaliação sobre essa matéria? 
O relatório abrange seis domínios. Onde, basicamente, se conclui o seguinte:
— a marca Novas Oportunidades é uma marca conhecida de muita gente (a novel moda dos experts do marketing e da gestão é tratar tudo pelo termo «marca»...);
— os adultos que já contactaram com a INO ficaram satisfeitos, nomeadamente com as equipas e com as instalações;
— o sistema RVCC é o mais procurado;
— a iniciativa continua a ter cada vez mais adesões e a opinião dos inscritos é muito favorável;
— os centros NO realizam auto-avaliação.

Até aqui, como se pode ver, a avaliação realizada nada diz acerca da qualidade das aprendizagens. Contudo, no meio deste cinco domínios, surge mais um, sintomaticamente o menos extenso, que aborda, de forma surpreendentemente sucinta e inexplicavelmente genérica, as aprendizagens e as competências. E o que ficámos a saber sobre a avaliação que foi feita nesta matéria? Ficámos a saber que houve uma melhoria das «soft-skills», mas que os verdadeiros ganhos registaram-se a nível do ler, do escrever, do comunicar oralmente e no uso do computador e da Internet. E pronto, a isto se resume a avaliação que existe sobre aprendizagens e competências!
Pergunto: é esta, então, a tal avaliação que, segundo Sócrates e Vieira da Silva, credibiliza a qualidade das aprendizagens realizadas nos cursos das Novas Oportunidades? É esta, então, a apregoada avaliação que assegura o bom trabalho realizado nas NO? Os milhares de alunos, a quem já foram entregues diplomas de 9.º e 12.º anos, obtiveram os seus principais ganhos apenas no ler, no escrever, no comunicar e na utilização do  computador?! É isto que se espera de um aluno que fica certificado com o 9.º ano? E com o 12.º ano é isto que se espera?! É esta a tal avaliação que sustenta a qualidade das NO??
De facto, não é o coxo aquele que é mais fácil de apanhar.

A indecência política é, pois, clara, a dois níveis.
A indecência revela-se a nível da utilização falaciosa de uma avaliação externa que ainda não avaliou o que é verdadeiramente importante avaliar, isto é, ainda não avaliou a qualidade das aprendizagens e das competências adquiridas na INO. E, portanto, neste domínio, ainda não deu nenhuma credibilização ao programa, ao invés do que diz Sócrates e o PS.
Pelo contrário, o pouquíssimo que esta avaliação afirma até indicia o contrário.
Mas a indecência revela-se também a outro nível: revela-se no despudor com que se tenta manipular eleitoralmente quem frequenta as Novas Oportunidades. Dizer-se, como Sócrates diz, que as críticas às NO são sinónimo de falta de respeito pelos alunos, que com esforço estudam à noite, é revelador de vil e inigualável hipocrisia. Para além de Sócrates ser destituído de autoridade moral para proferir acusações seja a quem for, o facto é que quem não respeita estes alunos são aqueles que lhes vendem a ilusão de que, pela via das NO, obterão uma formação e uma certificação de qualidade e de reconhecimento social comparáveis às que são obtidas pelos alunos do ensino regular.
Na caça ao voto não pode valer tudo. Mas, para Sócrates e para o PS, sempre valeu tudo e continua a valer tudo, mesmo que seja politicamente indecente.

P.S. Lamentavelmente, Sócrates, neste capítulo da manipulação eleitoral dos alunos das Novas Oportunidades, não está sozinho. Louçã, ontem, na televisão, não resistiu à tentação e quase foi uma réplica do líder do PS, na mesma demagogia eleitoral.